Como não é do meu
caráter faltar a verdade, menos ainda enganar os povos, para os abismar, para
isso vou demonstrar por fato qual é a Fé Pública e confiança que me razoa
qualquer tratado de paz ou de conciliação da parte dos Vinagristas da reunião
de Ecuipiranga e ninguém os poderá negar, porque tem sido públicos e assim
incontestáveis.
A Reunião do
Surubiassú-miri e a qual passou para Ecuipiranga deu por motivo os despotismos
e receios de perseguição da parte do Juiz de Direito e a existência do capitão
Ambrósio com os Bararuás, estes dois únicos motivos cessaram com a retirada de
um e outro, consequentemente a Reunião devia dissolver-se e dar-se por acabada,
porém não aconteceu assim: Logo aqueles motivos de que se serviu a Reunião
foram falsos. Tapajós, por suas autoridades legítimas em prova do sossego que
desejavam, dobrou-se a enviar uma Deputação, toda conciliadora e a Reunião
aceitou pelo que devia dissolver-se o que não aconteceu. Pauxis, tendo reunido
uma Força com uma escuna de guerra a seu porto, intricheirado como estava tão
somente para defender-se de qualquer agressão, por evitar desconfianças da
parte da Reunião fez o mesmo que Tapajós, propondo termos de conciliação, que
foram aceitos pelo que a Reunião devia dissolver-se, mas não aconteceu assim,
antes conservou-se a Reunião na boca do Curumucuri, Distrito de Pauxis, e como
desconfiados os pauxienses, nos tratados de conciliação já formados, cuidou
cada um em recolher-se a seus sítios, dondo muitos foram obrigados a reunir-se
àquele Ponto ora já com este procedimento, a Reunião faltava com o cumprimento
do que solenemente havia prometido e dado palavra e já então Pauxis devia toda
a atitude das armas, pelos motivos que tinha de desconfiança, mas ainda assim
mesmo o não fez por nunca persuadir-se que fosse atacado, não tendo dado o mais
leve motivo aquelas vilas, nem antes, e nem depois de sua Reunião no
Ecuipiranga em prova do que para ali mandou, tirando de si a Escuna Federal, e
o resultado de tudo foi dirigir-se para [Vila Pauxis] a reunião do porto
Curumucuri debaixo de Paz, e neste sentido oficiou aquele comandante ao
Vigário, pedindo não houvesse a mais pequena alteração, ocasião esta da
recepção em que o Povo, junto ao Senhor Jesus, lhe apareceu-os e fez público o
dito ofício, afiançando que se não assustassem, pois que nenhum insulto
haveria, mas pela madrugada começaram a ter princípio as cenas de horror,
tendo-se-lhe antes entregue pacificamente o Quartel, as Armas e a Munição, e ao
amanhecer duas rodas de pau, prisões, escoltas e ameaçar até as Senhoras, as
Autoridades obriga a largar o seu calçado, mortes de muitos pais de famílias,
suas casas arrombadas à luz do dia, e sem vergonha com os trastes dos infelizes
no corpo em afronta de todo brasileiro honrado, que para ter uma camisa não
precisa matar para roubar, e assim experimentou Pauxis, a mais negra falsidade,
ainda por sorte teve Tapajós tudo por confiar nos tais tratados de paz, depois
destes acontecimentos cheguei eu a esta Vila, e com a sinceridade do meu
coração e desejos de salvar um e outro povo, tratei com os Comandantes de que
todos os nossos cuidados se deviam empregar para o restabelecimento do sossego,
retiraram-se eles e eu não poupei para o conseguir, desprezando muitas ameaças
e muitos insultos, não só na Vila como pelos Sítios, alterados já o Povo e todo
desconfiado, acontece como um rebate de desengano, a morte daqueles três
infelizes na boca do Curumucuri, de tal modo que todos os moradores se
recolheram à Vila como também fez o Vigário; corrido de seu Sítio, para onde
tinha ido ainda doente, debalde pedi providências a Miguel Apolinário, e as que
enviaram consistiram em crescer a reunião de São Nicolau, e apresentar-se outro
Destacamento na boca do Curumucuri; assaltar-se por três vezes a freguesia de
Juruti e a de Tupinambarana, sem que estas Freguesias tivessem dado motivo
algum de provocação; pergunto eu agora: foram verdadeiras e podem acreditar-se
os motivos que deu a Reunião de Ecuipiranga? Dissolveu-se com os Tratados de
Conciliação de Tapajós e Pauxis?
Ah! Foram estas Vilas as que mais sofreram
debaixo de paz as suas desgraças com tantas mortes e tantos roubos! E poderá
alguém dizer que a paz só serviu de pretexto para enganar quando o fim só foi
matar e roubar! Haverá quem isto negue? Poderá ainda acreditar e confiar, em
qualquer tratado de paz, que tem sido a causa e as verdadeiras armas, com que
se tem vencido e desgraçado Amazonas? Dirão que todos estes atos foram no tempo
de Miguel Apolinário, e que o contrário, tem observado, tendo substituído Diniz
Marcelino de Souza, porém eu vou referir o que se tem passado no tempo deste –
o Distrito de Pauxis por ele são responsáveis suas Autoridades, e mesmo em
todas as mais Vilas e Freguesias, para isso elas se não devem intrometer e nem
importar do que em cada uma se passa. Salvo por requisição a bem do Serviço do
Imperador, e da Lei. Pauxis tinha os seus Destacamentos para manter a ordem nos
lugares de Maratuba, Curumucuri, e Maracau-assú, que por lei lhe pertence.
Diniz, sem ordem, sem lei e sem autoridade ataca, mata e faz tomadias, não
escapando em “Maracau-assú” de ser revolvido o paramento sagrado da Capela,
quebrada em pequenos pedaços a pedra d’Ara e passa depois à Olaria de João da
Gama, morador desta, onde como se fosse dono matou gado e fez o que quis; até
prendeu moradores que se recolhiam para a Vila, tomou Batelões de Gado,
Escravos, e saqueou as farinhas, com estes procedimentos tão criminosos,
oficiou para esta [Vila de Pauxis] pedindo a paz, porém que convinha depor as
Armas, respondeu-se-lhe que a paz muito desejávamos, porém nunca depor as
Armas, tornou a oficiar, para que se cumprisse sua requisição, pena de marchar
contra esta, e não se lhe respondeu, cercou a Vila, fez toques de caixas, e
gritarias ao Costume dos Gentios, com a diferença que estes sempre foram mais
honrados, porque nunca descompuseram, tornou a oficiar pela paz no mesmo
sentido, a resposta foi a mesma, até que para lhe dar uma prova, de que estava
disposto a receber os seus ataques prometidos sem ele por em execução, mandei
tocar arrebate, içar bandeiras encarnadas e a fazer fogo, e a noite deste dia,
exclamou uma voz do mato, que queriam a paz, e que só o Vigário os podia
salvar, atendendo pois ao grande esmero contra a vontade mandei suspender o
fogo, e pela manhã dirigiu-se a Diniz o
Vigário, e eu oficiei que me desse decisão dessa paz que ele propunha para
minha deliberação, pois que me parecia paliação, entretanto às 10 para 11 do
dia, pretendia entrar em ação decisiva, e foi quando voltou o Vigário com a paz
de falsidade, seguiram-se todas as manifestações de prazer, porém afetando Diniz
pressa em se retirar porque nada mais havia que fazer, seguiram-se. As
requisições, sem que no Termo de tal paz houvesse tais condições e nem fosse
ouvido o Vigário, como medianeiro na forma do Termo, Quartelamento Barca a
Peça, 50 homens, 30 Armas Nacionais, 3 cartuxos de robamento de Trincheiras,
tudo isto fora do Termo de Paz que se havia passado, e por último foi a
requisição com ameaça de se me obrigar pela força, fiz logo soltar os presos
que haviam e Diniz o não fez, entreguei duas Montarias e Diniz não entregou, as
muitas apreendidas, os Batelões, e duas Galeotas mais do Porto e montarias que
levaram Escravos, os Sítios de Paraná-miri de “Lecipo” pertencentes a estes
moradores todos saqueados e algumas portas quebradas a machado cortadas até os Tupés
de cacau, não escapando um Pinto, pergunto eu agora se Diniz queria a paz por
desconfiar de Pauxis porque as não a pediu fora deste Distrito? Para que
cometeu tanto atentado? E porque depois do Termo não fez dar-lhe todo o
cumprimento, para assim ganhar a confiança a Crédito na sua palavra? Ah! O
Termo de Paz não foi mais do que Papel porque retirou-se sem dar um passo
contrário aos primeiros que nos servissem de abono a sua palavra, e de firmeza
a um tal Termo de Paz, portanto acredita-lo e no Bando, é o mesmo que acreditar
na falsidade, e assim proponho por ser este o meu dever que a lei me impõe. 1º.
Todas as Autoridades Legitimamente Constituídas só serão responsáveis pelo
Termo de sua Jurisdição, e nunca importar se deve dos outros só se for por requisição
Legal pelo que em qualidade de Juiz de Paz nada tenho com o que todas as mais
Vilas fizerem, e como não tenho Autoridades, ordem, e nem Lei que me autorize,
para atacar Distritos alheios, por isso nenhuma deve recear e desconfiar que eu
obre contra alguma. 2º. Dentro do Distrito de minha Jurisdição, não consentirei
o mais leve insulto, e nem que de outro Distrito venha algum persuadir a vinda
d’El Rei D. Sebastião. 3º. O Tope de Cruz no chapéu neste distrito será crime
de Lesa Majestade, por ser contra o que as Cortes tem estabelecidos. 4º. Não
reconhecer Eduardo como Presidente da Província, por ser este um atentado e um
crime contra a Lei e contra os direitos do Imperador. 5º. Não reconhecer a
Diniz por Comandante Geral, por ser este hum título que não aparece na
Constituição do Império. 6º. As Escunas de Guerra não regressam, porque só
podem fazer por ordem do Exmo. Sr. Presidente que foi quem as mandou. 7º.
Obedecer a Lei e sustenta-la, cumprir as ordens do Exmo. Sr. Presidente, são as
bases em que Pauxis está firmado e toda a agressão contra esta Vila será um
atentado dos maiores e ela a custa da própria vida fará por rebater portanto a
VV. SS. como Autoridades Legalmente constituídas, e a todos aqueles que
obedecerem ordens ilegais, contra o sossego público e particular, contra os
direitos dos cidadãos e suas Propriedades, pela violação da Constituição do
Império e direitos do Imperador, e para que nenhum se queira livrar pegando-se
à ignorância requisito a VV. SS. em Nome do Exmo. Presidente da Província e do
Imperador debaixo da responsabilidade de VV. SS. hajam de espalhar cópias deste
por todas as Vilas e Lugares que se tem envolvido, e de reunir os povos de sua
Jurisdição, e fazer-lhes público este meu ofício, e a Proclamação do Regente do
Império a fim de salvar-se tanta gente enganada, pois que Deus pela sua
misericórdia não deixará de tocar o coração de muitos, e também fiquem sabendo
os Índios que mesmo em Vila Franca se fez uma relação deles como malvados, e
assim também em Alenquer, e que eu tomando a Deus por testemunha lhes digo e
juro que sobre eles se hão de descarregar as mortes, e todos os roubos, e para
que em tempo nenhum, quando eles padeçam digam que nunca tiveram quem lhes
falasse a verdade, por isso esta é a última vez e todo aquele que padecer se
lembrará muitas vezes destas verdades, ultimamente contra malvados e ladrões,
estou disposto dentro do Distrito de minha jurisdição e assim dar eu um
testemunho em honra dos brasileiros que Pauxis quer morrer e padecer, antes que
envolver-se em revoluções para matar e roubar, como sempre disseram os
portugueses desde o princípio da Independência e como infelizmente tem
acontecido para vergonha de todos os brasileiros, enfim para sustentar na
Presidência um homem que nem ao menos é filho desta Província, isso perdeu o
Amazonas toda a sua vergonha, virão com que cara apareceram muitos desses
desgraçados e suas pobres mulheres e filhinhos que terão de chorar os restos
dos seus dias cheios de vergonha, e bem é que VV. SS. por serviço de Deus e da
humanidade façam ver que contra as forças do Imperador não podem igarités,
montarias, Lazarinas, com meia dúzia de cartuxos e taquaras, e façam-lhes ver
que o Saraiva morreu no Engenho de uma Sud. Do Valle onde estava intricheirado
e onde se tomaram oito pessoas que desde Gurupá até Prainha estavam onze
embarcações de Guerra e que Monte Alegre, pelo Centro já estava cercado e
quando subiram estas duas embarcações se esperava por aqueles dias reforço de
gente para debaixo apertar-se o cerco; e que as ordens do Exmo. Sr. Presidente
são não dar Quartel a todos aqueles que estiverem em Armas, e que se desenganem
que eu para os enganar não me sirvo de papéis falsos como eles tem feito para
enganar aos Pobres Índios, mas não tardará muito que eles reconhecerão quem é
que os engana, isto mesmo aconteceu na América Espanhola, onde há poucos anos
ficaram eles perdendo a sua liberdade, e hora há ali o Castigo da Serra,
façam-lhes também ver que quem quer perdão, quem quer Anistia, não pega em
arma, para matar e roubar e não se opõe à obediência da Lei, e assim acreditem
VV. SS. que eu hei de fazer o que devo, com as vistas sempre na Lei apesar de
eu não ter os conhecimentos, e não saber tanto como esses Gerais e Ordinários
Comandantes que se tem servido do nome do Exmo. Revmo. Bispo para prometer
Anistias, quando antes tem declarado sobre eles maldição, como se vê de sua
Pastoral; enfim falar a verdade em todo o caso, para que andam mentindo, mas
não admira que façam aos Índios, porém a nós, é muito galante. Onde está o
Comboio e as embarcações de Guerra, que conduziram os senhores tenentes
coronéis e o Exmo. e Criminosíssimo Eduardo, que vinha com 2$ homens; sem
dúvida foi Obra do Pajé ou daquele Santo Antônio que todos traziam ao pescoço
feitos de casca de pau, com cara de Onça, já sabemos de todas as suas manobras
– fazer sair canoas de noite com gente de noite digo com gente, e entrar de
dia, aqui temos mais gente que nos veio de fora de tal, e tal parte, e da Avó
torta deles e nas suas gritarias, cada um faz 8 e 10 vezes para persuadir muita
gente, enfim este ano foi a terra firme ao fundo, e com a vazante, porque
houveram Macucanas, Macacos e todos os bichos à roda da Vila, e sempre algum
bem fizeram, porque muito carapanã mataram apesar de que até cascos do Lago e
pedaços de ralos serviu a estes Cavalheiros de Malta; o malvado preto ladrão
ainda na barriga da Mãe entrou em Faro para persuadir, que já Pauxis estava em
cinzas, e lá vai esse piloto de pescador que veio do Alto Amazonas feito
Comandante persuadindo a todos que Pauxis pediu Misericórdia e que o Vigário
com a Cruz da Irmandade do Santíssimo e alguns irmãos de sobre palio e Estola
pediu pelo povo e que em Tapajós se faziam preparativos para receber o tal
Presidente ficando em seu lugar na Capital um Caffús de sobrenome Rodrigo Leal;
por ora nada mais digo, podem agora descompor-me que é obra de malcriados e de
gente safadíssima, que não tem vergonha e nem que perder que andam comendo e
bebendo à custa alheia, mas este Ofício não atura, e não está por muito tempo,
que quando derem por si há de procurar as Casas de Jiamba cumpram com o
juramento que deram na posse dos empregos em que estão servindo, pois o Termo
de posse os obriga a sustentar a Lei e não reconhecerem Comandantes Gerais de
rubar, o Tope Nacional e a Bandeira, e mesmo Deus por sua Misericórdia terá de
compadecer-se dos Pobres Tapuios. Deus Guarde a VV. SS. Pauxis, 18 de setembro
de 1836.
(Ao) Ilmo. e
Exmo. Juiz de Paz e mais Autoridades da Vila Franca.
(Assina) Antônio
Manoel Sanches de Brito – Juiz de Paz e acérrimo inimigo dos Ladrões.
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