Por Pe. Sidney
Augusto Canto
Até aqui,
estávamos recordando como os viajantes do passado mais remoto (séculos XVIII e
XIX) descreveram a “Serra Piroca” de Alter do Chão. Gostaria de acrescentar
que, depois dos primeiros estudos geológicos, como o do já citado austríaco F.
Katzer (final do século XIX) vieram alguns estudos patrocinados pelo Governo do
Estado, como o do brasileiro Pedro de Moura, corroborado pelo francês Paul Le
Cointe (no início do século XX). Ambos confirmam ser o nome do acidente
geográfico “Piroca”.
Já no século XX,
a “Serra Piroca” começou a ser atrativo para aventureiros e turistas que passaram
não somente a apreciar as praias paradisíacas de Alter do Chão, como também a
escalar o cume do pequeno morro que lhe é fronteiriço.
Uma vez fundada
a Congregação Mariana na Vila de Alter do Chão, na década de 1930, e com a
constante visita dos Marianos de Santarém, surgiu a ideia de recolocar, no alto
da “Serra Piroca”, um cruzeiro, como marco da presença da religião cristão na
região. A foto que ilustra esta terceira parte de nosso trabalho mostra a
colocação deste cruzeiro no alto do acidente geográfico, em um evento promovido
pelos Congregados Marianos.
Durante os anos
que se seguiam, outras cruzes foram colocadas no alto do morro, algumas foram
atingidas por raio (como na época dos Jesuítas) até que, atualmente, já não é
mais um cruzeiro de madeira, mas um de ferro, que ornamenta o alto da “Serra
Piroca”.
E a questão do
nome?
Recentemente fui
interpelado sobre o nome. Bem, o nome vem da língua geral falada pelos indígenas.
Após consultar diversos dicionários, podemos afirmar que a Serra tem esse nome
pelo fato de ser desprovida de cobertura florestal (mata densa). Pois “Piroca”,
segundo dicionário nheengatu de Ermano Stradelli, quer dizer: pelado, depenado, descascado. Linha de
tradução também seguida pelo historiador paraense Carlos Roque, que na sua Grande
Enciclopédia da Amazônia, afirma que o termo Piroca, além do já descrito anteriormente,
é, também: “Serra que se localiza à
margem direita do Rio Tapajós, próxima ao Ponto do Caruru, perto da Vila de
Alter do Chão, Município de Santarém, Estado do Pará (zona fisográfica do
Baixo-Amazonas)”.
Assim, o morro
leva o nome “Piroca” pelo fato de o mesmo ser desprovido de cobertura vegetal,
um descampado. Os indígenas, ao olhar para aquele morro, desprovido de árvores
o chamavam pura e simplesmente de “Ibitira Piroca” (monte pelado, monte sem
mata).
Em todo o acervo
histórico por mim consultado (inclusive diversos jornais) até os anos 1980, não
encontrei nenhum outro nome que não fosse esse. Alguns relatos antigos são
repletos de um certo pudor (como o do Bispo Frei João de São José) chamam o
monte de “calvo” (que em língua geral é Piroca).
Recentemente,
entretanto, alguém teve a ideia de mudar o nome para “Pira-Oca” (casa de/do
peixe). Ao que parece algumas pessoas querem trocar o nome movidos por pudorismo
e/ou moralismo. Pira-Oca está mais para o lago, rio ou igarapé do que para um
monte de terra (onde não moram peixes).
Só para constar,
finalizo, por ora esta contribuição histórica, falando também da “Serra Piroca”
de Santarém, conforme a palavra do estudioso em língua geral, pesquisador e
historiador santareno Felisberto Sussuarana:
“Piroca foi a formosa serrinha, mama de
mulher ou inselberg que dignificava a paisagem do termo de Santarém vista do
rio. A palavra tupi Piroc (Pir oc, pele tirada), foi conotada para “pelada” ou “descalvada,
de vegetação rala ou nula”. A Piroca de Santarém, também chamada de Serra da
Cruz ou Serra dos Americanos, está hoje transformada em cone truncado e o nome
acabou ficando para a sua similar de Alter do Chão”.
Os mais jovens
não conheceram a “Serra Piroca” de Santarém no seu esplendor, pois a mesma foi “cortada”
na época do Regime Militar, pois achavam que ela oferecia riscos ao antigo
aeroporto. É hoje chamada por alguns de Serra do Santarenzinho e tem muito de
sua história confundida com sua topônima de Alter do Chão. Esperemos que a “Serra
Piroca” de Alter do Chão (que na verdade é um morro e não serra) possa não ter
o mesmo fim melancólico da sua irmã santarena e nos ajude ainda a fazer contar
muitas e várias boas histórias, como a da recente excursão organizada pelos
amigos jornalistas Fábio e Reginaldo. Por hora descansem as teclas!
Santarém, 01 de
maio de 2018.
Ao amigo e irmão
Fábio Barbosa.
Faça um relato sobre a serra do Santarenzinho, não conheço a história da mesma .
ResponderExcluirAssim que tivermos material suficiente sobre a mesma vamos postar por aqui. Agradecemos a sugestão.
ExcluirTambem queria saber sobre a historia da serra da embratel no saúbal. E sobre suas ruinas e sobre a serra do galo no bairro do sao francisco na grande area da nova republica.
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