quarta-feira, 17 de maio de 2017

Sobre um ataque quilombola no Baixo Amazonas – 1859

Nos princípios do mês passado (junho) partiu desta cidade (Santarém) com destino ao rio Madeira o sr. Jeronymo Bolli, italiano, sócio do sr. Agostinho Tonarelli, levando em sua canoa, de 3 a 4 contos de réis em vários artigos de negócios e algum dinheiro. Seguindo sua viagem, pelas imediações de Juruty lhe saíram 7 ou 8 negros, que se presume serem escravos aquilombados, os quais entrando dentro de sua canoa o assassinaram atrozmente a golpes de terçado, seriam 9 horas da noite do dia 23 daquele mês! A tripulação da canoa que se compunha de 5 pessoas, lançou-se na água e nadou para terra que estava próxima, recebendo um ainda alguns golpes, e assim escaparam à triste sorte de seu patrão.

Os negros apossaram-se da canoa com todo o seu carregamento, e nessa mesma noite desapareceram. A gente, que se achava em terra dentro em uma casa desabitada tratando de seu companheiro ferido, conseguiu transportar-se para a Vila de Faro, onde deu parte do lamentável sucesso, porém, infelizmente, a autoridade competente recebeu a notícia com o maior sangue frio possível, e providencias nenhuma deu a semelhante respeito, satisfazendo-se em reter as 4 pessoas que tinham escapado ao furor dos canibais, por 3 dias em custódia. Há dias passados chegaram a esta cidade estas 4 pessoas, deixando o outro a decidir em Faro; o sr. Tonarelli apresentou-as à polícia, onde se procedeu o auto de perguntas, e nos consta que declararam o que acabamos de referir, sem mais circunstâncias.
Lamentamos que a segurança individual e de propriedade esteja tão pouco garantida, e que o governo não promova todos os meios ao seu alcance para de uma vez por termo aos quilombos que, escondidos nos centros, dão guarida aos braços dos nossos lavradores, sem garantia e sem esperança de haver o produto do seu copioso suor. Desgraçadamente o Amazonas está em uma situação precária, porque além de sua lavoura definhar de dia em dia, de hora em hora, os poucos braços cativos que lhe restam se embrenham nos quilombos e riem-se das provações porque têm de passar os donos com a falta de seu serviço!!!
Este horrendo fato, revestido das mais graves circunstâncias, praticado pelo canibalismo da horda selvagem de negros mocambeiros que impunemente vivem nas brenhas à espreita de ocasião azada para fazerem vítimas e roubarem, não só a fazenda, como a preciosa existência de inocente, que vivem mercadejando fora dos povoados, merece a atenção do Exmo. Sr. Presidente da Província e do Sr. Dr. Chefe de Polícia, lançando suas vistas benéficas para o nosso estado de cousas, nos garanta com algumas medidas energéticas, que afugentarão sem dúvida a reprodução de tanto barbarismo.


NOTA: Publicado originalmente no jornal Monarquista Santareno de (?) de julho de 1859.

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