segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Uma epidemia de febres em Santarém em 1860


No interior da Provincia, em algumas localidades, encommodos quazi epidêmicos hão grassado.
Não abandonei essas populações, enviando-lhes os soccorros que a medicina aconselha.
Em Maicá e Urumanduba, lugares proximos á Cidade de Santarem, manifestarão-se nos ultimos dias do mez de Fevereiro febres de um máu caracter. A respectiva Camara Municipal, com zelo e caridade exemplares, acudio a esses seus municipes.
Apenas chegou ao meu conhecimento a noticia d'este facto, enviei os medicamentos necessarios para ser o mal efficazmente combatido.

Quando no fim de Março visitei a Comarca de Santarem o mal ainda existia e obrigou-me a renovar as minhas primeiras recommendações e providencias.
No dia 16 de Abril proximo passado recebi communicação oficial de que a molestia tornara maiores proporções, achando-se já recolhidos á Cidade de Santarem cerca de 200 enfermos, e regulando os fallecimentos diarios de 4 a 5.
Não perdi tempo. Fiz partir para Santarem no mesmo (lia o Inspector da saude publica, Dr. Francisco da Silva Castro, para estudar e examinar o caracter da molestia, levando soccorros medicos e dietas, e autorisado a tomar quaesquer providencias, que as circunistancias aconselhassem e cujo adiamento não podesse ter lugar a espera de ordens especiaes minhas sem damno para os enfermos.
Para coadjuvar ao D. Castro mandei que descesse da Colonia Militar de Obidos o Dr. em medicina José Verissimo de Mattos. Dadas estas providencias aguardei noticias exactas a cerca da intensão e intensidade da molestia.
No dia 2 do corrente regressou o Dr. Castro de sua commissão, trazendo noticias mais satisfactorias a cerca da epidemia.
A infermidade foi qualificada de febres intermittentes de mau caracter produzida pelas pessimas condições hygienicas dos lugares.
Os doentes em nº. de 156 que havião sido recolhidos á Cidde de Santarem ficarão em convalescença.
Algumas providencias forão tomadas pelo Dr. Castro em execução das minhas ordens e outras ainda tomei eu de accordo com o referido Dr.
Hoje o espirito publico da Comarca está reanimado; e é de crer que tudo voltará ao seu primitivo estado dentro de pouco tempo.
Prevaleço-me d'esta opportunidade para manifestar o meu vivo reconhecimento pela dedicação, zelo e desinteresse com que o Dr. Francisco da Silva Castro, desempenhou a caridosa missão de que o encarreguei.
Não é esta a primeira vez que esse distincto Medico exerce, em gratuita commissão do Governo, a sua profissão, soccorrendo a humanidade soffredora.
A Camara Municipal de Santarem é tambem credora de elogios pela solicitude e interesse com que tratou os infelizes enfermos seus rnunicipes.
Reconheço esses serviços e agradeço-os.

NOTA: Texto extraído do Relatório do Presidente da Província do Pará, Antônio Coelho de Sá e Albuquerque, de 12 de maio de 1860.

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