sábado, 17 de setembro de 2016

O homem que colocou o “Ç” no Sairé

Os calorosos debates que surgem, principalmente nesta época do ano, é sobre a grafia do Sairé. Já escrevi algumas linhas sobre isso, inclusive no meu livro “Alter do Chão e Sairé: Contribuição para a história”. Mas a pedido de algumas pessoas, vamos responder a pergunta que me fizeram hoje pelo whatsapp.
Bem, até 1872, Sairé se escrevia com “S”. E quem colocou o “Ç”?
Foi o botânico João Barbosa Rodrigues (foto).



Estando em Santarém, no mês de junho daquele 1872, o mesmo acompanhou a festa do Sairé que aconteceu no Bairro da Aldeia, na Vila de Santarém. Lá ele recolheu e fez uma bela descrição que ainda hoje é válida. No entanto, ao grafar o nome da festa, ele fez algo que até hoje é motivo dos calorosos debates acima citados.
João Barbosa Rodrigues achava que o nheengatu, falado no Pará, estava errado. Ele considerava como certo o tupi, falado pelos indígenas do sul do país. O que fez ele? Tirou o “S” da grafia nheengatu, falado pelos nossos antepassados e, como diz o nosso caboclo, “tacou-lhe” o “Ç”. Sim, não tem nada a ver com os nosso antepassados indígenas, o “Ç” tem origem no desejo de um botânico em achar que nós, amazônidas, estávamos errados em nossa cultura e ele estava certo.
O erro de Barbosa Rodrigues foi criticado por ninguém menos que José Veríssimo, membro fundador da Academia Brasileira de Letras (que grafava “S” no Sairé e fez uma bela explicação sobre o mesmo em sua obra). José Veríssimo não somente criticou o fato da ingerência de Rodrigues na grafia nheengatu, como também criticou diversas lendas que foram mudadas por ele (novamente por achar que nossas lendas estavam erradas e as lendas do sul estavam mais corretas).

O erro de Barbosa, publicado em suas obras, foi reproduzido por outros autores e, em 1997, um grupo de pessoas, que desconheciam a origem do “Ç”, orientaram o ex-prefeito Lira Maia a fazer a troca na festa de Alter do Chão. A partir daí o uso do “Ç” deixaria de ser uma questão de grafia e passaria a animar as disputas políticas em torno da festa...

7 comentários:

  1. O interessante é que vem um ser lá dos confins do mundo e muda a cultura de milhares de pessoas, respaldados por uma minoria de bucéfalos. VIVA O SAIRÉ !!

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  2. Apesar da aberração ortográfica, valeu pela publicidade gerada pela repercussão

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  3. Padre o nheengatú é uma variação do tupi guarani, ou seja o tupi já ccom a contribuição da lingua portuguesa e não era falado apenas no norte do Brasil. chegou a ser quase que a língua geral em são paulo, Rio de janeiro e litoral brasileiro. foi difundida na amazônia pela catequese onde encontrou terreno fértil e ainda hoje é falada no Rio no Estado do Amazonas. Se levarmos em conta o tupi guaraní, língua materna da maioria de nossos índígenas, inclusive os de nossa região, o Çairé só pode ser escrito de um jeito: com Ç

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  4. Caro Paulo Cidmil
    João Barbosa Rodrigues apresenta algumas ideias que são interessantes, entre elas, a de que deveria haver uma única língua geral pautada pelo tupi falado no sul. O nhengatu falado no Pará no século XIX para ele estava todo errado (ele não levou em consideração que cada região tinha variações na língua geral). O próprio Barbosa Rodrigues ainda sugere que o nome SAIRÉ tenha origem não na língua geral, mas na EUROPA. Enfim... Novos estudos no futuro ainda tem muito mais a revelar. Por hora, antes de Barbosa Rodrigues não há registros ou documentos que grafem o "Ç". José Veríssimo (que era conhecedor do nhengatu) afirma categoricamente que a grafia correta é com S, Antonio Ladislau Baena também. E muitos mais... Hoje, a questão gira muito mais em torno da política e da economia que mantém a festa, totalmente desprovida de suas raízes catequéticas colonizadoras que lhe deram origem.

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  5. Padre,isso procede?

    çairé
    Por joão bosco almeida (PA) em 09-03-2011


    Significado de çairé:

    A palavra çairé deriva de çai e eré, "salve! tu o dizes", significando saudação, de origem tupy.


    Exemplo do uso da palavra çairé:
    Uma procissão de mulheres que carregam o instrumento de mesmo nome (çairé). a procissão dirige-se à igreja, à casa do juiz da festa, do páraco, e lá se faz as saudações adequadas. era uma festa das comunidades dos rios solimões, negro, tapajós, para comemorar o início do verão (período sem chuvas) na região amazônica.

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