A cidade de Santarém não é em si mesma
tão insalubre como parece. Todavia é de summa conveniencia melhorar as condições
do abastecimento da agoa potavel. A agoa, de que se faz uso constante n'aquella
cidade, é a do rio Tapajoz. No tempo da vasante ella é pura e cristalina; logo
porém que a enchente começa, torna-se impura, e impregnada sempre de substancias
organicas em decomposiçaõ.
As aguas trazidas muitas vezes de rios,
reconhecidamente pestiferos, e de innurneros lagos infectos, fazem que a agua
do rio Tapajoz se torne em certas épocas um agente deleterio, e jamais possa
ser considerada potavel.
E com tudo é esta a agua de que fazem
uso geralmente os habitantes de Santarem.
Nas immediações d'aquella cidade lugares
ha, onde as intermittentes fazem horrorosos estragos. Maicá, Urumanduba, Diamantina,
Retiro, Tiningú, e Murumurutuba saõ as localidades habitadas, onde a morte
parece que assentou seu grande laboratorio!
Todos estes pontos reunem condições as
mais desfavoraveis á saude de seus habitantes, que descuidosos de si, concorrem
tambem por seus habitos para maior intensidade dos males, que os flagellaõ.
Ali, no tempo da enchente do Amazonas,
as aguas circulaõ as toscas e immundas palhoças, em que vivem. Na época da
vasante ficaõ as aguas estagnadas de envolta com substancias vegetaes e animaes
em decomposiçaõ, formando milhares de focos de infecçaõ.
E quando mais tarde, saõ mais intensos
os raios solares, e a evaporisaçaõ tem feito desapparecer os lagos e pantanos,
a agua, que bebem esses homens negligentes é a que extrahem de pequenas covas,
que fazem naquelles lugares que os pantanos occuparaõ!
E' triste o aspecto desses infelizes,
que habitaõ aquellas paragens.
Na impossibilidade de extinguir taõ
acerbos males, melhor fôra tentar a remoçaõ das familias, que ali habitaõ,
escolhendo para seu estabelecimento lugar salubre, e apropriado para a agricultura.
Colonisal-os será bem ardua tarefa, mas
realisavel pela perseverança e prudente vontade.
Se me quizerdes habilitar com alguns
recursos para as primeiras despesas de seu novo estabelecimento, eu
emprehenderei esse serviço, começando por crear uma colonia nacional, seguro de
que naõ ficarão perdidos os vossos esforços para melhorar-lhes a sorte.
Pobres e descuidados, elles por si só
nada faraõ!...
Continua a residir em Santarern o dr.
Ant.° Joaquim Gomes do Amaral, que para ali foi enviado em virtude de vossas
disposições.
De conformidade com a resoluçaõ de n.
401 de 22 de outubro de 1862 marquei-lhe o honorario de 300$000 mensaes por acto
de 10 de julho do corrente armo, em attenção á grandesa e merecimento de seu
trabalho, como medico encarregado 'dos doentes n'aquella cidade, e de visitar
as diversas localidades da respectiva comarca.
O seu ultimo relatorio vos será
presente, e d'elle colhereis as necessarias informações, para aquilatar o
merito dos resultados praticos desta providencia, que ordenastes em beneficio
dos habitantes da comarca de Santarem.
As proprias condições, senhores, dos
lugares, que tenho indicado, a força vegetativa propria da zona, em que vivemos,
e as grandes enchentes do rio Amasonas, gerão dificuldades tam sérias, que
tornaõ impossivel a extincçaõ das causas concomitantes que daõ origem áquelles
males.
Entretanto, parece-me que podemos pouco
a pouco fazer desapparecer ao menos em parte esses pantanos e pequenos lagos, que
se achão mais proximos dos centros de população, e conservar sempre limpos,
tanto quanto for possivel os igarapés, ou pequenos rios, que estaõ nas mesmas condições,
e se achaõ obstruídos pela vegetaçaõ aquatica, e assim transformados em focos
de miasmas.
NOTA: Texto
extraído do Relatório do Presidente da Província do Pará, dr. Francisco Carlos
de Araújo Brusque, em 01 de novembro de 1863.
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