segunda-feira, 16 de julho de 2018

Carta de Dom Frei Caetano Brandão ao pároco de Óbidos – 1787


Ao padre Pedro José Ribeiro

Recebo a sua carta e com ela a gostosa satisfação de ver que os moradores dessa Vila têm abraçado com tanto fervor, e devoção o saudável Instituto para que os convidei pela minha Pastoral, tudo isso atribuo em grande parte ao zelo ilustrado com que Vm. (1) sabe ensinar-lhes as verdadeiras ideias de probidade Cristã, que devendo forma-se sobre o Evangelho, única regra dos nossos procedimentos, não pode reputar estranha uma das obrigações que ele prescreve aos seus seguidores.

Mas tendo aprendido da experiência que a grande dificuldade não consiste tanto em lançar à terra esta espécie de semente, nem ainda fazer que ela pegue, como em promover o seu aumento, o que debalde se pretenderia conseguir, menos que não seja por uma série de cuidados repetidos, e da mais generosa constância: este o motivo porque recomendo a Vm. se não entregue agora a uma repreensível ociosidade, julgando que tem feito tudo; mas que trabalhe por afervorar os espíritos explicando-lhes as grandes utilidades da esmola, a sua eficácia em apagar os pecados, e atrair sobre nós as Misericórdias do Senhor; insista em persuadir-lhes a obrigação que tem de repartir com os Pobres os bens de que são meros depositários; obrigação tanto mais considerável, quanto é mais severo e rigoroso o castigo com que J. C. ameaça os refratários, não deixando nunca de aproveitar todos os meios, que inspira a prudência humana, como são, por exemplo, propor-lhes os lances da generosidade de outras pessoas, ainda que em muito desiguais circunstâncias (artifício de que se não envergonhava o grande Apóstolo quando queria mover os Fiéis à pratica desta virtude), louvar os que os imitam: sofrer com igualdade de ânimo as críticas, as censuras, e ainda as calúnias, e todo o gênero de oposições inseparáveis da obra de Deus, e que fizeram sempre a partilha mais ordinárias dos que se empregaram nela: e não digo somente sofrer, mas ainda desculpar esta irregularidades do espírito humano atribuindo-as não tanto à malícia, como à cegueira, que os impede de formar uma justa ideia de que só é digno da nobreza do nosso coração.
Não se descuide Vm. de formar a Mesa juntamente com algum dos sujeitos mais capazes e beneméritos da Vila; já que o Comandante não existe agora nela, mas ficando advertido, que não devem eleger outro Perfeito, pois pede a razão que sempre o sejam os Comandantes, e Diretores: feita a Eleição, venha para eu a confirmar. Já encomendei os Livros, e as medalhas, quando não cheguem a tempo de irem por este portador, terei cuidado de os remeter na primeira ocasião favorável. A Pastoral, depois de ser copiada, Vm. a remeterá ao Vigário de Faro, para quem leva o portador carta minha.
Se se terá Vm. esquecido das instruções, que lhe dei relativamente a Ofício Pastoral, se fará Práticas ao povo nos Domingos, e Dias Santos, o Catecismo aos meninos diariamente? Se promoverá a frequência aos Sacramentos, os louváveis exercícios da Oração, e do Terço cantado pelas ruas: numa palavra, se trabalhará eficazmente por desempenhar o nome de Pároco, este nome tão temível, a todos os que conhecem os seus deveres?
Quero-me persuadir que Vm. não tem degenerado, que a constar-me outra coisa, desejo que saiba a nova resolução do meu ânimo, que é de fazer guerra a todos os maus Párocos; mas aqueles, que eu ordenei há de ser guerra de sangue, e de fogo, porque enfim tem outros motivos que os devem obrigar. Não espero para isto mais do que ter com que possa substituir os seus lugares; então os farei vir para esta Cidade, a fim de frequentarem as Aulas de Moral, e aprenderem o que infelizmente ignoram.
Pará, 03 de julho de 1787.
+ Caetano, Bispo.

NOTAS: (1) Abreviatura para Vossa mercê.


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