quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Documentos Pombalinos: Instalação de novas Vilas e Paróquias

O documento abaixo é o Ofício do Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, datado de 04 de julho de 1758, relatando a viagem que fez de Belém(Pará) até a vila de Barcelos (Amazonas), ocasião em que elevou e instalou diversas vilas ao longo do Baixo Amazonas e Tapajós. O historiador Arthur Cezar Ferreira Reis diz existir versões diferentes deste ofício. O que hora é aqui publicado é a versão que se encontra no arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, que foi apontada pelo já citado historiador como a melhor fonte por ele pesquisada. Eis o texto:


Ilmo. Exmo. Sr.
A Vossa Excelência participei em carta de 18 de novembro do ano passado os indispensáveis motivos que concorriam para eu sair do Pará e vir a este Rio e convencendo-me interiormente que não podia deixar de fazer esta viagem dei princípio a ela no dia 16 de janeiro do presente ano e fazendo adiantar algumas canoas de transportes fui buscar a Vila de São José de Macapá para dar os últimos estabelecimentos àquela importante Povoação.
Fiz caminho para ela, pelas três Aldeias de Araticú, Guaricurú e Arucará, todas da administração da Companhia para as reduzir a Vilas na forma das ordens de Sua Majestade.
No dia 20 cheguei à primeira que logo erigi em Vila com o nome de Oeiras, levantando Pelourinho e fazendo eleição das Justiças na forma que o havia feito na Vila de Borba-a-Nova, que Sua Majestade foi devido aprovar.
No dia 23 cheguei à segunda e da mesma sorte foi erecta em Vila, impondo-lhe o nome de Melgaço.
A 24 erigi a terceira em Vila com o nome de Portel, de cuja povoação saí logo.
Continuando pois a minha viagem cheguei no primeiro de Fevereiro à nova Vila de São José de Macapá, na qual me dilatei até o dia 14, gastando este tempo em fazer Justiças, Oficiais da Ordenança, e dar diversas providências que me pareceram úteis para o sólido estabelecimento daquela nova Vila das quais remeterei a Vossa Excelência pela frota a cópia, participando juntamente a V.Exª. o que sinceramente compreendo daquele novo estabelecimento e só agora direi em epithsme (sic) que saí dele inteiramente satisfeito.
No mesmo dia 14 fui visitar o novo lugar de Santana que fundei haverá quatro para cinco anos, com a gente que desceu com Francisco Portilho, e fica a três léguas ao Poente da dita Vila do qual saí no dia 15 pela manhã, navegando pela Costa Septentrional das Amazonas entrei pelos rios Tuaré e Guarimocú, nas margens dos quais havia duas Aldeias da administração dos Padres da Conceição a que davam nomes os mesmos Rios, erigindo no dia 20 a de Guarimocú em Vila com o nome de Arrayolos, e a de Tuaré a 21 com o nome de Esposende, e feitas as Justiças, e as mesmas cerimônias que se costumam em semelhantes ocasiões: saí no dia 22 da dita Vila.
No mesmo cheguei à Fortaleza do Parú, a qual tinha, contígua a si uma Aldeia com o nome da mesma Fortaleza da administração dos Padres de Santo Antônio, cuja erigi em Vila com o nome de Almeyrim, e como não tinha demasiada gente e se achava junto a ela outra Aldeota chamada do Acarapy e hoje Valle-de-Fontes com os objetos de fazer aquela Vila mais populosa e poupar a Fazenda Real, o gasto de pagar assim Pároco de uma Povoação que apenas teria 150 pessoas regulando-me a este fim com as Reais Leys de Sua Majestade, que ordenam que estas Povoações não tenham menos de 150 vizinhos, ajuntei à sobredita Vila o referido Lugar com beneplácito e inteira satisfação de todos os moradores dele.
Desta povoação saí no dia 24 com a resolução de erigir em Vila a Aldeia de Urubucuara, que hoje é Lugar de Outeiro, e deixei de fazer aquela erecção (sic), por não lhe achar bastantes moradores para ser Vila.
Da dita Povoação saí no mesmo dia e no dia 27 cheguei à antiga Aldeia de Gurupatuba que administravam os Religiosos da Piedade e a 28 a erigi em Vila com o nome de Monte Alegre e depois de dadas as providências precisas, saí da dita Vila no 1º de Março e a 4 cheguei a Aldeia dos Tapajós da qual saí a 6 navegando pela Costa Oriental do mesmo Rio e cheguei à Aldeia de Borary no dito dia a qual erigi em Vila com o nome de Alter do Chão.
A 8 saí da dita Vila e atravessando à parte Ocidental do dito Rio para buscar a Aldeia chamada de Santo Ignácio cheguei a ela e a 9 a erigi em Vila com o nome de Vila de Boim.
No mesmo dia de tarde saí desta povoação e cheguei à Aldeia de São José, à qual tendo eu determinado que ficasse Lugar com o nome de Soucelo (sic) me requereram os seus moradores que a fizesse Vila porque tinha número bastante de gente para o ser e com facilidade condescendi com eles, e lhe erigi em Vila com o nome de Pinhel.
Saindo, pois da dita Vila no dia 10 vim pelo Rio abaixo, buscar outra vez a Aldeia dos Tapojás (sic) a qual cheguei a 12 e a 14 erigi esta Povoação em Vila com o nome de Santarém e feitas as Justiças e outras diligências que me pareceram convenientes a bem daquele estabelecimento, saí da dita Vila a 16 do dito mês.
No dito dia atravessei uns grandíssimos lagos que estão ao Poente da dita Povoação para ir buscar a Aldeia do Cumarú, à qual cheguei no dia 17 e logo a erigi em Vila Franca e todas as povoações deste Rio eram da administração dos Padres da Companhia.
No dia 18 saí da sobredita Vila e vim buscar a Costa Septentrional das Amazonas e a 20 cheguei à Aldeia de Surubiú que era da administração dos Padres Piedosos com a resolução de a fazer Vila, e por não poder averiguar o número de gente, cuja diligência deferi para quando tivesse mais completa informação.
A 21 saí da sobredita Povoação e a 22 cheguei à Fortaleza dos Pauxis, na qual me dilatei nos dias da Semana Santa. Erigi no Sábado de Aleluia em Vila uma pequena Aldeia que estava junto àquela chamada Fortaleza, unindo-lhe para a poder fazer mais populosa duas Aldeotas da administração dos Padres da Piedade, a primeira a menos de meia hora de caminho da dita Fortaleza e a outra a quase um dia de viagem e todas três juntas apenas davam gente para constituir a Nova Vila de Óbidos que ali erigi.
No dia 26 saí da sobredita Fortaleza e navegando pela mesma Costa Septentrional das Amazonas atravessei a pouca distância para a Austral e entrando pelo Rio Tupinambaranas para passar ao da Madeira examinei as barras que nele fazem os grandes Rios Magués (sic), Abacaxis e Canumá, e saí ultimamente ao Rio Madeira e a 14 de Abril cheguei à Vila de Borba-a-Nova.
Depois de me dilatar nela dois dias vim buscar a Aldeia dos Abacaxis que era da administração dos Padres da Companhia, com a resolução de a erigir em Vila com o nome de Serpa, porém os seus moradores me requereram instantemente que se queriam tirar daquele sítio, porque nele não logravam uma hora de saúde, e que se conservavam ali violentados pelos Padres que os administravam.
Conhecendo eu que o terreno era indigno porque sobre ser um sapal (sic) nem terras tinham junto a si em que se fazerem roças lhe deferi com boa vontade e perguntando-lhe para onde queriam ir fundar a nova Vila me apontaram logo alguns sítios a grandíssimas distâncias no centro dos matos, o que me pareceu seria prejudicial se eles se fossem estabelecer àquelas distâncias e por isso lhe não deferi, mas pelo contrário lhe nomeei uns poucos de sítios para eles escolherem o que lhe parecesse melhor a bem da sua saúde e da sua conveniência.
Em observância desta ordem foram ver os sobreditos sítios e escolheram entre eles um chamado Itaquatiara sobre as Amazonas a dois dias de distância da sua habitação antiga, e na verdade escolheram bem porque as terras são as melhores que por aqui há pois produzem todo o gênero de frutas e o Rio naquele sítio abundantíssimo e sobretudo está na Estrada Real destes Sertões e com esta Vila acharão os passageiros socorros e os Índios, não só tirarão grande lucro dos seus trabalhos na venda dos mantimentos, mas civilizar-se-ão muito mais com o contínuo trato que hão de ter com os passageiros não sendo este lucro de menos importância para o comum do Estado.
Na Povoação que deixam nada se perde porque nela não há Igreja de nenhuma casta porque os Religiosos da Companhia que ali residiam, diziam Missa em um Alpendre das palhoças em que assistiam.
Também não há edifícios públicos ou particulares que possa embaraçar aquela mudança porque os primeiros nunca houve e os segundos é necessário fazê-los, porque aquela pobre gente está vivendo quase exposta ao tempo e devendo sem dúvida alguma fundar-se aquela Vila de novo me pareceu mais conforme às Reais intenções de Sua Majestade e ao bem comum assim dos Índios como dos moradores que vem negociar aos Sertões que a sobredita Vila se estabelece em um sítio tal, como o que tenho referido a V. Exª e não no lago em que se conservam aqueles índios no qual tem morrido, e não morrendo uma infinidade deles por causa do clima e sobretudo sem terras para cultivarem os frutos de que podem viver.
Da sobredita povoação saí a 19 do dito mês de Abril, e vindo com toda a diligência buscar este Rio entrei nele no dia 23 e a 4 de maio cheguei a esta Povoação com toda a gente que me acompanhava, com bom sucesso.
Logo no dia Erigi esta Aldeia que até agora se chamava Mariuá em Vila com o nome de Barcellos e até agora me parece que os seus moradores não estão descontentes do novo estabelecimento.
Se não tivera tão pouco tempo informara a V. Exª com mais largueza, porém a pressa com que expeço daqui uma pequena canoa a ver se acha o Navio no Pará, me não dá lugar a largas escritas.
Deus guarde a V. Exª. muitos anos. Nova Vila de Barcellos 4 de julho de 1758.
(ao) Sr. Thomé Joaquim da Costa Corte Real.
(Assinado) Francisco Xavier de Mendonça Furtado”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário