Por Pe. Sidney
Augusto Canto
No dia 14 de
agosto de 1784, o Bispo do Pará, Dom Frei Caetano Brandão (vide ilustração
abaixo), chega para fazer sua visita pastoral na paróquia de São Francisco de
Assis, em Monte Alegre. No entanto, as febres que lhe atacam, o deixam
prostrado por muitos dias. No entanto, dele temos o seguinte relato sobre a
antiga matriz:
A Igreja é um bom edifício, com assaz espaço, tres
altares aceados, muita luz, ornamento sufficiente: em fim tem a limpeza, e decência
que convem aos objectos sagrados; o que se deve em grande parte ao zelo do
Vigario, sujeito muito hábil e exemplar: toda ela esta cercada de huma varanda
muito desabafada, e vistosa.
Em 1824, durante
os eventos de revolta que aconteceram no interior da Província do Pará, por conta
da adesão à Independência e ao Império do Brasil, Monte Alegre se manteve em
guerra contra Santarém. No dia 20 de abril daquele ano, um ferrenho combate
deixou muitos mortos das forças legais, vindas de Santarém. Os ossos dos mortos
ficaram insepultos durante muito tempo, sendo recolhidos para serem sepultados
na Matriz, conforme se expressa o Senado da Câmara de
Monte Alegre que:
(...) determinou serem
juntos todos os ossos que se achavam dispersos pelo campo e serem conduzidos
para esta igreja (a matriz de são Francisco em Monte Alegre) no dia 2 de agosto foi convidado todo o
Povo pelo seu Pároco que junto com o Senado e a Irmandade do Santíssimo
Sacramento e São Benedito se dirigiram em solene procissão do meio do Campo
conduzindo os ossos de todos quantos nesta Guerra Civil perderam a vida
sepultando-se na Igreja aonde foram encomendados como manda o Ritual Romano e a
mesma Igreja.
Após
anos sem os devidos reparos, a antiga Matriz já não era mais capaz de se manter
de pé. As constantes intempéries obrigaram os Monte Alegrenses a se desfazerem
da antiga Igreja “avarandada” para construírem uma nova Matriz para o culto
sagrado. O que de fato aconteceu, no mesmo lugar onde estava a antiga e
aproveitando-se muito do material da mesma.
Os
trabalhos inciaram, de fato, em 1832. Antônio Ladislau Monteiro Baena, em sua “Corografia”
do ano de 1833, já falava dos trabalhos de sua reconstrução nestes termos: A matriz é dedicada a
São Francisco de Assis, ela foi um bom edifício, limpo e decente, atualmente
trata-se da sua reedificação. Há mais duas pequenas igrejas, das quais uma
serve de matriz.
No entanto, com
o advento da Cabanagem, as obras foram interrompidas, ficando apenas os
alicerces e uma parte muito pequena das paredes levantadas em pedra e cal,
dando a aparência de uma total ruína. Enquanto isso, os atos litúrgicos eram realizados
em uma pequena capela denominada de “Senhor dos Passos”.
Como a mesma era
pequena (conforme vimos acima, no relato de Baena), a capela em si foi
transformada em “capela mor”, construindo-se um alpendre, coberto de palha, na
frente da referida capela, para servir de “nave”, onde o povo pudesse ficar
para acompanhar as cerimônias litúrgicas. É importante salientar que, segundo o
historiador João Santos, a referida capela fora construída em fins do século
XVIII, por um devoto de nome Fernando Ribeiro Pinto. A capela era regida pela
Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, da qual seu construtor possivelmente era
membro benquisto.
Assim continuou
por muitos anos. Essa situação de penúria, pode ser constatada por dois relatos
de viajantes ilustres que passaram por Monte Alegre. Vejamos o primeiro desses
relatos, feito pelo cientista Alfred Russel Wallace, que assim descreve a
situação em 1849:
A própria vila forma um espaçoso quadrado no
qual o que há de mais importante é o arcabouço de uma grande igreja, de pedras
escuras, que foi começada há cerca de vinte anos, quando o lugar era mais populoso
e próspero, antes das revoluções que causaram tantos danos à província, havendo
pouca probabilidade, por isso mesmo, de ser ela algum dia acabada. A atual
igreja é um edifício baixo, coberto de folhas de palmeiras, como se fosse um
celeiro, e, como a maior parte das casas, é, igualmente, de aspecto muito
pobre.
Outro renomado
cientista, Luís Agassiz, que passou por Monte Alegre no ano de 1865, fez a
seguinte descrição:
Monte
Alegre é um dos mais antigos estabelecimentos da Amazônia; mas devido a todas
essas circunstâncias desfavoráveis, a sua população diminui em vez de aumentar.
No meio da praça pública estão as quatro paredes duma catedral começada há
quarenta anos e até hoje inacabada. As vacas pastam o capim nas partes baixas
do edifício que se poderia tomar por um triste monumento destinado a atestar a
miséria dessa localidade.
Era essa visão
de abandono que podia se ver na Monte Alegre daqueles tempos, muito diferente
daquele povo unido, devoto, que muito agradou ao Bispo Brandão, quando de duas
visitas efetuadas (1784 e 1788). No entanto, ao contrário da previsão de
Wallace, a cidade de Monte Alegre veria realizado o seu sonho de celebrar e
festejar os sagrados mistérios da fé católica em sua nova Igreja Matriz.
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