domingo, 24 de maio de 2020

A cultura do algodão no município de Santarém em 1929


Outrora, apaixonado pelo plantio do algodão, hoje, modesto observador do desenvolvimento de sua cultura neste município, cuja melhoria acompanhamos com interesse, não nos podemos furtar de exteriorizar a nossa grande satisfação por ver que o algodão de Santarém alcança um grau de destaque bem apreciável.
Anos atrás, a cultura dessa malvácea era aqui empiricamente feita pelos meios os mais rotineiros. Mesclado, havendo uma variedade desuniforme de tipos, era feito o plantio sem orientação e sem nenhum conhecimento cultural, trazendo ao lavrador, em consequência, muitas vezes, fracasso à quantidade, à qualidade e ao rendimento.

Apesar do aspecto do algodão ser bom, nada obstante, naturalmente provindo de algumas moléstias, apresentava-se por vezes creme, fofo e com manchas amarelas, trazendo consigo folhas e gravetos, que muito prejudicavam a sua classificação comercial e cotação.
A falta de um tipo uniforme, pelas diversas variedades e por não haver seleção e outros fatores culturais indispensáveis, importava em termos um algodão com fibras curtas e irregulares, se bem que resistentes.
Tivemos ocasião de percorrer alguns algodoais em zonas algodoeiras deste município, não só em tempo de desenvolvimento da planta como na época da colheita e de constatar o quanto dizemos linhas acima. Verificamos mesmo, em alguns algodoais, mistura de variedades em cada cova, tais como inteiro, quebradinho, herbáceo e riqueza, facilmente distinguíveis pelo porte e pela apresentação das folhas.
Hoje, porém, com prazer o afirmamos, tudo mudou, desaparecendo em grande parte o quanto notamos em princípio.
Este ano observamos detidamente o algodão aqui produzido e confrontando-o com o de anos atrás, notamo-lo grandemente melhorado: limpo de detritos, pluma branca, fibrosa e longa, parecendo caminharmos para a fixação de um tipo – o herbáceo.
Tivemos predileção pelo “riqueza” por considerarmo-lo um tanto rústico, precoce e resistente, de boa fibra e rendoso, e por isso de recomendável cultivo.
Todavia, parece-nos que o herbáceo corresponde perfeitamente ao tipo que convém a este município.
Confessamos que somos leigo em assunto de tamanha importância pelo que o nosso modesto reparo, oriundo de observações, não deve incidir na censura dos competentes profissionais. Cedemos a palavra aos técnicos da nossa Fazenda de Sementes de Santarém, em feliz hora instalada pelo Governo Federal em “Uaratinga”, neste município, para que digam com proficiência o que se oferecer a respeito.
Entretanto, permitimo-nos dizer que somos dos que afirmam que a grande melhora que se nota no algodão deste município é resultado do trabalho e da utilidade da referida Fazenda de Sementes de Santarém.
Dezembro de 1929.
CUNHA MENDES.

NOTA: Texto extraído do jornal “A Cidade” de 04 de janeiro de 1930.

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