Por Symaco da
Costa
Em Alenquer, uma
cidadezinha perdida no interior do Estado do Pará, um dos seus antigos
Intendentes era alto comerciante. Sua casa vendia de tudo, vendia até MACUMBA,
já preparada. Se o cara queria casar-se com alguém que o detestava, já sabia,
procurava a “Estrela”, nome do estabelecimento do chefe do município. Se, ao
contrário, desejava livrar-se da mulher, recorria também à “Estrela”, onde
comprava o seu “despacho”, já preparadinho da silva...
O dono do
empório, vamos chama-lo de Silvino, tinha uma filha, a Lourdes, muito bonita, e
um caixeiro muito burro, o Benedito Fabiano das Rosas que, aliás, cheirava mal,
pois, dificilmente tomava banho. Quando o tomava, todo mundo sabia...
Como em toda
parte há sempre um gajo esperto alegre... não seria, portanto, Alenquer que
deixaria de tê-lo. Antônio Humberto Batista de Carvalho, o Carvalhinho das
meninas, descobriu que o Rosas não era apenas burro: era burríssimo... Então começou
a fazer bilhetes em nome da garota do sr. Silvino, o dono da “Estrela”, dizendo-se
apaixonada pelo mocinho, e entregava-os pessoalmente ao Rosas. Nos tais
escritos, porém, havia sempre os pedidos de latas de goiabada, biscoitos,
chocolates, perfumes, o diabo a quatro... E o empregado, mais alegre do que passarinho
em manhãs de sol, atendia os falsos reclamos. O Carvalhinho e demais
companheiros devoravam tudo... Era uma farra... Riam-se a não poder mais!
Um dia,
precisando de uma sineta, para colocar num ginete manhoso que se escondia no
mato para não trabalhar, o Carvalhinho escreveu mais algumas linhas. E mais uma
vez foi atendido, gostosamente. Oito dias depois, a Lourdes completou vinte
anos. Festa em casa do coronel Silvino. À noite, banda de música, toda gente
compareceu, até o sr. Vigário que, dada a sua avançada idade, pouco saía de
casa. Lá pelas tantas, o Rosas resolveu puxar uma conversinha com a Lourdes, já
que ela nem sequer olhava para ele. Desajeitado, tirando o lenço perfumado do
bolso, pigarreou e pediu à filha do patrão que fosse ao fundo do quintal. Moça
educada, apesar de desconfiada, foi. Lá, em meio à penumbra, travou-se então o
seguinte diálogo:
– A senhora não
está mais usando a bicha no pescoço, por quê?
– Que bicha?
– A sineta que a
senhora mandou pedir-me!
Pobre Rosas!
Nunca mais foi visto em parte alguma da cidade...
NOTA: Publicado
no “O Jornal”, edição 13.575, no ano de 1965.
Excelente! Rindo até 2018...
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