segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O declínio do cacau e o aproveitamento da várzea – 1925


Ainda em 1919 o município de Santarém teve uma bonita safra de cacau: - 432.000 quilos foram exportados. Era o último arranco da lavoura cacaualista entre nós. Era a visita da morte.
Dai para cá foi um desastre.
Em 1922 apenas 168.894 quilos; no ano seguinte 68.838 e, finalmente, em 1924 a colheita atingiu a ridícula e quase inacreditável soma de 31.406 quilos.

Os cacauais dizimados pelas continuas e demoradas enchentes vão desaparecendo aos poucos deixando em seu lugar vastas clareiras a atestar a inutilidade do trabalho do homem ante os caprichos da natureza.
Um ou outro varzeiro tenta, ainda, levantar a sua riqueza abatida, fazendo replantas e organizando novos cacauais.
Esse esforço, porém, não será abalado?
Pelo que se vem verificando, a regra está invertida, relativamente ao movimento anual das aguas do Amazonas. As grandes enchentes eram exceções; hoje constituem exceções as enchentes pequenas.
Desse modo as plantas novas não podem resistir á invasão das águas e morrerão infalivelmente antes de alcançar o vigor necessário.
A solução de problemas é plantar cacauais nas terras firmes e aproveitar as restingas dos antigos cacauais na cultura de cereais de rápida germinação e colheita, como, por exemplo, o milho, o feijão e, sobre tudo, o arroz.
Tenho, para mim, que o Baixo Amazonas será brevemente o maior produtor de arroz do Estado do Pará.
Esses enormes trechos de terra boa e fecunda que permanecem cobertas d’água quatro ou cinco meses ao ano, podem e devem ser aproveitadas na cultura do arroz.
Porque os varzeiros não experimentam a violabilidade da ideia?
Continuarei...
TIO JOÃO.


NOTA: Publicado no jornal A Cidade, de 28 de fevereiro de 1925. O autor do blog, quando criança, ainda viu nossa várzea entre Santarém e Óbidos, tomada por plantações de milho, mandioca, melão, melancia, arroz, etc, durante o período da vazante do rio. Hoje só se vê quase mato.

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