quinta-feira, 24 de novembro de 2016

As reformas da Catedral – Monsenhor José Gregório



Na década de 1870, no entanto, a vinda do Arcediago Monsenhor José Gregório Coelho para Santarém, mudou significativamente essa situação. O referido padre fez voltar antigas tradições do povo santareno (inclusive o Sairé), o que animou e incentivou novas devoções do povo. Contando com o apoio da sociedade e dos políticos de influência local, padre José Gregório lutou para promover as reformas necessárias, mas acabaram por descaracterizar por completo o plano original da obra.

Deste período temos algumas descrições da Igreja Matriz, como a de Rufino Luiz Tavares que assim se manifesta:

Os edifícios de serventia pública constam, da Igreja Matriz, sob a iniciação de Nossa Senhora da Conceição, bastante espaçosa, porém de construção fraca e arquitetura imprópria de um templo, nela se vê um crucifixo de ferro dourado, pesando 60 arrobas (900 k), que o cavaleiro Carlos de Martins ofereceu em 1846, em cumprimento de um voto por ter sido alvo do furor das ondas do Amazonas a 18 de Setembro de 1819.

A construção estava, de fato, enfraquecida; por isso foi criada, através de uma Portaria do Presidente da Província, datada de 20 de abril de 1876, uma Comissão composta do Barão de Santarém, do Arcediago José Gregório Coelho, do major José Caetano Corrêa, do tenente coronel José Joaquim Pereira Macambira e de Ignácio José Corrêa, para que a mesma promovesse a execução das obras que fossem mais urgentes a fim de recuperar a Matriz de Santarém.

O engenheiro responsável pelas obras provinciais, Guilherme Francisco Cruz, foi responsabilizado por um orçamento. E assim, vemos o resultado do trabalho da sobredita comissão, em um ofício do dia 20 de outubro de 1876, onde o governo da Província assim se manifestar sobre o assunto:

Em resposta ao ofício da comissão encarregada de promover a execução dos concertos da Igreja Matriz de Santarém, datado de 08 de agosto último, tenho a dizer-lhe que, pela insuficiência dos recursos do tesouro provincial, não foi ainda remetida à comissão a quantia de 3:000$000 réis destinada para a despesa com os referidos consertos, porém, dentro de dois meses estará habilitado o tesouro a por à disposição da comissão a mencionada quantia, por intermédio da coletoria dessa cidade, segundo informa o mesmo tesouro.
Outrossim, declaro à comissão que aprovo a resolução que tomou de alugar por 25$000 réis mensais a casa de propriedade de João da Costa Pereira, para nela ser celebrado o culto Divino, em consequência de achar-se a Igreja Matriz em estado de ruína, convindo, porém, que a comissão procure conseguir daquele proprietário um abatimento do aluguel da casa.

Para facilitar as obras necessárias, a comissão responsável pelas reformas da Matriz, conseguiu a aprovação da Lei Nº 917, de 15 de junho de 1878, o que ajudou à comissão a disposição de recursos necessários para as obras.

Isso não quer dizer que somente o dinheiro público seria investido nas obras. A Matriz contava também com as doações do povo local, além das diversas quermesses e promoções que eram feitas para que os trabalhos pudessem ser levados adiante.

Os objetos sacros foram transferidos para a casa alugada a fim de servir de templo provisório no dia 06 de junho de 1876. As obras, iniciadas no dia seguinte, estenderam-se novamente com dificuldades pecuniárias e a morosidade de sempre.

Isso continuou até o ano de 1879 quando, após a troca de membros da comissão escolhida em 1876, finalmente as obras retomaram o fôlego (e o dinheiro) necessário para que pudessem ser levadas até a conclusão final. Sobre este fato assim se expressa o Presidente da Província José Coelho da Gama e Abreu:

Tendo sido orçadas todas as obras de que carecia a Igreja Matriz de Santarém, sendo a sua importância de cerca de 20 contos, mandei orçar as mais urgentes para a conservação daquele edifício pelo engenheiro João Antônio Luiz Coelho, e sendo o valor deste último orçamento de 9:978$249 réis, postas as obras em arrematação, e não aparecendo proponente algum, de acordo com o parecer do tesouro, nomeei, em 11 de setembro último (1879), uma comissão composta do reverendo Arcediago dr. José Gregório Coelho, coronel João Severiano de Miranda e o cidadão Antônio Joaquim Rodrigues dos Santos, para se incumbir da administração dos trabalhos, ficando a inspeção técnica a cargo do referido engenheiro João Antônio Luiz Coelho, sem que, por este trabalho, percebesse retribuição alguma.

No ano de 1880, foram instalados a nova cruz de ferro no frontão da Igreja e o um novo altar mor, em mármore que foi confeccionado na marmoraria de Martin & Bachns, em Belém do Pará, custando na época treze contos de réis, pago em quatro prestações pelo vigário: Arcediago Dr. José Gregório Coelho. Foi considerado, na época, o primeiro altar de mármore instalado na província do Pará.

A imagem do crucificado, doado por Von Martius, ganhou um altar lateral onde poderia ser objeto de culto dos fiéis. Finalmente, a 24 de setembro de 1881, a Igreja Matriz foi novamente reinaugurada para o serviço litúrgico.

Vale registrar nestas linhas que, não somente a Matriz de Santarém mereceu a atenção do zeloso Arcediago José Gregório Coelho. Ele também foi responsável por ajudar na construção da antiga Capela de São Sebastião, no nascente bairro da Prainha, além dar início à construção das Capelas (hoje Matrizes) de Arapixuna e Alter do Chão, bem como das capelas de São Sebastião (Carariacá), Aritapera e Água Preta, todas essas já destruídas pelas intempéries ou falta de zelo, para dar lugar a igrejas mais contemporâneas.

Ainda no final deste século XIX, no ano de 1895, o cônego francês Teodoro Gabriel Thaubi, pároco de Santarém, empreendeu nova reforma: desta vez foi trocado o telhado da igreja, para conter as goteiras que haviam estragado o antigo forro; um novo forro foi colocado, bem como os vitrais dos quatro janelões junto do altar mor. Colocou novos púlpitos e uma nova pintura com arabescos e artísticas fantasias. Os responsáveis pela concepção artista foram os santarenos Manoel e Joaquim Pinto Guimarães, que deram à antiga Matriz, um ar de beleza que antecipava um novo tempo: o da sua elevação à categoria de Igreja da Sé – Catedral de Santarém.


NOTA: Trecho do livro “A Catedral de Santarém”, de Pe. Sidney Canto, lançado em 2016.

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