quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Dez Curiosidades da História de Óbidos



Por Pe. Sidney Augusto Canto

01. Óbidos antes da implantação das escolas públicas...

Em 29 de julho de 1829, o Ouvidor Geral e Corregedor da Comarca do Pará, Manoel José de Araújo Franco, pediu aos juízes ordinários das Vilas que enviassem um relato da situação em que se encontravam as Igrejas Matrizes, o estado e atendimento da saúde e, também, sobre se havia Escolas Públicas ou Particulares, bem como o número de alunos matriculados em ambas. A resposta do juiz ordinário de Óbidos, Pedro Marinho de Vasconcellos, sintetiza a realidade da região:

Não há nesta Villa, nem em seu Districto Escolla Alguma, nem Aulla, apezar das repetidas requizições que setem feito ao Governo, advertindo, que nem Públicas, nem particulares, nem de menores, nem de maiores estudos; e por conciquencia não existem Allunos alguns, salvo aquelles que seus próprios Pais insinão aquilo que pouco ou nada entendem. Esta falta he bem para lastimar, e que, e ella seacha esta Juventude, vivendo nas trevas da mais crasa ignorância, criando-se, vivendo, eacabando, sem nunca conhecerem os seus inalianaveis direitos e deveres, ao mesmo passo que já mais podem ser uteis á Sociedade, a Pátria [ilegível no documento]... quando esta Villa. E sua População, Comercio, Agricultura; e Civilização.

02. Um antigo folguedo de Boi-Bumbá em Óbidos...

Não é de hoje que algumas tradições se perdem. Em 1850 havia em Óbidos o folguedo de Boi-bumbá. O interessante é que, segundo uma nota publicada no Jornal “O Velho Brado do Amazonas”, de setembro daquele ano, dizia que este folguedo, dançado por Escravos, era dirigido por dois escravos de nomes Casemiro e Claudino. Acontece que tais escravos eram propriedade do delegado de polícia da então Vila de Óbidos, o bacharel Félix Gomes do Rego, que ameaçava prender na cadeia uma porção de rapazes da “melhor sociedade de Óbidos” só porque estes jogavam carretilhas sobre o Boi-bumbá dançado pelos escravos obidenses.

03. O Dr. José Veríssimo e os petrógrafos da Serra da Escama...

O médico José Veríssimo de Mattos (pai do imortal e fundador da Academia de Letras, José Veríssimo), quando de sua estadia em Óbidos, fazia frequentes visitas na Serra da Escama. Lá, teve a oportunidade de contemplar os trabalhos deixados pelos primitivos humanos que habitaram aquele lugar, deixando gravado nas pedras a sua passagem por este mundo.
O Dr. José Veríssimo fez, em 1866, uma série de desenhos das figuras gravadas nas rochas da Serra da Escama, sendo o primeiro brasileiro (Wallace, que era inglês, já havia feito cópias dos desenhos da Serra do Erere, em Monte Alegre alguns anos antes), a fazer um trabalho deste valor na Amazônia. Seus originais foram, mais tarde, doados ao cientista Frederico Hartt que as usou como ilustração em um de seus trabalhos. O pai de José Veríssimo pode ser, assim, considerado um dos primeiros arqueólogos de terras obidenses.

04. Um imortal obidense pouco conhecido...

Em 27 de novembro de 1885, nascia na cidade paraense de Óbidos, Benjamim Franklin de Araújo Lima, filho de João Francisco de Araújo Lima e de dona Maria Amélia Mendonça de Araújo Lima. Deixando sua terra natal e dedicando-se aos estudos, Benjamim Lima formou-se em Direito, exercendo as funções de advogado, professor, jornalista e crítico literário. Escritor e teatrólogo, foi membro da Academia Amazonense de Letras, ocupando a cadeira de número nove. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 09 de janeiro de 1948.

05. Atividades musicais obidenses...

Óbidos também é terra de bons e inúmeros musicistas. Em 1921 começou a se pensar na organização de uma sociedade musical que pudesse servir não somente como escola de música para a juventude, bem como organizar um grupo musical para abrilhantar as festas cívicas e religiosas do município. A ideia nasceu do musicista Orestre José Ribeiro.
Naquele ano, vale ressaltar, as festividades da posse do Intendente Correa Pinto e do novo Conselho de Vogais da Intendência Municipal foi abrilhantado com a banda de música do Colégio São Francisco que executou diversas músicas do seu bem organizado e variado repertório.

06. Sobre a educação obidense...

Em 1921, os alunos da Escola Elementar Mista do Paraná Maria Tereza, foram examinados pelos professores normalistas Cassilda Sampaio Penna Pinheiro e José Barroso Tostes, sob a direção da professora Reginalda Moreira de Souza.
O dr. Correa Pinto, Intendente de Óbidos, não se preocupava somente com a instrução pública, mas também incentivava a iniciativa privada. A ideia era de que se estabelece um Colégio com regime de internato e externato que pudesse rivalizar com a educação oferecida nos colégios da capital do Estado. Para isso, o intendente contava com o entusiasmo do professor dr. Modesto Costa com a colaboração do normalista José da Silva Nunes.

07. As festividades de São Benedito das flores...

Havia em Óbidos uma bonita e tradicional festa de São Benedito das Flores, promovida pelos negros desde a época do império. Contudo, nos primeiros anos do século XX, havia diversos conflitos com os frades franciscanos, pois estes queriam que a festividade fosse feita por pessoas de confiança dos padres enquanto a diretoria da festa não aceitava a intervenção dos mesmos.
Em 1921 a diretoria da festividade estava formada pelos senhores: José Araújo, Domingos Fernandes Ramos, José Azevedo dos Santos, Clarindo Pinheiro da Silva e Benedito José dos Santos. Que enfrentaram a resistência de Frei Rogério Voges que, não somente desautorizou a festa como dizia abertamente que os festeiros queriam implantar uma “anarquia de culto”. O frequente impasse entre a Diretoria da Festa e os vigários acabou por um fim na tradicional festividade.

08. Uma estrada sugerida pelo Marechal Rondon...

Nos anos de 1928 e 1929, uma expedição partiu de Óbidos em direção aos “Campos Gerais da Guiana”. Essa empreitada foi comandada por ninguém menos que o marechal Cândido Rondon. Após manter contato com diversos indígenas bem como com os remanescentes dos quilombos dos Rio Trombetas, o marechal Rondon apresentou ao Governo Federal um projeto de construção de uma Estrada que, partindo de Óbidos, e seguindo no sentido Sul-Norte pudesse atravessar e integrar os “Campos Gerais da Guiana” ao restante do país. O projeto visava facilitar a ocupação da Guiana Brasileira para a criação de gado e exploração de balata (Borracha) e dos castanhais existentes na região.

09. A questão dos pobres Lázaros

Em 1940, a cidade de Óbidos possuía uma “Sociedade de Assistência aos Lázaros” que vivia em franca atividade. Para conseguir atender seus objetivos, a Sociedade fazia frequentes promoções em prol de angariar recursos para construir um Leprosário que atendesse aos doentes da cidade ou encaminhá-los ao Leprosário da Capital do Estado.

10. Sobre o jornalista Saladino Brito...

Em 1958 a cidade de Óbidos possuía um jornalzinho de nome “O Amazônico”. Obra do esforço do poeta Saladino Brito. Ele não era somente o proprietário, era o repórter, o redator, o datilógrafo, o impressor, o jornaleiro e, principalmente, o corajoso de fazer distribuir gratuitamente a maioria dos exemplares. O jornalzinho era um órgão “independente, lítero-humorístico e noticioso”, conforme dizia seu cabeçalho. Trazia, em suas oito colunas, notícias e comentários sobre futebol, vida rural, sociedade obidense, publicidade e, também, algumas poesias para saciar o bom gosto literário que possuíam os obidenses.


NOTAS: A foto que ilustra este texto é do Quartel de Óbidos como se encontrava em 1915, pouco tempo depois de ter sido concluído. Texto escrito a partir de fontes do acervo da Biblioteca Nacional e do acervo pessoal do autor.

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