Ontem, pela
manhã, presenciamos, na nova ponte da guarda-moria, um espetáculo realmente
repugnante.
Um alferes de polícia
punha em forma uma força do mesmo corpo, composta de 7 praças, um cabo e um
corneta, e entre as alas dos soldados figurava um preto já idoso, tendo na mão
direita um embrulho com roupa e a esquerda uma corda, na qual estava preso um
cão.
Era talvez um
grande criminoso!
Dirigimo-nos a
força, e perguntamos ao cabo por que estava preso aquele homem?
- E um escravo
que vem de Santarém para ser vendido, respondeu ao colega do “Diário de Belém” e
a nós.
- Um escravo! E
o que fizeste para aqui estares guardando por tantos soldados?
- Nada, senhor,
venho ser vendido. Chamo-me Gabriel, e nem consentiram que minha mulher e
filhos, que são livres, me acompanhassem! Para me separarem da minha família
inventaram que eu tentei flechar o inspetor do quarteirão!
Vergonha...
Muita gente
acudio a presenciar esse vergonhoso espetáculo, amostra degradante da nossa
civilização.
Mercadejem muito
embora com a carne humana, rompam os indissolúveis laços do coração, separando
filhos, mas, por Deus, não se sirvam da força pública para envergonharem a
sociedade, como ontem fizeram na poute da guarda-moria!
Vergonha !...
NOTA: Publicado no jornal
Diário do Grão-Pará de 26 de julho de 1881, sob o título “Um espetáculo
repugnante”, lembrando que o repugnante em questão, não era o fato da
escravidão ou da separação imposta àquela pobre família, mas o fato de uso da
força policial para vigiar um processo de venda de escravos.
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