Na rebelião de
Jacareacanga, o major Haroldo Veloso desceu em Santarém, a mais próspera cidade
do Baixo Amazonas, encheu o aeroporto de tambores de óleo e ficou entrincheirado
lá. Mesmo assim, o repórter Oswaldo Mendes, hoje diretor da Mendes Publicidade,
saiu de Belém, em um teco-teco, conseguiu descer e foi para a cidade.
Santarém tinha
três agências bancárias: Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Caixa Econômica
Federal. Os gerentes ficaram em pânico, com medo de o major mandar requisitar
os depósitos. Cada um dos três imaginou logo uma solução que pareceu genial:
tirar o dinheiro e depositar na agência do outro, para afastar a
responsabilidade das próprias costas. Só que se encontraram no meio da rua e o
plano tríplice fracassou.
Discutiram,
analisaram a situação e decidiram convocar a cidade para ir até o aeroporto
implorar ao major Veloso que, se fosse requisitar o dinheiro, deixasse um
documento para evitar consequências funcionais contra os três. Às sete da
noite, com archotes na mão, lá se foram umas 500 pessoas até o aeroporto pedir
clemência ao terrível revolucionário.
Quando se
aproximaram, Veloso imaginou um ataque e se preparou para reagir. Não era. Os
três gerentes se adiantaram e apresentaram o problema: não queriam truncar suas
carreiras bancárias e esperavam que o major entendesse. Veloso caiu na
gargalhada.
– Vocês estão
malucos? Não quero um tostão.
E todas as
compras que fez na cidade, nos dias em que ficou lá entrincheirado, foram pagas
a dinheiro. Santarém ficou encantada com Veloso. Daí nasceu sua liderança
política lá. Anos depois, quando se candidatou a deputado federal, a cidade lhe
deu uma votação espetacular. Pela raspa bancária que não fez.
NOTA: Texto
extraído da revista “Politika”, ano 1972, edição 048.
Nenhum comentário:
Postar um comentário