Por padre Sidney
Augusto Canto
Dias atrás, a
pedido do meu amigo Fábio Barbosa, comecei a rever meu acervo (hoje muito mais
rico em informações) sobre a antiga Igreja Matriz de Vila Franca.
Desmitificando mitos, aqui está uma pequena contribuição para a atual
construção que seria, na verdade, a terceira igreja, cuja construção foi
iniciada em 1848.
Os primórdios da
fé católica, em Vila Franca, têm início em janeiro de 1723, quando o
missionário Jesuíta Padre Manoel Rebelo, (que desde 1698 trabalhava junto aos
índios Tapajós, na Missão de Nossa Senhora da Conceição, hoje Santarém),
resolveu subir o rio Arapiuns e aldear os índios desse rio em uma nova Missão
denominada de Nossa Senhora da Assunção (ou da Glória, conforme alguns). As
principais tribos aldeadas eram as dos Arapiuns e Comarus, não ficou esse padre
muito tempo na missão (faleceu em 30 de abril de 1723, no Colégio dos Jesuítas,
em Belém). Seu sucessor, o padre Felipe de Borja, foi quem edificou a primeira
igreja da Missão, em taipa de mão e organizou os índios que já estavam se
dispersando novamente. Infelizmente esse padre veio a falecer em 24 de novembro
de 1731, sendo sepultado no interior da igreja que ele mesmo ajudara a
construir. Mais tarde, veio o missionário mais famoso que a Missão conheceu, o
Padre João Daniel, que depois de expulso do Brasil, escreveu o "Tesouro
Descoberto no Máximo Rio das Amazonas".
Em 1758, o
governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, extingue a Missão de Nossa
Senhora da Assunção e cria a Paróquia (ou Freguesia) de Vila Franca, mantendo a
mesma padroeira, no dia 13 de março daquele ano.
Ao contrário do
pensamento popular, pequena igreja dos Jesuítas ainda continuou a funcionar por
muitos anos como sede da paróquia de Nossa Senhora da Assunção. Foi esta antiga
capela da Missão que foi visitada pelo Bispo Dom Frei João de São José em 22 de
dezembro de 1762, que assim escreveu: “Estava
esta pobríssima e com toalhas rotas bem indignas, e sem pedras d’ara nos
altares colaterais”. Pouco mais de 20 anos depois, outro Bispo do Pará, Dom
Frei Caetano Brandão, ao visitar Vila Franca, em 16 de janeiro de 1789, assim
descreve a antiga capela: “Igreja boa e
asseada, ainda que falta de ornamentos: tudo se deve ao Diretor, sujeito de
muita honra e probidade”. Em 1812, sabemos que a antiga igreja, ainda se
mantinha, coberta de palha, contudo suas paredes apresentavam já sinais de
ruína e veio a ruir de vez em 1848.
O povo de Vila
Franca havia pedido ao Governo da Província a construção de uma nova Igreja. Em 1846,
entretanto, o Governo Provincial decidiu mudar a sede paroquial da vila para o
lugar Ecuipiranga, destinando para aquele lugar as verbas para construção de
uma nova igreja, casa da câmara e prisão. Isso causou revolta na população de
Vila Franca, que conseguiu reverter o processo e manteve na Vila a sede de sua
freguesia.
No entanto, em
1848 o povo de Vila Franca tratou de começar a construir uma NOVA IGREJA. Os
trabalhos correram muito lentamente. Em 1859, uma comissão foi até o presidente
da Província pedir ajuda. Esta conseguiu reverter a situação criada pela lei de
1846. No entanto as obras da Igreja ficaram paradas em seus alicerces.
Segundo Ferreira
Pena, em 1867, a Assembleia Provincial havia autorizado a despesa de 12:000$000
(doze contos de réis) para a conclusão da Igreja. Quando de sua visita à Vila
Franca, em 1868, encontrou os alicerces da nova Matriz. Enquanto isso a Matriz
funcionava em uma capela coberta de palha, mantida pelo pároco em decência.
Esta nova capela "provisória", bem como o novo cemitério da Vila, foram obras construídas pelo padre
Antônio do Espírito Santo da Fonseca, que muito contribuiu com o povo de Vila
Franca.
Em 1880, por
meio da lei provincial 1.008, de 27 de abril desse mesmo ano, Vila Franca teve
novamente a sua sede paroquial transferida para o lugar Itacumini, antiga sede
do Pesqueiro Real, que fazia parte do 2º Distrito da mesma Vila, com as mesmas características
da transferência feita no ano de 1846.
Novamente o povo
se revoltou contra o fato. E, para demonstrar interesse em continuar sendo sede
da freguesia, novamente foi retomada as obras da reconstrução da Matriz, que
até aquele ano ainda estava nos alicerces. Com muito esforço, e com as pequenas
ajudas financeiras dadas pelo governo da Província, o povo de Vila Franca
conseguiu concluir a “capela mor”. Contudo, em 1889, adveio o final do Império
e as ajudas monetárias do Estado cessaram. E a construção da Igreja acabou
ficando apenas em sua capela mor, ficando a nave central apenas nos alicerces.
Mesmo assim, pouco tempo depois, com a ruína da antiga capela “provisória”, os
objetos foram transferidos para o que hoje vemos como Igreja de Nossa Senhora
da Assunção.
Apesar da
simplicidade a capela mor foi transformada em Igreja, que apresentava os
baldrames e paredes construídas em pedra, barro amarelo e cal com um reboco com
pintura de cal sem emassamento, com duas sacristias laterais, cada uma com três
janelas. Possuía um altar mor, construído em madeira, ornado por uma grande
imagem, em madeira, de Nossa Senhora da Assunção. Esse altar não existe mais
hoje.
Em 15 de
fevereiro de 1905, ao visitar Vila Franca, Dom Frederico Costa, anotou a
seguinte impressão:
O que é atualmente Vila Franca não dá
ideia do que foi no passado. Hoje a população está dispersa pelo interior e
pelos rios dos Arapiuns, onde se descobriram ricos seringais. A não ser no
tempo das festas, há em Vila Franca apenas três ou quatro casas habitadas, com
pouco mais de vinte moradores. Entretando a Igreja é boa e está bem tratada, o
que demonstra a boa vontade da população.
Naquela época,
ainda se podiam ver as fundações da antiga "Nave Central" e das
"Torres" que nunca chegaram a ser construídas. A Igreja possuía dois
sinos bons, colocados em um campanário de madeira.
Seu interior
apresenta, ainda hoje, uma riqueza de imagens barrocas dos séculos XVIII e XIX.
Elas se encontravam dispostas em dois altares laterais e num altar-mor, em
madeira, que hoje não existe mais. Chama atenção, além da imagem da padroeira,
Nossa Senhora da Assunção, a imagem do Cristo Morto, entalhada em peça única de
itaúba, em tamanho natural e com feições indígenas, típicas das oficinas
Jesuítas do Século XVIII. O Museu de História e Arte Sacra catalogou 14 bonitas
imagens desse período na Igreja de Vila Franca, fazendo de seu acervo, um dos
mais importantes do Interior do Pará.
Olá Padre Sidney meu nome é Aline e eu busco informações do meu tataravô que foi nomeado delegado literário da Paróquia de Vila Franca em 17 de Abril de 1875, o nome dele era Constante Silverio Pereira Piza, eu busco documentos dele, como certidão, a saber quem era seu pai, sua mãe, etc. Onde será que consigo esses documentos? Teria algo guardado na paróquia? Muito obrigada
ResponderExcluirEstimada Aline, no momento não possuo informações sobre este seu antepassado. Nessa época a paróquia de Vila Franca pertencia à Arquidiocese de Belém, onde, possivelmente, você poderá encontrar maiores informações a respeito.
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