Por Pe.
Sidney Augusto Canto
Como algumas
pessoas, inclusive alguns amigos da imprensa santarena, me pediram informações
sobre como era o carnaval no passado de nossa cidade, mergulhei em meus arquivos
para expor uma ideia das alegrias que marcaram os fevereiros (às vezes indo até
março) de nossa cidade.
O carnaval, em
Santarém, tem suas raízes, bem como o carnaval na Amazônia, no período que
antecede a Quaresma da Igreja Católica Apostólica Romana. Ainda no século XIX,
os festejos de Momo já faziam parte da vida da cidade, em uma mistura de
entrudo (português) com danças africanas. A participação africana nesta cultura
era tão forte que chamava a atenção dos líderes da polícia local, como se pode ver
no documento abaixo:
Antônio Joaquim Vianna,
Delegado de Polícia de Santarém, etc.
Faço saber para os fins
convenientes, que os bailes públicos carnavalescos não podem prolongarem-se
além da meia noite, ficando assim alterado o edital de 20 do mês passado, sob
pena de desobediência, além das mais em que por lei possam incorrer, devendo os
empresários ou donos estarem munidos da competente licença escrita, concedida
por esta delegacia, tendo sido previamente pago o selo e mais impostos a que
estiver sujeito. Outrossim devem impedir todo e qualquer ajuntamento, na rua,
de escravos e pessoas que possam perturbar a tranquilidade pública, incorrendo
na mesma multa.
Cidade de Santarém, 20
de fevereiro de 1886.
Eu, José Joaquim de
Moraes Sarmento, 2º escrivão do crime, que escrevi.
O Delegado, Antônio
Joaquim Vianna.
Assim, sabemos
que os bailes de carnaval eram praxe na cidade. Realizado principalmente pelas famílias
tradicionais de Santarém, em seus típicos casarões coloniais. Como os negros
não eram bem vistos em bailes nas casas dos brancos, faziam suas diversões em
reuniões fora da casa grande, em ruas ou outros espaços públicos. Daí a
proibição do edital acima.
Quanto aos bailes
momescos, animados por músicos locais, adentraram o século XX. Podemos constatar isso por meio de várias
notícias de jornais, como a que foi publicada no jornal "A Cidade",
de 21 de fevereiro de 1925, nos oferecendo detalhes de um "Baile de
Máscaras" que aconteceu no Casarão da Família Pinto Guimarães (Solar do
Barão de Santarém), conforme podemos ver no texto abaixo:
Realiza-se hoje à noite, no
confortável villino Pinto Guimarães, elegante "bal-masqué", em
homenagem à Momo. Dado o grande entusiasmo que reina entre a nossa mocidade
que, por especial deferência, dedica a noite de hoje aos elementos da "segunda
linha", é de se esperar que o baile de máscaras que se vai efetuar, marque
a nota chic da presente temporada.
Os salões onde se realizará a
promissora festa, receberam caprichosa decoração, pronunciando assinalar
desusado sucesso.
Sabemos que será exibido grande número
de fantasias representando costumes vários.
A orquesta, a "jazz band",
sob a competente direção dos professores José Agostinho e Raymundo Fona,
executará o seguinte programa:
ZÉ
PEREIRA
1ª
Parte
1 - Marcha: Quando me lembro
2 - Valsa: Papéis queimados
3 - Cateretê: Eu só quero é conhecer
4 - Fox-trot: Espera um pouco
5 - Samba: Casar é casaca
6 - Samba: Paixão Cabocla
7 - Rag-time: Vamos beijar, mas
assim...
8 - Fox-trot: O passado do camelo
9 - Tango argentino: Sombras
10 - Quadrilha: La boheme.
2ª
Parte
1 - Marcha: Valentões
2 - Samba: Não gosto mais de você
3 - Valsa: Segunda linha a postos
4 - Fox-trot: Some-sunny day
5 - Rag-time: Não é bem assim
6 - Valsa: Mensagem de amor
7 - Samba: C'os diabos!!!
8 - Fox-trot: Uma noite num taxi
9 - Cateretê: Fais Chorá
10 - Samba: As gargalhadas do
Palhaço.
Estão à frente desta festa os
senhores Heriberto Guimarães, Armênio Guimarães e Trajano Motta, os quais pedem
avisemos que a "matinée" infantil será levada a efeito à tarde de
amanhã, nos mesmos salões.
A "A Cidade" agradeçe
penhorada o convite que lhe foi endereçado.
Como se vê, nem
tudo girava em torno do samba, até a década de 1920, o samba ainda divia espaço
com valsas, fox-trots, catererês, rag-times e até tangos argentinos. E as ruas?
Não existiam ainda os famosos blocos. As ruas eram palco das batalhas de
entrudos, ou ainda do desfile de marujadas como o famoso "Cruzador
Tupi" que, antes de ser levado para o Sairé de Alter do Chão, era dançado
nas ruas do bairro da Aldeia juntamento com a Barca “Santa Cruz” por ocasião do
Carnaval.
Outro grupo que
percorria as ruas e casas da cidade era o grupo denominado “Grupo das Ciganas”,
formado por mulheres e meninas da elite santarena. Por fim, não podemos deixar
de registrar os bailes infantis promovidos por famílias locais, entre as quais
podemos destacar um famoso baile dos anos 1920, patrocinado pelo fotografo
Apolônio Fona (autor da foto que ilustra este artigo, tirada em 1930). Isso sem
contar os diversos bailes realizados por clubes que faziam sucesso naqueles
anos 1920. Mas algumas mudanças viriam a seguir...
NOTA: Continua
ainda neste mês.
Excelente!!!
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