terça-feira, 1 de outubro de 2019

Uma comemoração republicana em Óbidos


Por Padre Sidney Augusto Canto

Corria o ano de 1900...

Era o dia 15 de novembro. Dia festivo na nação e também no município de Óbidos. Aportado no porto da cidade estava o cruzador “Tiradentes”, da marinha brasileira, que no amanhecer saudou o dia com uma salva de 21 tiros de canhão.

Às oito e meia da manhã, com toda a solenidade possível, realizou-se a posse do novo Intendente Municipal de Óbidos e demais membros do Conselho Municipal (chamados de vogais, equivalia às funções dos atuais vereadores). O coronel José Antônio de Mattos Piranha assumiu o cargo de Intendente, reeleito que fora para tal, o mesmo era chefe do Partido Republicano local. 

Logo em seguida, às nove horas da manhã, os eleitores obidenses foram cumprir com a obrigação democrática do voto, para escolher o novo Governador e o Vice-Governador do Estado do Pará. Duas sessões funcionavam para recolhimento dos votos. A primeira ficava na sede da Intendência Municipal e a segunda na Escola do sexo masculino. As tensões políticas dos dois partidos existentes, o Republicano (ou lemistas) e o Federal (ou lauristas) era evidente no meio social obidense. Naquele dia, ao menos na cidade de Óbidos, o partido Republicano saiu vencedor.

Uma carta, publicada no “O Jornal”, do dia 27 de novembro de 1900, ilustra um pouco do clima que vivia a cidade de Óbidos por ocasião daquele pleito eleitoral:

É lastimável, mas é necessário que não permaneça na sombra o desacerto do candidato amparado pelo Partido Federal, ou laurista, que no auge do seu despeito, esqueceu-se dos homens conceituados e velhos alicerces do partido que o amparou, para com flagrante desconsideração destes encarregar de sua eleição, neste município, a pessoas estranhas, sem a precisa calma, sem o menor conhecimento do eleitorado e sem prestígio.
O alferes Hilário, do 15º batalhão de infantaria, que comanda o Forte desta cidade, foi o encarregado por esse candidato de sua eleição e, como seu ajudante, lhe foi enviado da capital o tenente-coronel Marcos Nunes.
Esse chefe improvisado teve a triste ideia de que podia conseguir votos e vencer a eleição por meio do terror e ameaças. O seu plano foi posto em prática por si, por seu ajudante e por mais um comparsa que voluntariamente se alistou para que trempe fosse completa. O resultado, como era de esperar, foi negativo, o improvisado chefe do partido que amparou o candidato colhido na rua conseguiu apenas sete votos!

Um fato triste, entretanto, há que se lamentar. Conforme o costume, pelo meio dia nova salva de 21 tiros de canhão fora disparada, desta ver pela artilharia do Forte Pauxis. No entardecer, quando se disparava a salva festiva das seis da tarde, um praça do forte foi mortalmente ferido e outro teve queimaduras provenientes do disparo de um dos canhões do forte. O jovem soldado morreu duas horas depois da última salva de fogos do dia. Seu enterro, no dia seguinte, teve todas as honras militares a que tinha direito.

NOTA: Fonte documental utilizada – O Jornal, 1900, ed. 070.

Nenhum comentário:

Postar um comentário