Alenquer, a
interessante princesa do Itacarará, deu à luz!
No canto do comitê,
comentava-se o fato, cercando-o dos melhores elogios ao governo alenquerense.
A luz é
esplêndida e o maquinismo a última palavra do gênero, basta dizer que são
alemães.
Alguns antigos
germanófobos torciam o nariz...
O major Oscar,
entusiasmado, enumerava as vantagens da caldeira.
Uma caldeira
econômica a bessa!
Imaginem que
apenas come 15 achas de lenha por hora! E ainda sobram uns gravetozinhos!...
O motor é de tal
perfeição que, quando vai rareando o lubrificante no depósito, uma campainha
bate: “trim... trilinlim...” chamando a atenção do maquinista, porventura
descuidado.
O Sylvio deu um
moxóxo [sic] desdenhoso e declarou: – Ora, isso não é nada rapazes, eu já vi
coisa melhor e não era alemã, era americana legítima.
E começou: –
Quando eu estava em New York, tive ocasião de visitar, por várias vezes, uma
fábrica de salsichas e linguiças, a mais perfeita e moderna da América e até do
mundo inteiro.
As máquinas,
novinhas em folha, rebrilhavam, ao reflexo das fornalhas, os metais prateados e
dourados das engrenagens.
Cada peça
importante, cada cilindro, cada regulador, tinha uma corneta de metal e vários
discos de caucho, iguais aos dos antigos fonógrafos.
E todas as
cornetas correspondiam matematicamente às necessidades dos maquinismos.
Quando ia
faltando óleo, uma delas gritava: – Olha azeite! E o maquinista apertava um
botãozinho e o óleo escorria. Outra gritava: – A pressão vai baixando! E o
foguista atirava carvão na goela da fornalha. Outras berravam: – Cuidado com a
engrenagem! Aperta o parafuso! E assim por diante...
A máquina de
linguiças era como uma perfeita maravilha: metia-se um leitão de um lado e saía
lá do outro já transformado em saborosas linguiças, que os ajudantes iam
aparando em tabuleiros e enviando à secção de enlatamento.
Um pequeno
parafuso graduava o tamanho e a grossura das linguiças à vontade do fabricante
e de acordo com as encomendas.
Certa vez
assisti a uma peripécia em que vocês talvez não acreditem, mas é a puríssima
verdade.
O caso foi
assim: veio um sujeito com um porco às costas – por sinal que era um belo
capado Larg-Black, gordo e roliço – chegou. Entregou-o ao maquinista e
este atirou com o suíno para dentro do aparelho.
Daí a cinco
minutos e as linguiças começaram a cair nos tabuleiros, lá do outro lado.
Nisto entra uma
inglesa velha gritando: – Ah! Mim estar roubada! Porco ser meu! Mim vai chamar
police-man pegar ladron de minha porco!
O maquinista,
sereno e fleumático, mostrou-lhe os tabuleiros de linguiças, dizendo-lhe: – Seu
porco estar ali. Senhora levar linguiças e non gritar mais!
– No senhor
maquiniste, mim querer porco viva e gorda como ladron achou! Non querer
linguiças!...
Então o mecânico
gritou ao ajudante: – Senhorre ajudante, devolve linguiças pela mesma caminha!
E, puxando uma alavanca fez a máquina dar atrás a toda força.
O ajudante
despejou o tabuleiro do lado de lá, e daí a poucos momentos o gordo Larg-Black
saía por onde tinha entrado, vivo e esperto, causando os seus gemidos as
exclamações de alegria da velha inglesa.
E o Sylvio
terminou: – Isto é que é máquina, o mais é conversa!
NOTA: Publicado
no Jornal A Cidade de 04 de abril de 1925. O autor, usando o pseudônimo de
“João Mocorongo” era Paulo Rodrigues dos Santos.
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