domingo, 8 de novembro de 2015

Artigo: A navegação no Baixo Amazonas em meados do século XIX

Por Pe. Sidney Augusto Canto
               
A história da navegação a vapor no Baixo Amazonas tem seu marco inicial em 1843 com o vapor de guerra Guapiassú, comandado pelo Capitão-Tenente da Armada Imperial, José Maria Nogueira. Vapor que saiu de Belém do Pará em 28 de julho e deu entrada no mesmo porto em 24 de setembro de 1843. O Guapiassú foi construído em North Wales (EUA), em 1841, por Rigby’s Hawarden, e tinha 108 pés de quilha, 20 ½ de boca, 11 ½ de pontal, e 115 de roda a roda, e demanda 7 ½ de água; é de dois engenhos, cada um da força de 35 cavalos: porém tem capacidade para uma máquina de mais força. As fornalhas foram feitas para carvão, e não para lenha; isso não serviu de empecilho para a viagem, onde se testaram vários tipos de lenha feitas de madeira nativa, bem como se estabeleceram os pontos principais onde os futuros vapores poderiam ser abastecidos por lenha.


Antes do Guapiassú subir as águas do rio Amazonas e aportar em suas principais vilas (entre elas Santarém) toda a navegação era feita por embarcações a remo ou a vela.  Algumas dessas embarcações demoravam cerca de um mês para realizar a viagem entre Belém e Santarém. O naturalista Henry Bates fala que, por conta da ausência de ventos favoráveis, uma viagem entre Santarém e Óbidos demorou cerca de uma semana, em idos de 1849.
Entre os anos de 1843 e 1853, fazendo uma breve pesquisa em meus arquivos, verificando a navegação existente entre Santarém e a Capital que servia tano ao comercio como ao transporte de passageiros pude encontrar algumas descrições dessas embarcações antes desconhecidas, que passo a listar abaixo:

Barcos: “Constâncio”, “Nova Diana”, “São Joaquim”, “6 de Março” (de Antônio Rodrigues dos Santos Almeida), “Santa Maria”, “São José Flor do Mar”, “Três Irmãos”, “Napoleão” (de João Gonçalves Corrêa) e “Triumpho”;
Canoas: “Conceição” (de José Antônio de Oliveira), “Nazareth” e “Cajuty”;
Cobertas: “Flor do Mar”, “Nova Inveja” (de Luiz Francisco Colares), “Nossa Senhora dos Prazeres” e “Mineira”;
Escunas: “Telemaco”, “Três Corações” (de José Antônio de Oliveira), “Ângela”, “13 de Março” e “Leoa” (consignada a Joaquim Pereira Sobral);
Iates: “Orestes”, “Dois Irmãos”, “Três Vencidos” e “Pensamento Feliz”;
Patacho: “Dois Corações”;
Vigilengas: “Ulisses”, “Conceição”, “Lua Nova”.

Em 1º de janeiro de 1853 iniciava a navegação comercial a vapor, para transporte de cargas e passageiros entre as cidades de Belém e Manaus. Se antes se gastava de 15 dias a um mês de navegação, de Belém a Santarém, esta agora podia ser feita em 3 dias. Essa revolução provocou um salto nos costumes e na vida do povo da nossa região. A comunicação e o comércio ganharam impulso. A borracha, o novo “ouro” comercial, podia ser transportada com maior rapidez, e assim se podia produzir mais, e se lucrar mais.
Isso favoreceu o desenvolvimento das duas capitais, agora ligadas pela navegação a vapor, bem como fez nascer ou fortificar as elites da cidade de Santarém e das vilas vizinhas, tocadas pelo “vapor”. Esta elite lutaria, nos anos seguintes, por melhorias na infraestrutura, na educação e no comércio, o que levaria à emancipação de suas vilas e ao fortalecimento da ideia de emancipação de uma nova província. Eram novos tempos, que surgiriam a partir desta nova tecnologia: a máquina a vapor.

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