Ao padre Pedro
José Ribeiro
Recebo a sua
carta e com ela a gostosa satisfação de ver que os moradores dessa Vila têm
abraçado com tanto fervor, e devoção o saudável Instituto para que os convidei
pela minha Pastoral, tudo isso atribuo em grande parte ao zelo ilustrado com
que Vm. (1) sabe ensinar-lhes as verdadeiras ideias de probidade Cristã, que
devendo forma-se sobre o Evangelho, única regra dos nossos procedimentos, não
pode reputar estranha uma das obrigações que ele prescreve aos seus seguidores.
Mas tendo
aprendido da experiência que a grande dificuldade não consiste tanto em lançar
à terra esta espécie de semente, nem ainda fazer que ela pegue, como em
promover o seu aumento, o que debalde se pretenderia conseguir, menos que não
seja por uma série de cuidados repetidos, e da mais generosa constância: este o
motivo porque recomendo a Vm. se não entregue agora a uma repreensível
ociosidade, julgando que tem feito tudo; mas que trabalhe por afervorar os
espíritos explicando-lhes as grandes utilidades da esmola, a sua eficácia em
apagar os pecados, e atrair sobre nós as Misericórdias do Senhor; insista em
persuadir-lhes a obrigação que tem de repartir com os Pobres os bens de que são
meros depositários; obrigação tanto mais considerável, quanto é mais severo e
rigoroso o castigo com que J. C. ameaça os refratários, não deixando nunca de
aproveitar todos os meios, que inspira a prudência humana, como são, por
exemplo, propor-lhes os lances da generosidade de outras pessoas, ainda que em
muito desiguais circunstâncias (artifício de que se não envergonhava o grande Apóstolo
quando queria mover os Fiéis à pratica desta virtude), louvar os que os imitam:
sofrer com igualdade de ânimo as críticas, as censuras, e ainda as calúnias, e
todo o gênero de oposições inseparáveis da obra de Deus, e que fizeram sempre a
partilha mais ordinárias dos que se empregaram nela: e não digo somente sofrer,
mas ainda desculpar esta irregularidades do espírito humano atribuindo-as não
tanto à malícia, como à cegueira, que os impede de formar uma justa ideia de
que só é digno da nobreza do nosso coração.
Não se descuide
Vm. de formar a Mesa juntamente com algum dos sujeitos mais capazes e
beneméritos da Vila; já que o Comandante não existe agora nela, mas ficando
advertido, que não devem eleger outro Perfeito, pois pede a razão que sempre o
sejam os Comandantes, e Diretores: feita a Eleição, venha para eu a confirmar. Já
encomendei os Livros, e as medalhas, quando não cheguem a tempo de irem por
este portador, terei cuidado de os remeter na primeira ocasião favorável. A
Pastoral, depois de ser copiada, Vm. a remeterá ao Vigário de Faro, para quem
leva o portador carta minha.
Se se terá Vm.
esquecido das instruções, que lhe dei relativamente a Ofício Pastoral, se fará Práticas
ao povo nos Domingos, e Dias Santos, o Catecismo aos meninos diariamente? Se
promoverá a frequência aos Sacramentos, os louváveis exercícios da Oração, e do
Terço cantado pelas ruas: numa palavra, se trabalhará eficazmente por
desempenhar o nome de Pároco, este nome tão temível, a todos os que conhecem os
seus deveres?
Quero-me
persuadir que Vm. não tem degenerado, que a constar-me outra coisa, desejo que
saiba a nova resolução do meu ânimo, que é de fazer guerra a todos os maus
Párocos; mas aqueles, que eu ordenei há de ser guerra de sangue, e de fogo,
porque enfim tem outros motivos que os devem obrigar. Não espero para isto mais
do que ter com que possa substituir os seus lugares; então os farei vir para
esta Cidade, a fim de frequentarem as Aulas de Moral, e aprenderem o que
infelizmente ignoram.
Pará, 03 de
julho de 1787.
+ Caetano,
Bispo.
NOTAS: (1)
Abreviatura para Vossa mercê.
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