Me pediram para
responder essa pergunta hoje de maneira bem sucinta. Bem, vamos tentar...
Para muitos
paraenses a data de 15 de agosto é apenas mais um feriado, um dia para
descansar ou passear... Na verdade, as tensões políticas e sociais que levaram
ao 15 de Agosto de 1823 são muito mais importantes do que se imagina.
Voltemos ao 07
de setembro de 1822. Dom Pedro I proclama a Independência do Brasil. Mas não
foi bem de todo o Brasil. Algumas Províncias continuaram fiéis à Portugal: Cisplatina,
Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará. Mas Dom Pedro queria um Brasil unido em
torno do Império recém-fundado. E seus planos incluíam todas as províncias que
não aceitavam a Independência do Brasil. Ao contrário do que muitos pensam, a Independência não foi um evento pacífico, houve muito sangue derramado para que nosso país consolidasse sua independência política.
O Grão-Pará
viveu, até aquele momento, ligado diretamente à Portugal, sem responder ao
governo do Brasil ou ao Príncipe Regente. Por isso, muitos portugueses não viam
com bons olhos o posicionamento de Dom Pedro ao proclamar a independência. No
entanto, havia um grande sentimento da parte, principalmente dos paraenses
natos, de aderir à Independência.
Antes do dia 15
de agosto de 1823 éramos todos portugueses (mesmo os que nasceram na “Colônia”).
Depois do dia 15 de agosto passamos a ser brasileiros, súditos de S. M. I. Dom
Pedro I.
As tensões eram
o prato do dia na vida política e social do Grão-Pará pré-adesão. E não foram
diferentes depois. O 15 de agosto não resolveu os problemas sociais na
ex-colônia portuguesa. Muitos portugueses continuavam exercendo o poder
político e econômico. Os pobres continuavam pobres, os indígenas continuavam
sendo vistos como pessoas inferiores, os escravos (que esperavam serem
libertados pelo novo regime) continuavam escravos e a sensação de que nada
havia mudado foi criando um sentimento de revolta que acabaria eclodindo na
Cabanagem.
A título de
ilustração, recordemos um fato curioso acontecido em nossa região do Baixo
Amazonas, por ocasião das tensões pré-adesão.
A então Vila de Santarém
possuía um padre português como pároco, o padre Manuel Fernandes Leal, vigário
geral do Baixo Amazonas, português de nascimento, que no dia 31 de janeiro de
1821 proferiu um discurso na Câmara Municipal de Santarém, exaltando o
liberalismo português e defendendo a obediência direta a Lisboa e não ao Rio de
Janeiro, sendo ovacionado pelos membros da edilidade local.
Enquanto isso,
na vizinha Vila de Óbidos, padre Raimundo Sanches de Brito, juntamente com seu
irmão, o padre Antônio Manoel Sanches de Brito, defendiam abertamente a adesão
do Pará à Independência. No dia 20 de abril de 1823, o dito vigário, juntamente
com o Juiz Ordinário, João Pedro de Andrade, convocaram o povo para uma reunião
na Capela do Desagravo (que então fazia as vezes de Matriz); propuseram
declarar ilegal a Junta que os portugueses haviam eleito para governar a
Província. Entretanto, sabedores do encontro, os portugueses que habitavam em
Óbidos agiram rapidamente, dissolvendo a reunião sem que se votasse a proposta
do Vigário e do Juiz Ordinário. O juiz foi enviado preso a Belém. A Junta ainda
chegou a pedir a demissão e o afastamento do Vigário de Óbidos, o que de fato
ocorreu. Padre Raimundo foi enviado a Belém e manteve-se afastado de sua
paróquia até 1825, enquanto isso, Óbidos foi paroquiada interinamente por Frei
Vicente Ferrer Valente.
E quanto ao
padre Manoel Fernandes Leal, pároco de Santarém, sentindo-se traído pelas
mesmas pessoas que lhe ovacionavam e que passariam a dar vivas a Dom Pedro I,
depois da Adesão à Independência, decidiu voltar à sua terra natal, deixando
para trás uma panela de pressão prestes a explodir...
Santarém, 15 de agosto de 2018.
Pe. Sidney Canto
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