São gravíssimas
as notícias que o vapor Belém trouxe de Óbidos. Perturbou-se ali
a ordem pública, o lar do cidadão foi invadido, a vida da autoridade foi
ameaçada. Eis as informações que do acontecimento dá-nos uma testemunha ocular:
“Suscitou-se em a noite de 23 de setembro uma pequena rixa entre quatro praças de infantaria 11, de que um destacamento faz a guarnição daquela cidadela e alguns paisanos, entre os quais alguns portugueses, no lugar chamado Juretepáo [sic]. Da rixa saíram feridos uma praça do 11 e alguns paisanos. As autoridades civis procederam aos respectivos corpos de delito e instauraram o processo.
A guarnição da
fortaleza, sabendo no dia seguinte do conflito, resolveu desafrontar os seus
camaradas. Um troço de soldados armados de rifles, invadiu a cidade pôs cerco a
casa comercial dos senhores Souza Vieira & C., exigindo em latas gritas a
entrega do guarda livros da casa e de um operário, portugueses ambos, que
deviam ser imolados na desafronta dos brios daqueles heróis.
O promotor da
Comarca, o sr. Francisco Augusto d’Oliveira, que por acaso passava pelo teatro
do distúrbio, pôs em ação a sua influência, graças à qual conseguiu
dispersar-se o ajuntamento. Os soldados seguiram depois em grupos para
diferentes localidades, indo um deles atacar a olaria do súdito português
Manoel do Cabo, ataque que não levaram a efeito porque inda apareceu o sr.
Oliveira, que conseguiu dispersa-los.
Em seguida foi
outro grupo estacionar defronte da casa dos srs. Souza Vieira & C., a
vociferar ameaças, a tentar arrombar as portas da casa, que estavam fechadas.
Para que Óbidos não nadasse em sangue, tiveram as autoridades, obedecendo as
imposições da soldadesca, de prender alguns portugueses!
Não foi a
docilidade da autoridade capaz de pôr pêas [sic] ao desenfreamento da
soldadesca. Um outro troço de heróis atacou na Rua de Santa Anna o cidadão
português José Barroso de Bastos, espancou-o, feriu-o, e te-lo-ia morto se não
aparecesse o comandante do destacamento que a custo fez respeitar a sua
autoridade.
Estes
acontecimentos, por demais graves, mereceram a mais acurada atenção do sr.
Presidente da Província, que deu ontem ao saber destes sucessos as mais prontas
e enérgicas providências para que a população de Óbidos seja restituída à paz e
à tranquilidade, que lhas roubaram os mantenedores da ordem pública!
Ontem à noite (2
de outubro) seguiu para Óbidos o vapor Ycamiaba, com tropa para
render a que está ali destacada, e o comandante das Armas.
NOTA: Texto
extraído do jornal “Diário de Pernambuco” de 16 de outubro de 1871.
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