quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Artigo: A Companhia de Comércio e a Escravidão em Santarém


Pe. Sidney Augusto Canto

Criada em 1755, a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, fazia parte do plano mercantilista do governo pombalino para desenvolver o comércio na Colônia e favorecer o monopólio comercial com a Coroa Portuguesa. A criação desta Companhia de Comércio, posta no mesmo tempo que a lei de Liberdade dos Indígenas, acabou por favorecer a importação dos escravos africanos no Grão-Pará. Os documentos indicam que, entre 1755 e 1778, foram introduzidos pela Companhia na Amazônia, 10.889 escravos africanos.
Alguns fazendeiros e comerciantes de Santarém aproveitaram dos incentivos oferecidos pela Companhia para comprarem escravos. Quando da dissolução da Companhia, após a morte do rei Dom José I e o ostracismo do Marques de Pombal, muitos dos comerciantes e fazendeiros do Grão-Pará não puderam quitar suas dívidas para com a Companhia. Alguns perderam suas terras e fazendas, outros, para quitarem suas dívidas, devolveram seus escravos. É o caso de um fazendeiro de Santarém, Francisco José Fernandes dos Reis, que tinha uma fazenda no Ituqui e que teve que pagar suas dívidas por meio de escravos que foram devolvidos no processo movido contra ele pelo Estado Português. Abaixo, transcrevemos a dita relação dos escravos e o valor da venda dos mesmos para a liquidação da dívida:


Relação dos escravos que vieram à posse da Companhia em consequência do processo de execução por dívida movido a Francisco José Fernandes dos Reis, do lugar de Ituqui, fronteiro à Vila de Santarém, em maio de 1822.
1 - Marcelino, pretinho crioulo, de 3 anos, filho da escrava Joana falecida por afogamento. Avaliado em 30$000 réis e vendido em leilão por - $500
2 - Francisco, crioulo, vendido ao físico-mor, Antônio Correia de Almeida, por - 200$000
3 - Antônio, de "nação Congo", "sem vista em um olho", vendido a Francisco José Teixeira, por - 200$000
4 - Francisco de Sousa, de "nação Mina", vendido ao capitão Antônio Luís Coelho, de Santarém, por - 70$000
Por vender:
5 - Catarina Victória, preta velha, de 60 anos, avaliada em - 60$000
6 - Benedito, cafuzo, 15 anos, "filho de Catarina", avaliado - 220$000
7 - Manuel, pretinho, de "nação Mina", de 36 anos, avaliado - 180$000
8 - José Cachunço, preto, de 30 anos, "doente da perna esquerda", avaliado em - 140$000
9 - Maria, preta, de "nação Rebolo", de 30 anos, avaliada em - 150$000
e seus três filhos:
10 - Manuel, criança de mama, pretinho - $
11 - José, pretinho, de 1 ano, avaliado em - 15$000
12 - Balbina, pretinha (falecida após a avaliação) - $
13 - Maria Cumundá, preta, de 35 anos, avaliada em - 150$000
14 - Tomé, pretinho crioulo, de 5 anos, avaliado em - 50$000
15 - Juliana, pretinha crioula, avaliada em - 40$000
Soma: 1:475$000

Este é mais um documento que ajuda a iluminar a presença africana em Santarém na época colonial e pode nos ajudar a entender não somente as relações comerciais, como as relações sociais que daí nasceram.


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