Por Pe.
Sidney Augusto Canto
Um conflito acontecido em 1862
quase coloca em guerra as nações de Brasil e Peru. Para entender este impasse,
é bom lembrar que o Rio Amazonas, em toda a sua extensão no território
brasileiro, tinha navegação restrita somente a navios brasileiros. Em 1858, por
meio de um acordo entre o Peru e o Brasil, foi franqueada ao país vizinho a
navegação mercante, com a mesma franquia para com os navios brasileiros em
águas do Amazonas Peruano. No entanto, em outubro de 1862, dois navios de
guerra peruanos, o “Morona” e o “Pastaza” chegaram ao Pará quase que na
surdina. O Governo paraense, como medida, mandou aos dois navios que ficassem
no porto de Belém enquanto aguardava ordens imperiais sobre o que deveria ser
feito, pois entendia que a navegação do rio Amazonas não estava franqueada a
navios de guerra, como era o caso. O “Morona” desobedeceu e subiu o rio
Amazonas de volta ao Peru.
No dia 23 de outubro, em
Breves, o “Morona”, comprou lenha do senhor Francisco Honorato Vieira e na
manhã do dia seguinte partiu para Gurupá. O Governo Provincial mandou-lhe o
vapor “Belém” ao encalço do “Morona”. No dia 25 de outubro encontrou o navio
peruano fundeado em Gurupá e lhe passou as ordens da presidência da Província. As
mesmas foram desobedecidas. Em vista disso o “Belém” seguiu, à frente do vapor
peruano para a Fortaleza de Óbidos, lá chegando às 8h da manhã do dia 26 de
outubro. O comandante do navio paraense logo ordenou o desembarque da tropa e
do trem de guerra, encontrando a Fortaleza Pauxis em um estado lastimável.
Mesmo assim, a tropa armou o que havia na Fortaleza e armou uma bateria de
artilharia nas margens do rio, o vapor “Belém” subiu para Manaus. Se Óbidos não
retivesse o “Morona”, ele tentaria acordo com o governo do Amazonas para deter
o mesmo.
Por volta de uma hora da tarde
do mesmo dia 26, o “Morona” apontou no rio Amazonas. A fortaleza de Óbidos deu
dois tiros de canhão, com pólvora seca, um aviso para que o navio peruano se
detivesse. O mesmo não deu atenção ao aviso e colocou toda a força nas
máquinas, encostando o quanto podia na margem oposta a Óbidos. A tropa não teve
outra opção senão bombardear o navio. Foram dados oito tiros pela Fortaleza e
seis tiros pela bateria da margem. Por conta da distancia, o “Morona” foi
atingido por dois tiros, não sem revidar com cinco tiros e metralhar a tropa
brasileira. O “Morona” parou, um escaler foi baixado para vistoriar o casco do
navio, depois disso o comandante, mesmo com o casco avariado decidiu continuar a
subida do rio. Ao chegar em frente à Colônia Militar de Óbidos, na foz do rio
Trombetas, o “Morona” deu dois tiros de pólvora seca, como que a zombar da
artilharia do Forte de Óbidos por não ter conseguido impor obstáculo maior à
passagem do navio peruano.
A sorte, porém mudaria, pois às
18h45min do mesmo dia, o vapor “Manaus” encontrou o “Morona” encalhado no
baixio “Corococó”, distante cerca de três horas e meia de Óbidos. O navio foi
escoltado para Manaus afim de aguardar o desenrolar dos fatos. O “Pastaza” foi
encontrado no dia 28 de outubro, em Breves, fundeado em frente à casa do
espanhol José Maria Martins. Levado para Belém, em 31 de outubro, a 04 de
novembro seguiu para Caiena. Os jornais e o povo esperavam duas coisas: ou que
o Peru fizesse uma retratação pela ofensa ou que o Império do Brasil declarasse
guerra à República do Peru.
Logo começaram as negociações.
Entre os dias 8 e 10 de janeiro do ano seguinte (1863), o governo peruano,
através de seus diplomatas, pediam ao Império Brasileiro permitisse a volta dos
dois vapores peruanos a Belém, a fim de que esperasse ali o desenrolar das
negociações. Entre as condições impostas pelo governo brasileiro estavam as
seguintes: o reconhecimento, por parte do governo peruano, de que a atitude do
comandante do “Marona” foi ofensiva e irregular para com o governo brasileiro;
o pagamento de uma multa à alfandega, por não haverem os navios peruanos
preenchidos as formalidades fiscais; e por último e mais importante, o “Morona”
deveria fazer uma salva de tiros à Fortaleza de Óbidos, por haver o comandante
desrespeitado as intimações que lhe haviam sido feitas pelo governo provincial,
em Belém, em Gurupá e, por fim, em Óbidos, ondo o “Morona” havia resistido, com
suas balas, à soberania nacional.
Os protocolos diplomáticos
aconteceram na capital do Império nos dias 15 e 22 de janeiro de 1863, sendo um
acordo formal entre os dois países assinado a 24 de janeiro do mesmo ano. O
“Morona” foi rebocado até Belém, onde recebeu os reparos necessários. A 23 de
abril, oficialmente cessaram as hostilidades entre Brasil e Peru. Pelo acordo,
a navegação no rio Amazonas ficava franqueada aos dois países conforme os
protocolos estabelecidos. No dia 12 de junho o “Morona” deixou o porto de
Belém. Pouco depois seguiu também o “Pastaza”. Ao passar pela Fortaleza de
Óbidos, a 15 de junho, o “Morona” deu-lhe a salva de tiros cordiais, que foram
respondidas pela artilharia do Forte, selando assim a paz entre os dois países.
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