Mais uma vez
temos sido procurados por pessoas vindas de Boa Vista, que nos vem relatar
fatos ali ocorridos, os quais, uma vez apurados e provados, reclamam uma séria
intervenção dos poderes competentes do Estado. Pondo de quarentene, todavia, as
informações que nos são trazidas pelo fato de não querermos ser veículo de
falsas notícias, temos nos obstado a registrá-las, mesmo porque, sem prova
bastante, ninguém há que, sem boa intenção ouse fazê-lo.
Acontecendo,
porém, encrudescerem as queixas e reclamações das sedizentes vítimas das
arbitrariedades boa-vistenses, não achamos justo deixar de registrá-las agora,
o que fazemos com a necessária reserva.
Estiveram em
nossa redação os senhores Odet Souza Penha e Luiz Caetano da Silva, chegados de
Boa Vista no vapor “Zé Antunes”, à 08 de maio do corrente, dos quais ouvimos
sérias recriminações contra Raul Sosinho, chefe da fiscalização da Companhia
Ford Industrial do Brasil, que se arroga ou é arrogado autoridade policial de
ameaçar, prender e espancar os trabalhadores da Fordlândia por qualquer
dá-cá-aquela palha, estendendo sua “jurisdição”, muitas vezes, até o lugar
Cassipá, que não está compreendido nas terras concedidas à referida empresa
yankee.
O sr. Luiz Caetano
da Silva, segundo nos declarou, foi vítima do roubo na importância de
1:100$000, sendo-lhe arrombada a gaveta da bancada em que trabalhava onde
depositara a aludida importância. Como reclamasse e pedisse providências, foi
preso pelo “delegado” Sosinho, que, de lápis em punho, armou a farsa de um
inquérito... contra o queixoso, não permitindo sequer que este se apresentasse
ao gerente da Companhia para pedir-lhe sua interferência.
O outro, sr.
Odet Penha, pelo fato de ser “criminoso”, não foi admitido a trabalhar em Boa
Vista e como pedissem provas da acusação que lhe davam, foi ameaçado e intimado
a retirar-se do “território” pelo “prefeito” Sosinho. Não satisfeito com isso a
arbitrária autoridade prendeu-lhe a amasia, que residia em Cassipá, e, com
outros comparsas, meteu-a em uma lancha e depois de regulares libações tratou
de conquista-la... Odet, revoltado com o baixo proceder de Sosinho, recriminou-lhe
a feia ação, sendo preso e encarcerado durante três dias, a pão e água.
Foram estas as
informações que nos foram dadas pelas sedizentes vítimas dos desmandos de
Sosinho, que não é autoridade constituída e não tem, portanto, atribuições para
prender, abrir inquérito, etc.
Cumpre sejam
averiguados esses fatos e, uma vez provados, punidos os responsáveis, a fim de
que não se reproduzam em um país civilizado onde há leis e justiça, cenas que
degradam.
NOTA: Texto
extraído do jornal “A Cidade” de 10 de maio de 1930.
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