Todos estão no
conhecimento do que foi a grande enchente deste ano.
Os rios cresceram
tento que suas aguas em espumejante arrebentação, invadiram as várzeas e campos
de criação, tentando tragar tudo com a sua força descomunal.
A fúria
destruidora das águas somente é contida pelas defesas naturais dos terrenos,
como sejam, os planaltos e os morros.
Infelizmente,
porém, nem todos os criadores possuem as chamadas terras altas, para resguardo
do seu gado vacum, dos seus cavalos, dos seus porcos.
Daí os grandes e
inevitáveis prejuízos causados pelas enchentes.
Criadores há,
que perderam tudo, como gado, currais, criação e até as barracas ficaram
inutilizadas.
Causa tristeza o
espetáculo desolador que se depara em certas fazendas que antes eram prósperas
e das quais agora unicamente restam os vestígios daquela prosperidade.
Quem tinha mil
ficou com cem e quem tinha cem ficou com dez.
A arrogância
espetacular da enchente destruiu tudo que estava ao seu alcance. Água e terra
mediram forças sob os olhares estarrecidos e desolados dos fazendeiros
criadores que nada podiam fazer, para enfrentar o tumultuar incessante do líquido
elemento.
Diante de tanto
prejuízos, de tamanha calamidade, há agora grande dificuldade para os
marchantes em conseguirem gado para o abastecimento da cidade. Não é somente a
dificuldade em conseguir gado, é que, o pouco que há, custa altos preços. Os
criadores não querem dispor das poucas reses que lhe restaram.
Em vista disso,
os marchantes procuraram o sr. Prefeito Municipal, expuseram a situação e
solicitaram permissão para elevar o preço do quilo da carne verde no mercado,
para seis cruzeiros.
O sr. Prefeito,
conhecedor do assunto, estando a par da situação angustiosa dos nossos
criadores e fazendeiros, permitiu que provisoriamente, isto é, que enquanto
perdurarem as dificuldades já sabidas a carne seria vendida a seis cruzeiros o
quilo e tão logo a situação se normalize, essa permissão será anulada.
Cabe aos poderes
públicos se movimentarem em auxilio dos criadores e também do povo, de vez que
pior será se o povo ficar sem o seu principal alimento que é a carne. As
autoridades não poderão obrigar os fazendeiros e criadores a vender o seu gado
com prejuízo, aumentando as dificuldades dessa classe que acaba de lutar com
uma enchente calamitosa e horrível.
O povo sensato e
ordeiro deve compreender a situação em que ficaram os criadores arcando com
prejuízos quase totais, sendo forçados por isso a exigirem um preço maior pelo
seu gado, o que vem consequentemente forçar o aumento do quilo da carne no
mercado, o que será apenas de um cruzeiro em cada quilo.
Felizmente a
grande enchente passou e estamos certos de que os nossos caboclos, apesar dos
prejuízos que a calamidade da enchente lhes trouxe, com o seu espirito de
desprezo a tudo que se oponha aos seus ideais e anseios, vencerá, com o esforço
e a tenacidade característica do seu patriotismo e de sua coragem indômita.
NOTA: Publicado
no Jornal de Santarém de 06 de agosto de 1949.
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