Por padre Sidney
Augusto Canto
Muito ainda há
que se estudar sobre a pessoa do Padre João Felipe Bettendorff, SJ. Mais do que
o fundador da Missão Jesuíta entre os índios Tapajós, Pe. Bettendorff foi um
missionário que procurou compreender a Amazônia e dedicou a maior parte de sua
vida (de 1660 a 1698) a esta nossa terra e aos diversos povos indígenas que
aqui existiam.
Contemporâneo do
Padre Antônio Vieira, não deixou de ser maior do que este em seu trabalho
pastoral e também nas obras escritas. Pe. Bettendorff foi um dos padres
Jesuítas que mais escreveu sobre a Amazônia no século XVII. Muitas de suas
cartas continuam inéditas (possuo cópia de duas delas, que encontrei nos
arquivos da Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB).
Escreveu diversos livros, entre eles diversos “Catecismos” (um deles foi
escrito na língua dos “Tapajós” e outro das dos “Urucucus”, tribos que foram
missionadas por ele na Missão de Nossa Senhora da Conceição dos Tapajós).
Recentemente,
chegou-me às mãos o seu “Compendio da Doutrina Cristã na Língua Portuguesa e
Brasílica”, que teve uma primeira edição no ano de 1684, e uma segunda, feito a
mando de Dom João VI, enquanto Príncipe Regente, no ano de 1800. Uma obra que
vale a pena ser lida não somente pelo caráter religioso e histórico, mas também
pela riqueza de uma época que parece distante no tempo, mas que mantém ecos na
vida do povo nos dias atuais.
Dividido em duas
partes (orações e doutrinas) o “Compêndio” traz ainda o ritual para batizar em
casa, em perigo de morte e também o modo como se devem acompanhar os moribundos
antes da morte.
Naquele tempo, a
Catequese Doutrinal era, além dos Sacramentos, o principal “trabalho pastoral”
dos missionários. Por isso, o próprio Pe. Bettendorff oferece aos “usuários” de
sua obra, em uma pequena introdução, indicando o modo como deveria ser ensinada
a doutrina:
O Doutrineiro (que no Compêndio vem
indicado pela palavra “Mestre” em oposição aos doutrinados, indicados pela
palavra “Discípulo”) posto diante de todos, em lugar mais chegado ao Altar, faz
com eles o sinal da Santa Cruz em voz alta, clara e distinta, e diz o Padre
Nosso, a Ave Maria, o Credo, os Mandamentos da Lei de Deus, e da Santa Madre
Igreja Católica: os Sacramentos e as Virtudes Teologais, com o mais que
conforme as circunstâncias lhe parecer melhor.
Depois disso faz as perguntas, as quais
respondem comumente todos, tirado nos dias de Domingo, e Festas em que se faz a
Doutrina geral depois do jantar (nosso almoço de hoje, na época). Acabadas as
perguntas, se põem todos de joelhos, e dizem a Confissão geral, com o Ato de
Contrição.
A doutrina, que
podia ser feita de uma vez, ou em mais vezes conforme o caso (e mais comumente
feito nas Missões), terminava sempre com a entoação de cânticos. Em dias de
sábado e Festas “Marianas” ainda era entoada as Ladainhas e a Salve Rainha.
O “Compêndio”
foi publicado de forma bilíngue, Pe. Bettendorff teve o cuidado de indicar
algumas orientações com relação à pronúncia da “língua brasílica” (tupi) para
facilitar o ensinamento por parte dos padres que usariam o livro na catequese
dos indígenas. Transcrevemos aqui, da edição do ano de 1800, a oração do PAI NOSSO, conforme escrita pelo
ilustre jesuíta, fundador da Missão da foz do Tapajós, e ensinada por ele aos
nossos antepassados:
Ore
rûb, ybákype tocoár, imöetépyramo nde rêra töicó. Töúr nde Reino: Tonhe monhang
nde remimotâra, ybýpe, ybâkype inhemonhânga iabé: Ore rembïú âra iabiõ ndöára
ëimëêng corí orébe: ndenhirõ ore angaipâba recé orébe, Orérerecomemoãçâra çupé
orenhirõ ïabé: Oremoarucârumé ïepé tentaçaõ pupé, orepycyrõ te ïepe mbäé äiba
çüí. Amem Jesus.
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