quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Sobre a Igreja Matriz de Monte Alegre (Parte 01)


Por Pe. Sidney Augusto Canto

Constituída como Missão Jesuíta, instalada em 08 de dezembro de 1657, a primeira capela do lugar onde hoje se situa a cidade de Monte Alegre foi construída em taipa de mão pelos indígenas, com orientação dos padres fundadores da Missão, os jesuítas Francisco Veloso e Manuel Pires que, ao celebrarem a Festa de Nossa Senhora da Conceição junto aos índios Gurupatuba, dedicaram esta PRIMEIRA IGREJA à proteção da Mãe de Jesus Cristo. Esta pequena capela é visitada pelo padre João Felipe Bettendorf quando de sua passagem por Gurupatuba em 1661. Ao que parece, essa capela não existia mais no ano de 1669, quando o mesmo padre Bettendorf erigiu um cruzeiro como marco da presença cristã entre os indígenas.

Não ficariam os indígenas sem uma igreja por muito tempo. Segundo Arthur Cézar Ferreira Reis, uma nova capela, dessa vez em caráter mais definitivo, mais ampla e sólida, foi construída na Missão, no ano de 1681, além de uma casa que pudesse servir de residência para os padres missionários. Esta construção, segundo o supra-citado autor, nasceu de um “esforço material e espiritual se havendo distinguido tanto o padre Manoel da Costa que lhe tem sido atribuída a colonização definitiva do burgo”. Foi nesta capela que foi enterrado o Missionário Jesuíta, padre Manuel de Borba, quando de seu falecimento na Missão de Gurupatuba, em 02 de fevereiro de 1691.

No final de 1693, O Padre Manuel da Costa, então missionário de Gurupatuba, entrega a Missão aos frades franciscanos (também conhecidos como “capuchos”) da Província da Piedade, que assumem Missão dos Gurupatubas, trocando-lhe o padroeiro. Sai Nossa Senhora da Conceição, patrocínio dado pelos Jesuítas e entra São Francisco de Assis, que é escolhido como novo padroeiro da Missão por ser também patrono da Ordem Religiosa que assumia os trabalhos religiosos junto aos indígenas. São os frades franciscanos que, utilizando a técnica de taipa de pilão, constroem uma nova capela para a Missão, dedicada ao novo orago.

Foram os frades franciscanos que construíram um magnifico e amplo templo dedicado a São Francisco de Assis. Esse templo, construído na parte alta da cidade, serviu de primeira Igreja Matriz, quando, depois de expulsos os religiosos Franciscanos, a Missão foi transformada em Paróquia e sede da Vila de Monte Alegre pelo então governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado.

Aliás, é o mesmo Governador Mendonça Furtado que, na carta de expulsão dos Missionários da Ordem Franciscana da Província da Piedade, datada de 22 de outubro de 1757, diz que o Missionário da então Missão de São Francisco de Gurupatuba, desviou os bens existentes dessa “Primeira Matriz”, conforme podemos ver no seguinte relato, extraído da dita carta:

O 4º he Frei Joaquim de Evora, que estava por Missionario na Aldea de Gurupatuba, ehoje Villa de Monte Alegre, oqual desviou tudo oque poude dos bens pertencentes aquella Igreja, e Povoaçaõ com um modo absoluto edescomedido.
Este Relligioso tambem naõ tem talento algum, enas immaginaçoés convem inteyramente com os seus Companheiros.

É o primeiro registro que temos de que alguma coisa foi desviada da Igreja de Matriz de Monte Alegre. O que foi levado, jamais retornou, entre os objetos a própria ambula do sacrário, o que fez com que, em 1763, quando da visita do Bispo do Pará, Dom Frei João de São José, o mesmo encontrasse a Igreja sem o Santíssimo Sacramento da Eucaristia por falta da citada ambula. Vejamos o relato desse Bispo, que nos dá uma visão da beleza da igreja Matriz de Monte Alegre naquele ano.

Esta villa, que em outro tempo se chamou Curupatuba tem a melhor igreja que se encontra nos sertões, com grande aceio e extensão apainelada; a capella mór de boa pintura, e coberta a igreja de telha, ainda que não forrada em o corpo, bons púlpitos e côro. O altar principal tem boas imagens e um notável sacrário, porém sem Sacramento, porque a ambula antiga desappareceu quando os religiosos da Piedade se retiraram d’este sitio, onde tinham hospício capaz de oito religiosos, e notáveis varandas, principalmente uma que cerca a igreja, obra verdadeiramente magnifica, e tem cento e oitenta e quatro passos de comprimento. Tem mais a igreja dois altares collaterais de pintura nova e muito soffrivel; uma de Christo a padecer com a cruz ás costas; outra de Christo a julgar com a mesma exaltada.


É essa descrição exterior do Convento e da primeira Igreja Matriz de São Francisco de Monte Alegre que podemos apreciar no desenho acima, feito por José Joaquim Freire, quando o mesmo passou por Monte Alegre no ano de 1785, participando da expedição cientifica de Alexandre Rodrigues Ferreira. O original faz parte do acervo da Biblioteca Nacional.


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