Outrora,
apaixonado pelo plantio do algodão, hoje, modesto observador do desenvolvimento
de sua cultura neste município, cuja melhoria acompanhamos com interesse, não nos
podemos furtar de exteriorizar a nossa grande satisfação por ver que o algodão
de Santarém alcança um grau de destaque bem apreciável.
Anos atrás, a
cultura dessa malvácea era aqui empiricamente feita pelos meios os mais
rotineiros. Mesclado, havendo uma variedade desuniforme de tipos, era feito o
plantio sem orientação e sem nenhum conhecimento cultural, trazendo ao
lavrador, em consequência, muitas vezes, fracasso à quantidade, à qualidade e
ao rendimento.
Apesar do
aspecto do algodão ser bom, nada obstante, naturalmente provindo de algumas
moléstias, apresentava-se por vezes creme, fofo e com manchas amarelas, trazendo
consigo folhas e gravetos, que muito prejudicavam a sua classificação comercial
e cotação.
A falta de um
tipo uniforme, pelas diversas variedades e por não haver seleção e outros
fatores culturais indispensáveis, importava em termos um algodão com fibras
curtas e irregulares, se bem que resistentes.
Tivemos ocasião
de percorrer alguns algodoais em zonas algodoeiras deste município, não só em
tempo de desenvolvimento da planta como na época da colheita e de constatar o
quanto dizemos linhas acima. Verificamos mesmo, em alguns algodoais, mistura de
variedades em cada cova, tais como inteiro,
quebradinho, herbáceo e riqueza,
facilmente distinguíveis pelo porte e pela apresentação das folhas.
Hoje, porém, com
prazer o afirmamos, tudo mudou, desaparecendo em grande parte o quanto notamos
em princípio.
Este ano
observamos detidamente o algodão aqui produzido e confrontando-o com o de anos
atrás, notamo-lo grandemente melhorado: limpo de detritos, pluma branca,
fibrosa e longa, parecendo caminharmos para a fixação de um tipo – o herbáceo.
Tivemos
predileção pelo “riqueza” por considerarmo-lo um tanto rústico, precoce e
resistente, de boa fibra e rendoso, e por isso de recomendável cultivo.
Todavia,
parece-nos que o herbáceo corresponde perfeitamente ao tipo que convém a este
município.
Confessamos que
somos leigo em assunto de tamanha importância pelo que o nosso modesto reparo,
oriundo de observações, não deve incidir na censura dos competentes
profissionais. Cedemos a palavra aos técnicos da nossa Fazenda de Sementes de
Santarém, em feliz hora instalada pelo Governo Federal em “Uaratinga”, neste
município, para que digam com proficiência o que se oferecer a respeito.
Entretanto,
permitimo-nos dizer que somos dos que afirmam que a grande melhora que se nota
no algodão deste município é resultado do trabalho e da utilidade da referida
Fazenda de Sementes de Santarém.
Dezembro de
1929.
CUNHA MENDES.
NOTA: Texto
extraído do jornal “A Cidade” de 04 de janeiro de 1930.
Nenhum comentário:
Postar um comentário