O texto a seguir foi escrito em agosto de
1868. É uma carta feita por um dos imigrantes norte-americanos que vieram para
Santarém, após a Guerra Civil Norte Americana. A vida e a situação de algumas
das famílias, que adotaram esta terra como sendo sua, são tratadas na missiva.
A colônia vivia tempos de adaptação aos trópicos. O jovem escritor propagandeia
aos seus compatriotas (a carta foi escrita originalmente em inglês e traduzida
para o português por jornais da capital) que Santarém prometia um futuro
brilhante para quem estivesse disposto a trabalhar, rebatendo a ideia de que as
coisas estavam em estado deplorável. É um raro e bonito documento do início da
colônia norte-americana em Santarém. Boa leitura!
“Caro
Senhor.
Tomo a liberdade
de escrever-vos, convencido de que vosso jornal inclina-se, o que é um ato de
caridade, a ajudar a nós infelizes sulistas a darmos publicidade aos apelos que
fazemos aos irmãos exilados. Supondo também que haveis de estimar ter notícias
nossas, distantes como estamos nas margens do Amazonas, quase fora do quadro da
civilização, sepultados nas longínquas regiões do Amazonas.
Os meios de
comunicação com o Rio de Janeiro e outros portos do Brasil ao Sul do Rio, são
tão escassos e incertos que poucas vezes procuramos dar aos nossos concidadãos
do Sul notícias a nosso respeito.
Além disso, as
notícias dessa parte do Brasil são-nos tão desfavoráveis, que julgamos felizes
comunicar-vos o quanto temos prosperado: não tem sido em grande escala, é
verdade, mas é suficiente e estamos contentes. Temos caminhado devagar, com
custo nos mantemos; mas não temos tido tempo para mais. Nós mesmos tivemos que
trabalhar, pois nenhum de nós tinha dinheiro preciso para alugar gente.
Como é natural,
não se podia esperar que homens não acostumados ao pesado trabalho corporal
pudessem, em poucos meses, preparar grandes plantações; tem-se feito o que
estava nas nossas forças.
Alguns vivem hoje
tão comodamente como viviam nos Estados Unidos antes da guerra. O dr. Pitts, do
Tenessee, por exemplo, tem uma excelente mesa e só compra carne seca.
No domingo
passado visitei-o. Estava bom e alegre, mas sua senhora não estava de todo
satisfeita, porque, segundo ela me disse, faziam sete semanas que ela não via
uma senhora americana.
O dr. tem batatas
doces, grande variedade de feijão e ervilhas, aboboras, milho verde, pepinos, e
apresentou-me um prato ao jantar de que gostei muito. Tem também abundância de
tomates e melancias. O seu jardim não é uma exceção, outros tem melhores.
O sr. Rhome no
engenho Taperinha tem sempre biscoitos, manteiga fresca e leite, e todas as
frutas dos trópicos para sobremesa.
Os srs. Vaughan,
Riker e Weatherly, estão também prosperando, suas plantações florescem e
prometem muito. O sr. Vaughan tem grande plantação de fumo e está preparando o
que já colheu para vender.
Apesar da bulha
que tem feito os colonos do major Hasting, por quase todos os vapores, saudamos
a chegada de novos amigos que vem para nossa colônia.
Não há muito
tempo que aqui chegaram o revdo. R. T. Hennington, o sr. B. Spurlock e o dr. S.
F. Stroope, cada um com sua família, acompanhados dos srs. P. Norman e John P.
Massey.
O sr. Hennington
é do Mississipi, o sr. Spurlock do Texas, o dr. Stroope do Arkansas, e os dois
jovens do Mississipi.
O sr. Hennington
comprou o estabelecimento do sr. Sparks, e fez ali sua residência.
O dr. Stroope
estabeleceu-se também dentro dos limites da colônia.
O juiz S. B
Mendenhall, do Alabama, com sua família são vizinhos do sr. Hennington e estão
muito satisfeitos. O juiz tem muita esperança na sua plantação de fumo, e creio
que tem razão para isso. Um filhinho dele levou à cidade há dias um carro
carregado de hortaliça e vendeu toda aos vapores.
O sr. E. S.
Wallase foi à cidade no sábado passado, com uma grande canoa carregada de milho
para vender, e contratou ainda a venda de 2.000 mãos do mesmo produto, que
ainda lhe restavam da safra do ano passado. Vendeu tudo, creio que a 320 réis a
mão de 50 espigas.
O algodão
americano produz bem aqui, mas nenhum de nós tem os meios necessários para
entrar em grande escala no seu cultivo.
Se algum
capitalista viesse para aqui, havia de ganhar dinheiro no cultivo do algodão. O
fumo desenvolve-se nestas regiões espantosamente, e neste mesmo ano, já nos vai
dar bom resultado.
O general
Dobbins, o coronel Menefee, o dr. Jones e família, o dr. Carter e família, e o
coronel Charles M. Broome, estão bem estabelecidos em Tapajós, a dois ou três
dias de viagem de Santarém.
O dr. Carter
disse-me que tinha uma árvore de algodão da América com 250 frutas. Este
algodão conserva a mesma altura que nos Estados Unidos, mas desenvolve-se com
mais esplendor do que lá. Estes senhores estão confortavelmente estabelecidos,
e creio que resolvidos a ficarem.
O sr. P. O.
Chaffier tem, segundo dizem, 15.000 plantas de fumo, das quais ele mesmo trata,
e que prometem dar-lhe um belo resultado.
Meu pai, o
capitão S. L. Mc. Gee comprou uma fazenda de açúcar perto da cidade do Pará.
Visitei-o há
pouco tempo e encontrei-o muito ocupado a destilar cachaça. Minha mãe e irmã
estavam muito satisfeitas e nada seria capaz hoje de induzi-las a voltar à mãe
pátria.
Na cidade residem
alguns americanos.
O revdo. Sr.
Harvey tem aqui uma escola e ensina inglês. É frequentada por 30 a 40 rapazes e
vai em progresso.
Estamos esperando
muitas pessoas dos Estados Unidos. Deve chegar a todo momento o capitão Matheus
de Mobile e muitos outros. A nossa colônia, desejamos que fique bem entendido,
não está decaída. Ao contrário, baqueou para levantar-se ainda mais
florescente. Assim o julgamos.
Estamos aqui, mas
não em deploráveis circunstâncias; folgaremos em saudar a chegada dos nossos
irmãos de infortúnio que quiserem visitar as nossas praias.
Até outra vez e
sou com respeito.
Jos. L. Mc. Gee”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário