Pe. Sidney
Augusto Canto
Criada em 1755,
a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, fazia parte do plano mercantilista
do governo pombalino para desenvolver o comércio na Colônia e favorecer o
monopólio comercial com a Coroa Portuguesa. A criação desta Companhia de
Comércio, posta no mesmo tempo que a lei de Liberdade dos Indígenas, acabou por
favorecer a importação dos escravos africanos no Grão-Pará. Os documentos
indicam que, entre 1755 e 1778, foram introduzidos pela Companhia na Amazônia,
10.889 escravos africanos.
Alguns
fazendeiros e comerciantes de Santarém aproveitaram dos incentivos oferecidos
pela Companhia para comprarem escravos. Quando da dissolução da Companhia, após
a morte do rei Dom José I e o ostracismo do Marques de Pombal, muitos dos
comerciantes e fazendeiros do Grão-Pará não puderam quitar suas dívidas para
com a Companhia. Alguns perderam suas terras e fazendas, outros, para quitarem
suas dívidas, devolveram seus escravos. É o caso de um fazendeiro de Santarém,
Francisco José Fernandes dos Reis, que tinha uma fazenda no Ituqui e que teve
que pagar suas dívidas por meio de escravos que foram devolvidos no processo
movido contra ele pelo Estado Português. Abaixo, transcrevemos a dita relação
dos escravos e o valor da venda dos mesmos para a liquidação da dívida:
“Relação dos escravos que vieram à posse da
Companhia em consequência do processo de execução por dívida movido a Francisco
José Fernandes dos Reis, do lugar de Ituqui, fronteiro à Vila de Santarém, em
maio de 1822.
1 - Marcelino, pretinho crioulo, de 3
anos, filho da escrava Joana falecida por afogamento. Avaliado em 30$000 réis e
vendido em leilão por - $500
2 - Francisco, crioulo, vendido ao
físico-mor, Antônio Correia de Almeida, por - 200$000
3 - Antônio, de "nação Congo",
"sem vista em um olho", vendido a Francisco José Teixeira, por -
200$000
4 - Francisco de Sousa, de "nação
Mina", vendido ao capitão Antônio Luís Coelho, de Santarém, por - 70$000
Por vender:
5 - Catarina Victória, preta velha, de
60 anos, avaliada em - 60$000
6 - Benedito, cafuzo, 15 anos,
"filho de Catarina", avaliado - 220$000
7 - Manuel, pretinho, de "nação
Mina", de 36 anos, avaliado - 180$000
8 - José Cachunço, preto, de 30 anos,
"doente da perna esquerda", avaliado em - 140$000
9 - Maria, preta, de "nação
Rebolo", de 30 anos, avaliada em - 150$000
e seus três filhos:
10 - Manuel, criança de mama, pretinho -
$
11 - José, pretinho, de 1 ano, avaliado
em - 15$000
12 - Balbina, pretinha (falecida após a
avaliação) - $
13 - Maria Cumundá, preta, de 35 anos,
avaliada em - 150$000
14 - Tomé, pretinho crioulo, de 5 anos,
avaliado em - 50$000
15 - Juliana, pretinha crioula, avaliada
em - 40$000
Soma: 1:475$000”
Este é mais um
documento que ajuda a iluminar a presença africana em Santarém na época
colonial e pode nos ajudar a entender não somente as relações comerciais, como
as relações sociais que daí nasceram.
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