Por Pe. Sidney
Augusto Canto
Continuemos a
apresentar novos dados sobre a “Serra Piroca” de Alter do Chão (é bom ler a postagem anterior antes). No século XIX,
quando nossa região passou a ser visitada por renomados cientistas, as
descrições do chamativo monte continuam a nos deixar maiores informações sobre
o citado monte. Uma dessas descrições é a do cientista inglês Henry Walter
Bates, assim se referindo sobre a mesma, em meados do sobredito século:
“O pequeno povoado de Altar do Chão [sic]
deve seu nome singular à existência, à entrada da baía, de um desses curiosos
morros de cume achatado, tão comuns nessa parte da região amazônica, cuja forma
lembra a do altar-mor das igrejas católicas. O morro em questão era isolado e
muito mais baixo do que outros do mesmo tipo existentes nas proximidades de
Almeirim, não devendo elevar-se mais do que cem metros acima do nível do rio.
Era desprovido de árvores, mas coberto em alguns trechos com uma determinada
espécie de samambaia”.
Outros
cientistas passaram por Alter do Chão ainda no século XIX. Um deles foi o
botânico Barbosa Rodrigues, que fez uma descrição bem simples da elevação: “Raiava o dia quando passamos a ponta do
Cururu, lugar onde torna-se a estreitar o rio a que um elevado monte de forma cônica,
para quem começa a subir o rio, dá um aspecto bonito à entrada da enseada onde
está plantada a vila de Alter do Chão”.
No final do século XIX (entre 1894 e 1898), um estudo geológico mais aprofundado sobre o acidente geográfico foi
feito pelo chefe da secção de geologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, dr.
Friedrich Katzer, que assim se pronuncia sem seu estudo:
Para o norte, à margem direita do Tapajós,
levanta-se um morro em forma de teto, bastante original, visível a longa
distância. É denominado Alter do Chão, isto é, altar do chão.
Um pequeno povoado do mesmo nome está localizado na
planície, a sudoeste, à margem de um lago vizinho do Tapajós. Frequentemente o
nome Alter do Chão só é dado ao povoado, chamando-se à elevação Serra da Piroca
(morro pelado), ou Serra do Cururu, ou também Serra do Americano, em memória de
um dos antigos colonos norte-americanos dessa região. Esta Serra constitui a
falda isolada, mais ocidental, do planalto ao sul de Santarém, cujas secções
recebem nomes diversos, tais como Serra do Irurá, Serra Urumary, Serra Mararú, Serra
Girubá, Serra Panema; todavia este planalto apenas apresenta a continuação,
para oeste, mais fortemente articulada na chapada de Diamantina. Enquanto este
planalto, na maior área, se acha coberto pela mata virgem, alta e bela, a Serra
de Piroca apresenta-se quase nua, visto crescerem sobre ela apenas espaçadamente
algumas gramíneas resistentes e moita baixa e aqui e acolá algumas árvores raquíticas”.
Como podemos
ver, o lapso de informação cometido por Henry Bates, é repetido em estudos
posteriores. Falo aqui do falo de atribuir o nome de Alter do Chão por conta da
elevação da “Serra Piroca”, comparando-a com um “altar do chão”. A verdade
histórica é bem mais simples. O nome Alter do Chão foi dado por Francisco
Xavier de Mendonça Furtado à antiga Missão dos Boraris, quando a elevou à
condição de Vila, homenageando outro lugar que possuí o mesmo nome, situada em
Portugal.
Vamos concluir
estas informações sobre a “Serra Piroca” na próxima postagem.
NOTA: O presente
texto é ilustrado por um desenho do final do século XIX que ilustra o estudo do geólogo Friedrich
Katzer. Nota, naquela distante data, mais de 100 anos atrás, a Serra também
aparece desprovida de uma cruz em seu topo.
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