quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Documentos Cabanos 01 - A Tomada de Ecuipiranga

O ofício a seguir, sobre a tomada do quartel cabano de Ecuipiranga foi escrito pelo Padre Antonio Sanches de Brito, fundador da Missão Mundurucu de Nossa Senhora da Saúde (atual Juruti Velho, no município de Juruti). A operação contou com a participação dos índios da citada tribo que lutaram contra os cabanos aquartelados em Ecuipiranga. Eis o texto:


Ilmo. Snr.
Passo agora a V. S. com o ofício em copia tudo quanto se passou relativamente ao destroço do grande Ponto de Ecuipiranga; em verdade os rebeldes não precisavam de armas de fogo para se defenderem e repelirem qualquer força mais aguerrida que fosse e só vendo se pode fazer uma ideia de como  perigoso e temerário foi o ataque; perdemos dos nossos sete e 88 feridos, destes só 4 mortais e da parte dos rebeldes só nas trincheiras cinco. Recolhendo-se a expedição que os havia em debandada acharam muitas sepulturas frescas pelas estradas, campos e casas, e pelo que se tem apresentado em número já excedente de 300 – entre homens, mulheres e negros, sabemos que foi grande o número de feridos; os negros conto 70 a 80 apresentados, alguns apanhados e outros mortos; pode o Amazonas contar-se restabelecido e por estes dias ficará todo o distrito de Villa Franca na antiga ordem, porque agora só trato de explicar medidas de os chamar pacificamente e toda esperança tenho de em breve fazer sair alguns rebeldes influentes para chamar os seus, contando já só de um Ponto 30 apresentados. Por ora não convém remeter estes e outros que estão presos para evitar desconfianças, o que farei depois, dando uma exata e um inventário de tudo que se tem achado e se for descobrindo, por que não admito presas, aplicando ao infrator 100 xipoadas (sic); fiquem, portanto, os Servos Tapajoenses certos que lhes hei de fiscalizar ainda os restos de seus trastes perdidos, dos quais já tenho bastantes.
Pelo Brigue Brasileiro remeti a V.S., um criminoso de nome Porfírio, bem assinalado nesta vila.
Deus guarde a V.S.
Ponto Queimado de Ecuipiranga, 15 de julho de 1837
(Ao) Ilmo. Sr. João Henrique de Mattos, Tenente Coronel Comandante Militar do Baixo Amazonas.

Antonio Manoel Sanches de Brito, Juiz de Paz”.

4 comentários:

  1. Muito interessante. A história é algo fascinante. Também observo pela linguística. Nos faz falta divulgar documentos com a linguagem utilizada nos documentos para ser equiparada com a atual.

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  2. Um grande achado, primeiro por ser documento raro da cabanagem e por ser escrito pelo fundador de Juruti. obrigada por nos proporcionar essa preciosa leitura.

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  3. Um grande achado, primeiro por ser documento raro da cabanagem e por ser escrito pelo fundador de Juruti. obrigada por nos proporcionar essa preciosa leitura.

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  4. Um grande achado, primeiro por ser documento raro da cabanagem e por ser escrito pelo fundador de Juruti. obrigada por nos proporcionar essa preciosa leitura.

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