Na década de
1870, no entanto, a vinda do Arcediago Monsenhor José Gregório Coelho para
Santarém, mudou significativamente essa situação. O referido padre fez voltar
antigas tradições do povo santareno (inclusive o Sairé), o que animou e
incentivou novas devoções do povo. Contando com o apoio da sociedade e dos
políticos de influência local, padre José Gregório lutou para promover as
reformas necessárias, mas acabaram por descaracterizar por completo o plano
original da obra.
Deste período
temos algumas descrições da Igreja Matriz, como a de Rufino Luiz Tavares que
assim se manifesta:
Os edifícios de serventia pública constam, da
Igreja Matriz, sob a iniciação de Nossa Senhora da Conceição, bastante
espaçosa, porém de construção fraca e arquitetura imprópria de um templo, nela
se vê um crucifixo de ferro dourado, pesando 60 arrobas (900 k), que o
cavaleiro Carlos de Martins ofereceu em 1846, em cumprimento de um voto por ter
sido alvo do furor das ondas do Amazonas a 18 de Setembro de 1819.
A construção
estava, de fato, enfraquecida; por isso foi criada, através de uma Portaria do
Presidente da Província, datada de 20 de abril de 1876, uma Comissão composta
do Barão de Santarém, do Arcediago José Gregório Coelho, do major José Caetano
Corrêa, do tenente coronel José Joaquim Pereira Macambira e de Ignácio José
Corrêa, para que a mesma promovesse a execução das obras que fossem mais
urgentes a fim de recuperar a Matriz de Santarém.
O engenheiro
responsável pelas obras provinciais, Guilherme Francisco Cruz, foi
responsabilizado por um orçamento. E assim, vemos o resultado do trabalho da
sobredita comissão, em um ofício do dia 20 de outubro de 1876, onde o governo
da Província assim se manifestar sobre o assunto:
Em resposta ao ofício da comissão encarregada de
promover a execução dos concertos da Igreja Matriz de Santarém, datado de 08 de
agosto último, tenho a dizer-lhe que, pela insuficiência dos recursos do
tesouro provincial, não foi ainda remetida à comissão a quantia de 3:000$000
réis destinada para a despesa com os referidos consertos, porém, dentro de dois
meses estará habilitado o tesouro a por à disposição da comissão a mencionada
quantia, por intermédio da coletoria dessa cidade, segundo informa o mesmo tesouro.
Outrossim, declaro à comissão que aprovo a
resolução que tomou de alugar por 25$000 réis mensais a casa de propriedade de
João da Costa Pereira, para nela ser celebrado o culto Divino, em consequência
de achar-se a Igreja Matriz em estado de ruína, convindo, porém, que a comissão
procure conseguir daquele proprietário um abatimento do aluguel da casa.
Para facilitar
as obras necessárias, a comissão responsável pelas reformas da Matriz,
conseguiu a aprovação da Lei Nº 917, de 15 de junho de 1878, o que ajudou à
comissão a disposição de recursos necessários para as obras.
Isso não quer
dizer que somente o dinheiro público seria investido nas obras. A Matriz
contava também com as doações do povo local, além das diversas quermesses e
promoções que eram feitas para que os trabalhos pudessem ser levados adiante.
Os objetos
sacros foram transferidos para a casa alugada a fim de servir de templo
provisório no dia 06 de junho de 1876. As obras, iniciadas no dia seguinte,
estenderam-se novamente com dificuldades pecuniárias e a morosidade de sempre.
Isso continuou
até o ano de 1879 quando, após a troca de membros da comissão escolhida em
1876, finalmente as obras retomaram o fôlego (e o dinheiro) necessário para que
pudessem ser levadas até a conclusão final. Sobre este fato assim se expressa o
Presidente da Província José Coelho da Gama e Abreu:
Tendo sido orçadas todas as obras de que carecia a
Igreja Matriz de Santarém, sendo a sua importância de cerca de 20 contos,
mandei orçar as mais urgentes para a conservação daquele edifício pelo
engenheiro João Antônio Luiz Coelho, e sendo o valor deste último orçamento de
9:978$249 réis, postas as obras em arrematação, e não aparecendo proponente
algum, de acordo com o parecer do tesouro, nomeei, em 11 de setembro último
(1879), uma comissão composta do reverendo Arcediago dr. José Gregório Coelho,
coronel João Severiano de Miranda e o cidadão Antônio Joaquim Rodrigues dos
Santos, para se incumbir da administração dos trabalhos, ficando a inspeção
técnica a cargo do referido engenheiro João Antônio Luiz Coelho, sem que, por
este trabalho, percebesse retribuição alguma.
No ano de
1880, foram instalados a nova cruz de ferro no frontão da Igreja e o um novo
altar mor, em mármore que foi confeccionado na marmoraria de Martin &
Bachns, em Belém do Pará, custando na época treze contos de réis, pago em
quatro prestações pelo vigário: Arcediago Dr. José Gregório Coelho. Foi
considerado, na época, o primeiro altar de mármore instalado na província do
Pará.
A imagem do
crucificado, doado por Von Martius, ganhou um altar lateral onde poderia ser
objeto de culto dos fiéis. Finalmente, a 24 de setembro de 1881, a Igreja
Matriz foi novamente reinaugurada para o serviço litúrgico.
Vale registrar
nestas linhas que, não somente a Matriz de Santarém mereceu a atenção do zeloso
Arcediago José Gregório Coelho. Ele também foi responsável por ajudar na
construção da antiga Capela de São Sebastião, no nascente bairro da Prainha,
além dar início à construção das Capelas (hoje Matrizes) de Arapixuna e Alter
do Chão, bem como das capelas de São Sebastião (Carariacá), Aritapera e Água
Preta, todas essas já destruídas pelas intempéries ou falta de zelo, para dar
lugar a igrejas mais contemporâneas.
Ainda no final
deste século XIX, no ano de 1895, o cônego francês Teodoro Gabriel Thaubi,
pároco de Santarém, empreendeu nova reforma: desta vez foi trocado o telhado da
igreja, para conter as goteiras que haviam estragado o antigo forro; um novo
forro foi colocado, bem como os vitrais dos quatro janelões junto do altar mor.
Colocou novos púlpitos e uma nova pintura com arabescos e artísticas fantasias.
Os responsáveis pela concepção artista foram os santarenos Manoel e Joaquim
Pinto Guimarães, que deram à antiga Matriz, um ar de beleza que antecipava um
novo tempo: o da sua elevação à categoria de Igreja da Sé – Catedral de
Santarém.
NOTA: Trecho do livro “A Catedral de Santarém”, de
Pe. Sidney Canto, lançado em 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário