O mais eloquente
testemunho que uma população pode dar de seu adiantamento moral e intelectual
nas sendas positivas do progresso, tal como o compreendem as idades hodiernas,
é incontestavelmente a espontânea e inequívoca demonstração do apreço em que
ela sabe ter àqueles que marcham a frente de suas instituições livres; e é
certo que uma manifestação nessas condições constitui por si só o mais belo
florão da coroa de louros com que as gerações agradecidas galardoam o mérito
dos invictos soldados do futuro.
À noite de 13 de
agosto último foi, na cidade de Santarém, assinalada por um desses fatos de que
ficará eterna lembrança e que, por seu grande alcance moral, honra tanto aquele
que dele foi alvo, quanto ilustra no conceito geral aos que o promoveram.
De uma
estrondosa e brilhante manifestação acaba de ser objeto o ilustrado senhor
padre Eutychio Pereira da Rocha, por ocasião de sua passagem por essa cidade.
Apenas aqui
ancorou o vapor “Javary” que trazia a seu bordo o ilustre delegado do grão-mestre
da maçonaria brasileira, em regresso à sede de sua sabia jurisdição, dois escaleres
atracaram logo ao vapor, levando cada um uma comissão de sete membros das duas
lojas maçônicas deste vale.
Chegadas à
presença do benemérito delegado, as duas comissões significaram-lhe da parte de
suas respectivas lojas, o desejo que tinham de merecer-lhe a honra de sua
visita: e o ilustre sr. Padre Eutychio, com aquela afabilidade e delicadeza que
lhe é tão peculiar, acedeu de bom grado a este convite e desembarcou, apesar de
seus incômodos de saúde e da hora adiantada da noite, sendo digna e
honrosamente recebido por imensa concorrência de povo e, na ocasião de seu
desembarque, queimaram-se vastas e inúmeras girandolas de foguetes em muitos
pontos da cidade, que para logo iluminou-se, tomando um aspecto festivo.
Dirigiu-se,
então, o ilustre visitante, sempre acompanhado do povo, à loja maçônica UNIÃO E
FIDELIDADE, onde os harmoniosos sons de uma banda de música, foi recebido com
as honras devidas à sua alta jerarquia e, no caráter de delegado, assistiu à
sessão magna extraordinária, expressamente convocada para recebe-lo e que
esteve muito concorrida.
Findas as
cerimônias do rito e depois de pronunciados eloquentes discursos
congratulatórios, foram os trabalhos de loja encerrados e o ilustre delegado
conduzido à sala dos banquetes onde, ao som de excelentes peças de música, lhe
foi servido um delicado e profuso “lunch”, durante o qual se trocaram honrosos
e significativos brindes, que foram encerrados pelo brinde de honra, levantado
ao infatigável e popularíssimo grão-mestre da maçonaria brasileira, Ganganelli,
a glória da pátria e o terror de quanto jesuíta há de sotaina e capa curta.
Acompanhado pela
respectiva comissão, maçons e grande número de pessoas do povo, seguiu daí o
benemérito delegado para o edifício onde funciona a outra loja maçônica, ABRIGO
DA HUMANIDADE, cujo templo visitou, dirigindo-se depois para a residência de um
irmão dessa loja, onde lhe foi servido um esplêndido copo d’água, abrilhantado
por uma concorrência escolhida.
Terminadas estas
demonstrações do mais alto apreço, da mais sincera estima ao venenando sr. Padre
Eutychio, reembarcou S.S. sob as ovações do imenso povo que o seguiu até o
litoral.
Os dois templos maçônicos,
que pertencem a ritos diferentes, estavam em verdade primorosamente adornados
de gala, e foram expostos ao público e assim estiveram nas três noites
seguintes, nos quais foram visitados por crescido número de senhoras e
cavalheiros.
Grata, bem grata
recordação, deve ter deixado ao venerando sr. Padre Eutychio a noite de 13 de
agosto, pois através dos pomposos aparatos de uma recepção estrondosa, lhe há
de ter ficado a certeza da gratidão de um povo irmão, que sabe apreciar os
serviços prestados à causa da civilização, que é também a causa das nossas
liberdades, por esse atleta que sabe compreender e praticar os grandiosos
preceitos evangélicos.
Honra, pois, ao
ilustre sr. Padre Eutychio que foi o caro objeto de tão significativos
festejos!
Honra ao povo
santareno, que soube elevar-se à altura onde se mantém os povos que compreendem
os seus deveres e os seus direitos!
Honra à
maçonaria brasileira, que à luz de seus belos e sublimes preceitos vai espancando
as trevas do obscurantismo, da hipocrisia e do fanatismo!
NOTA: Publicado
no Jornal O Santo Ofício, de Belém, sem indicação de mês e data, apenas do ano
1877.
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