Em 1813 assume a Paróquia o
Padre Manoel Fernando Leal (1813-1823) que daria início a um novo período da
nossa história paroquial. Este presbítero era um homem culto, membro benquisto
da sociedade da época, que já havia sido encarregado de negócios das Índias
Orientais. No período em que esteve à frente da paróquia, Santarém recebeu a
visita de cientistas famosos como Johann Baptist von Spix e Carlos Frederico
Felipe von Martius, este último, doador da imagem do crucificado que hoje se
encontra no altar-mor da Catedral.
Apesar da
imagem ter chegado à Santarém em 1848, ela só foi fixada na Igreja em 1869, em
um altar lateral. Em 1913, foi “encarnada” a mando de Dom Amando. Contudo, em
1942, foi restaurada em seu estilo original, que se mantêm até hoje. Muitas
pessoas pensam que a imagem é de bronze. Enganam-se, pois na verdade ela é
feita de ferro fundido. Sua expressão lembra o Cristo exclamando na cruz “Meu
Deus, Meu Deus!”.
Muito já foi
escrito sobre este crucifixo. Aqui, para ilustrar, vale a pena ver a descrição
do que nos diz Agassiz, ex-aluno de Von Martius:
Visitamos primeiro a igreja que faz frente para a
praia. A porta estava aberta como para nos convidar a entrar. Não era a
curiosidade apenas que nos levava a transpor os umbrais dessa porta: outro
objetivo tínhamos em vista; em 1819, um naturalista, que então explorava o
Amazonas, Martius, tornado celebre pela sua grande obra sobre a história
natural do Brasil, naufragou em frente de Santarém e escapou de perder a vida.
Na aflição, fez um voto de que, se escapasse de morrer, testemunharia o seu
reconhecimento com um donativo, à igreja de Santarém. De volta à Europa, enviou
de Munique um crucifixo de tamanho natural, que se acha suspenso ao muro, com
uma simples inscrição, embaixo, que recorda em poucas palavras o perigo, a
salvação e a gratidão do doador. Como obra de arte, esse crucifixo não tem
grande valor, mas atrai à igreja muita gente que nunca ouviu falar de Martius
nem de sua célebre viagem.
Contudo, antes
da imagem do Crucifixo de Martius chegar nas terras santarenas, havia uma outra
imagem de Cristo Crucificado na Catedral. Ela ficava no altar lateral, onde o
crucificado de Martius ficou por muitos anos. Na verdade essa imagem de Cristo
Crucificado pertencia à primitiva igreja, construída pelos Jesuítas próximo à
Praça Rodrigues dos Santos, onde hoje existe a Cruz Monumento, marco da
fundação de Santarém. Com construção da Catedral, a imagem foi transferida para
a Igreja.
Com a
colocação do Crucifixo de Martius no altar lateral da Matriz, a imagem do
crucifixo dos jesuítas foi colocada em uma nova cruz no consistório da Igreja
(atual sacristia) onde permaneceu por muitos anos. Durante a reforma de 1965 a
imagem foi retirada do consistório da Catedral e levada para a Igreja de Nossa
Senhora Aparecida, por Frei Juvenal Carlson, onde permanece até os dias de
hoje. Esta magnífica imagem de Jesus Crucificado é, até provas em contrário, a
mais antiga imagem religiosa do município de Santarém.
NOTA: Trecho do livro “A Catedral de Santarém”, de
Pe. Sidney Canto, lançado em 2016.
Fiquei agora curioso em conhecer a "mais antiga imagem religiosa" de Santarém.
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