Muito embora
quase em combustão pela temperatura equatorial, experimentei as primeiras
sensações da cidade na madrugada do dia 18 de agosto, nas suas primeiras horas.
A “Princesa” do
Pará ainda oferecia atestado de sua vida noturna, o que indica de algum modo o
seu desenvolvimento. Entretanto, sem ser atraído pelo que se me defrontava,
resolvi voltar ao “Brito”, que me trouxe de Alenquer à foz do Tapajós.
No motor, senti
os primeiros beijos cálidos do sol, a preconizarem uma estufa de 40 graus, se
minha pele pode servir de termômetro.
Pelo amigo
Moacir, funcionário do Estado, que me cumulou de gentilezas, fui levado ao sr.
prefeito do município, com quem entretive prolongada palestra e de quem percebi
tratar-se de um cidadão de apuradas atenções para os problemas do município. E
como em todos os atos de um homem há um traço psicológico para estudos,
depreendi das suas explicações seguras, me haver defrontado com um homem
honesto e criterioso nas suas atitudes particulares ou públicas.
Seu secretário,
ainda muito jovem, impressionou-me bastante no discernimento dos problemas
sociais parecendo ser amadurecido na juventude, segundo a precocidade de suas
cogitações. Convidou-me logo para fazer uma palestra no Clube Literário “Centro
Recreativo”, cujo convite me encheu de júbilo e de satisfação pelo que Santarém
oferece.
Na noite de
sexta-feira fui ainda levado pelo amigo Moacir ao estúdio ZYR-9, onde fiz ao
microfone ligeira palestra sobre o assunto de interesse local, objeto de minha
viagem como Classificador de Produtos Vegetais do Serviço de Economia Rural do
Ministério da Agricultura, declamando depois algumas poesias das minhas
produções, notando, concomitantemente satisfação de minha presença na oferta
louvável de me ajudar a transmitir instruções aos juteiros e aos que tem seus
interesses ligados à juta, produto sem similar na espécie, com recomendações
invioláveis, pela Secção Técnica do Ministério.
Na pensão onde
me encontro, Amazônia, sobre um trato fidalgo, estou sempre em palestra com dr.
Padilha, moço versado em assuntos sociais e sociológicos, linguagem segura e
felizes concepções filosóficas, joia intelectual engastada nas plagas
santarenenses.
Admirei também
muita beleza feminina sem o artificialismo da formosura de última hora, desse
requinte efêmero das cores emprestadas, que sufocam os dons naturais do sexo,
da brandura e da complacência.
Aguardando o
primeiro navio para Belém, deixo aqui consignada a minha simpatia por tudo que
aqui se exprime e em mim se edifica na retentiva para sempre.
Santarém, 22 de
agosto de 1949.
Alberico Bezerra
Cavalcanti.
NOTA: Publicado
no Jornal de Santarém de 27 de agosto de 1949.
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