Uma das obras,
em que o governo emprega a sua maior atenção, é a das fortificações da cidade
de Óbidos, na Província do Pará, e na margem esquerda do rio Amazonas. Foi esse
o ponto o escolhido, como a chave das comunicações fluviais entre o Alto e
Baixo Amazonas, e único prestável para impedir o passo à subida ou à descida,
por ser onde o grande rio mais se estreita, tendo apenas aí 870 braças de uma a
outra margem. Querendo saber ao certo o estado daquelas obras acerca de seu
andamento, sua segurança e proficiência, o que se tem feito e despendido com
elas, e se a obra feita corresponde à despesa verificada, nomeou o governo uma
comissão especial para inspecionar as ditas obras, e agora acaba de ser-lhe
apresentado o relatório dessa comissão.
Segundo o
respectivo parecer, o ponto em que se está construindo o Forte Principal, na
fralda e escarpa do morro da cidade, foi convenientemente escolhido, podendo
ele cruzar vantajosamente os seus fogos com o de um outro indispensável, e
projetado na margem oposta.
O terreno,
porém, do primeiro é de má qualidade, consistente apenas no tempo enxuto, mas
sem coesão o eminentemente esbroavel [sic] no tempo das águas que,
consideravelmente, o saturam; para obviar esses inconvenientes, será preciso
recorrer aos meios aconselhados pela arte, o que trará maior dispêndio. Além do
Forte Principal da cidade, e do fronteiro na margem oposta (do rio Amazonas),
terão de fazer-se algumas obras assessórias para tornar eficaz todo o sistema
de fortificação ali projetado. Essas obras deverão ser nos morros da “Escama” e
da “Capela”, que ficam a cavaleiro daquele forte, e o dominam completamente;
devendo-se também fazer mais uma bateria ao lume d’água (1)
Segundo o
relatório da comissão, a despesa até agora feita com o dito forte é de cerca de
72 contos. Nesta despesa entra a construção de armazéns, quartéis e paiol, que
ainda alguns se não acham completamente acabados. No forte já há montada uma
bateria com 12 bocas de fogo em plataformas de alvenaria, superiormente
calçadas com lajedo.
Para a conclusão
da despesa do forte está orçada a quantia de 11:300$ (2); para a bateria ao
lume d’água 68:000$ (3); para a fortificação na margem fronteira 88:000$ (4); e
para outras diferentes obras assessórias, inclusive as dos morros da “Escama” e
da “Capela” 21:000$ (5). Haverá, pois, a despender, segundo os orçamentos,
188:000$ que, com os 72:000$ já despendidos, elevarão o total da despesa orçada
a 260:000$.
A falta de
operários muito tem concorrido para a morosidade destas obras, e notou a
comissão inspetora que era excessivo o pessoal da administração,
comparativamente ao número de operários efetivamente empregados, a esse
respeito o presidente da Província passava a dar as precisas providências e o
governo, pela sua parte, continuará a empregar todos os seus esforços para que
estas obras se concluam com a maior brevidade possível, e compatível com as
circunstâncias peculiares da Província, e, especialmente, com as da localidade
em que tais obras se estão executando.
NOTAS: Trecho
publicado no Relatório do Ministério da Guerra do Império de 1858.
(1) O “Forte
Principal”, cuja construção havia sido iniciada em 1854, ainda existe. Não foi
construído o forte na margem oposta do rio Amazonas, nem na serra da “Capela”.
O fortim ao lume d’água e uma bateria na serra da “Escama” foram construídos. O
fortim não existe mais, e a bateria está abandonada.
(2) Onze contos
e trezentos mil réis.
(3) Sessenta e
oito contos de réis.
(4) Oitenta e
oito contos de réis.
(5) Vinte e um
contos de réis.
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