quarta-feira, 2 de maio de 2018

As muitas histórias de uma (ou mais) Serra chamada “Piroca”...



Por Pe. Sidney Augusto Canto

Até aqui, estávamos recordando como os viajantes do passado mais remoto (séculos XVIII e XIX) descreveram a “Serra Piroca” de Alter do Chão. Gostaria de acrescentar que, depois dos primeiros estudos geológicos, como o do já citado austríaco F. Katzer (final do século XIX) vieram alguns estudos patrocinados pelo Governo do Estado, como o do brasileiro Pedro de Moura, corroborado pelo francês Paul Le Cointe (no início do século XX). Ambos confirmam ser o nome do acidente geográfico “Piroca”.
Já no século XX, a “Serra Piroca” começou a ser atrativo para aventureiros e turistas que passaram não somente a apreciar as praias paradisíacas de Alter do Chão, como também a escalar o cume do pequeno morro que lhe é fronteiriço.
Uma vez fundada a Congregação Mariana na Vila de Alter do Chão, na década de 1930, e com a constante visita dos Marianos de Santarém, surgiu a ideia de recolocar, no alto da “Serra Piroca”, um cruzeiro, como marco da presença da religião cristão na região. A foto que ilustra esta terceira parte de nosso trabalho mostra a colocação deste cruzeiro no alto do acidente geográfico, em um evento promovido pelos Congregados Marianos.

Durante os anos que se seguiam, outras cruzes foram colocadas no alto do morro, algumas foram atingidas por raio (como na época dos Jesuítas) até que, atualmente, já não é mais um cruzeiro de madeira, mas um de ferro, que ornamenta o alto da “Serra Piroca”.
E a questão do nome?
Recentemente fui interpelado sobre o nome. Bem, o nome vem da língua geral falada pelos indígenas. Após consultar diversos dicionários, podemos afirmar que a Serra tem esse nome pelo fato de ser desprovida de cobertura florestal (mata densa). Pois “Piroca”, segundo dicionário nheengatu de Ermano Stradelli, quer dizer: pelado, depenado, descascado. Linha de tradução também seguida pelo historiador paraense Carlos Roque, que na sua Grande Enciclopédia da Amazônia, afirma que o termo Piroca, além do já descrito anteriormente, é, também: “Serra que se localiza à margem direita do Rio Tapajós, próxima ao Ponto do Caruru, perto da Vila de Alter do Chão, Município de Santarém, Estado do Pará (zona fisográfica do Baixo-Amazonas)”.
Assim, o morro leva o nome “Piroca” pelo fato de o mesmo ser desprovido de cobertura vegetal, um descampado. Os indígenas, ao olhar para aquele morro, desprovido de árvores o chamavam pura e simplesmente de “Ibitira Piroca” (monte pelado, monte sem mata).
Em todo o acervo histórico por mim consultado (inclusive diversos jornais) até os anos 1980, não encontrei nenhum outro nome que não fosse esse. Alguns relatos antigos são repletos de um certo pudor (como o do Bispo Frei João de São José) chamam o monte de “calvo” (que em língua geral é Piroca).
Recentemente, entretanto, alguém teve a ideia de mudar o nome para “Pira-Oca” (casa de/do peixe). Ao que parece algumas pessoas querem trocar o nome movidos por pudorismo e/ou moralismo. Pira-Oca está mais para o lago, rio ou igarapé do que para um monte de terra (onde não moram peixes).
Só para constar, finalizo, por ora esta contribuição histórica, falando também da “Serra Piroca” de Santarém, conforme a palavra do estudioso em língua geral, pesquisador e historiador santareno Felisberto Sussuarana:
Piroca foi a formosa serrinha, mama de mulher ou inselberg que dignificava a paisagem do termo de Santarém vista do rio. A palavra tupi Piroc (Pir oc, pele tirada), foi conotada para “pelada” ou “descalvada, de vegetação rala ou nula”. A Piroca de Santarém, também chamada de Serra da Cruz ou Serra dos Americanos, está hoje transformada em cone truncado e o nome acabou ficando para a sua similar de Alter do Chão”.
Os mais jovens não conheceram a “Serra Piroca” de Santarém no seu esplendor, pois a mesma foi “cortada” na época do Regime Militar, pois achavam que ela oferecia riscos ao antigo aeroporto. É hoje chamada por alguns de Serra do Santarenzinho e tem muito de sua história confundida com sua topônima de Alter do Chão. Esperemos que a “Serra Piroca” de Alter do Chão (que na verdade é um morro e não serra) possa não ter o mesmo fim melancólico da sua irmã santarena e nos ajude ainda a fazer contar muitas e várias boas histórias, como a da recente excursão organizada pelos amigos jornalistas Fábio e Reginaldo. Por hora descansem as teclas!

Santarém, 01 de maio de 2018.
Ao amigo e irmão Fábio Barbosa.

3 comentários:

  1. Faça um relato sobre a serra do Santarenzinho, não conheço a história da mesma .

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    1. Assim que tivermos material suficiente sobre a mesma vamos postar por aqui. Agradecemos a sugestão.

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  2. Tambem queria saber sobre a historia da serra da embratel no saúbal. E sobre suas ruinas e sobre a serra do galo no bairro do sao francisco na grande area da nova republica.

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