terça-feira, 22 de setembro de 2020

A fundação de Gurupatuba ou Monte-Alegre, “Mirante do Amazonas”

Por Padre Serafim Leite

 

A Missão de Gurupatuba, no Rio e Aldeia dos Índios do mesmo nome, foi fundada pelos Padres da Companhia de Jesus, no lugar que é hoje Monte-Alegre.

Com esta notícia assim, escorreita e simples, se reforma o que anda geralmente escrito nos autores modernos, sobre o local e origem desta cidade galante.

A primeira catequese, em regra, da Aldeia de Gurupatuba, pode datar-se de 1657, quando por ali passaram os padres Francisco Veloso e Manuel Pires, “o clérigo de Paredes”, “sonhador de coisas futuras”... A Aldeia, naturalmente, já era conhecida antes dessa data, como escala das expedições militares ao sertão amazonense. Por ali passariam Pedro Teixeira, Costa Favela e outros capitães. Ali tocariam alguns sacerdotes seculares e regulares, como os Franciscanos e Mercedários espanhóis, que desceram de Quito. Ali estiveram os Jesuítas, que igualmente desceram de Quito, na volta de Pedro Teixeira, um dos quais, Cristovão de Acunha, cita expressamente Gurupatuba, como a última Aldeia de Índios, “que tem os portugueses a favor de sua Corôa”... Tudo isto, porém, é ainda Gurupatuba gentia, cuja origem se perde na indiscriminação dos tempos, alvores indecisos, de que vai emergir em 1657 com a catequese daqueles dois missionários que percorreram o Amazonas até o rio Negro.

Bettendorff, falando de Francisco Veloso, escreve que “por todo o caminho não fez o padre missionário senão doutrinar, levantar cruzes e batizar, em caso de suprema necessidade”. Não diz o cronista que Aldeias ficavam “por todo o caminho”. Mas uma delas era Gurupatuba, e todas as Aldeias do vale amazônico tinham sido confiadas aos Jesuítas, dois anos antes, ao voltar do Reino o Padre Antônio Vieira. A 08 de dezembro de 1657, dia de Nossa Senhora da Conceição, bem podiam estar ainda na Aldeia, Francisco Veloso e Manuel Pires, que a 5 desse mês ainda não haviam regressado ao Pará. Como a igreja de Gurupatuba se dedicou depois a Nossa Senhora da Conceição, por ordem ou confirmação de Bettendorff, aquele dia 08 de dezembro de 1657 marcaria a primeira data histórica, fundamental, na vida cristã e civilizada de Gurupatuba.

 

NOTA: Texto publicado no “Jornal do Comércio” de 31 de agoso de 1941.

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