quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Impressões sobre Santarém no ano de 1949

Muito embora quase em combustão pela temperatura equatorial, experimentei as primeiras sensações da cidade na madrugada do dia 18 de agosto, nas suas primeiras horas.
A “Princesa” do Pará ainda oferecia atestado de sua vida noturna, o que indica de algum modo o seu desenvolvimento. Entretanto, sem ser atraído pelo que se me defrontava, resolvi voltar ao “Brito”, que me trouxe de Alenquer à foz do Tapajós.
No motor, senti os primeiros beijos cálidos do sol, a preconizarem uma estufa de 40 graus, se minha pele pode servir de termômetro.

Pelo amigo Moacir, funcionário do Estado, que me cumulou de gentilezas, fui levado ao sr. prefeito do município, com quem entretive prolongada palestra e de quem percebi tratar-se de um cidadão de apuradas atenções para os problemas do município. E como em todos os atos de um homem há um traço psicológico para estudos, depreendi das suas explicações seguras, me haver defrontado com um homem honesto e criterioso nas suas atitudes particulares ou públicas.
Seu secretário, ainda muito jovem, impressionou-me bastante no discernimento dos problemas sociais parecendo ser amadurecido na juventude, segundo a precocidade de suas cogitações. Convidou-me logo para fazer uma palestra no Clube Literário “Centro Recreativo”, cujo convite me encheu de júbilo e de satisfação pelo que Santarém oferece.
Na noite de sexta-feira fui ainda levado pelo amigo Moacir ao estúdio ZYR-9, onde fiz ao microfone ligeira palestra sobre o assunto de interesse local, objeto de minha viagem como Classificador de Produtos Vegetais do Serviço de Economia Rural do Ministério da Agricultura, declamando depois algumas poesias das minhas produções, notando, concomitantemente satisfação de minha presença na oferta louvável de me ajudar a transmitir instruções aos juteiros e aos que tem seus interesses ligados à juta, produto sem similar na espécie, com recomendações invioláveis, pela Secção Técnica do Ministério.
Na pensão onde me encontro, Amazônia, sobre um trato fidalgo, estou sempre em palestra com dr. Padilha, moço versado em assuntos sociais e sociológicos, linguagem segura e felizes concepções filosóficas, joia intelectual engastada nas plagas santarenenses.
Admirei também muita beleza feminina sem o artificialismo da formosura de última hora, desse requinte efêmero das cores emprestadas, que sufocam os dons naturais do sexo, da brandura e da complacência.
Aguardando o primeiro navio para Belém, deixo aqui consignada a minha simpatia por tudo que aqui se exprime e em mim se edifica na retentiva para sempre.
Santarém, 22 de agosto de 1949.
Alberico Bezerra Cavalcanti.


NOTA: Publicado no Jornal de Santarém de 27 de agosto de 1949.

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