Por Pe. Sidney
Augusto Canto
Constituída como
Missão Jesuíta, instalada em 08 de dezembro de 1657, a primeira capela do lugar
onde hoje se situa a cidade de Monte Alegre foi construída em taipa de mão
pelos indígenas, com orientação dos padres fundadores da Missão, os jesuítas
Francisco Veloso e Manuel Pires que, ao celebrarem a Festa de Nossa Senhora da
Conceição junto aos índios Gurupatuba, dedicaram esta PRIMEIRA IGREJA à
proteção da Mãe de Jesus Cristo. Esta pequena capela é visitada pelo padre João
Felipe Bettendorf quando de sua passagem por Gurupatuba em 1661. Ao que parece,
essa capela não existia mais no ano de 1669, quando o mesmo padre Bettendorf
erigiu um cruzeiro como marco da presença cristã entre os indígenas.
Não ficariam os
indígenas sem uma igreja por muito tempo. Segundo Arthur Cézar Ferreira Reis,
uma nova capela, dessa vez em caráter mais definitivo, mais ampla e sólida, foi
construída na Missão, no ano de 1681, além de uma casa que pudesse servir de
residência para os padres missionários. Esta construção, segundo o supra-citado
autor, nasceu de um “esforço material e
espiritual se havendo distinguido tanto o padre Manoel da Costa que lhe tem
sido atribuída a colonização definitiva do burgo”. Foi nesta capela que foi
enterrado o Missionário Jesuíta, padre Manuel de Borba, quando de seu
falecimento na Missão de Gurupatuba, em 02 de fevereiro de 1691.
No final de 1693,
O Padre Manuel da Costa, então missionário de Gurupatuba, entrega a Missão aos
frades franciscanos (também conhecidos como “capuchos”) da Província da Piedade,
que assumem Missão dos Gurupatubas, trocando-lhe o padroeiro. Sai Nossa Senhora
da Conceição, patrocínio dado pelos Jesuítas e entra São Francisco de Assis,
que é escolhido como novo padroeiro da Missão por ser também patrono da Ordem
Religiosa que assumia os trabalhos religiosos junto aos indígenas. São os
frades franciscanos que, utilizando a técnica de taipa de pilão, constroem uma
nova capela para a Missão, dedicada ao novo orago.
Foram os frades
franciscanos que construíram um magnifico e amplo templo dedicado a São
Francisco de Assis. Esse templo, construído na parte alta da cidade, serviu de
primeira Igreja Matriz, quando, depois de expulsos os religiosos Franciscanos,
a Missão foi transformada em Paróquia e sede da Vila de Monte Alegre pelo então
governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado.
Aliás, é o mesmo
Governador Mendonça Furtado que, na carta de expulsão dos Missionários da Ordem
Franciscana da Província da Piedade, datada de 22 de outubro de 1757, diz que o
Missionário da então Missão de São Francisco de Gurupatuba, desviou os bens
existentes dessa “Primeira Matriz”, conforme podemos ver no seguinte relato,
extraído da dita carta:
O 4º he Frei Joaquim de Evora, que estava por
Missionario na Aldea de Gurupatuba, ehoje Villa de Monte Alegre, oqual desviou
tudo oque poude dos bens pertencentes aquella Igreja, e Povoaçaõ com um modo
absoluto edescomedido.
Este Relligioso tambem naõ tem talento algum, enas
immaginaçoés convem inteyramente com os seus Companheiros.
É o primeiro
registro que temos de que alguma coisa foi desviada da Igreja de Matriz de
Monte Alegre. O que foi levado, jamais retornou, entre os objetos a própria
ambula do sacrário, o que fez com que, em 1763, quando da visita do Bispo do
Pará, Dom Frei João de São José, o mesmo encontrasse a Igreja sem o Santíssimo
Sacramento da Eucaristia por falta da citada ambula. Vejamos o relato desse
Bispo, que nos dá uma visão da beleza da igreja Matriz de Monte Alegre naquele
ano.
Esta villa, que em outro tempo se chamou Curupatuba
tem a melhor igreja que se encontra nos sertões, com grande aceio e extensão
apainelada; a capella mór de boa pintura, e coberta a igreja de telha, ainda
que não forrada em o corpo, bons púlpitos e côro. O altar principal tem boas
imagens e um notável sacrário, porém sem Sacramento, porque a ambula antiga
desappareceu quando os religiosos da Piedade se retiraram d’este sitio, onde
tinham hospício capaz de oito religiosos, e notáveis varandas, principalmente
uma que cerca a igreja, obra verdadeiramente magnifica, e tem cento e oitenta e
quatro passos de comprimento. Tem mais a igreja dois altares collaterais de
pintura nova e muito soffrivel; uma de Christo a padecer com a cruz ás costas;
outra de Christo a julgar com a mesma exaltada.
É essa descrição
exterior do Convento e da primeira Igreja Matriz de São Francisco de Monte
Alegre que podemos apreciar no desenho acima, feito por José Joaquim Freire,
quando o mesmo passou por Monte Alegre no ano de 1785, participando da expedição
cientifica de Alexandre Rodrigues Ferreira. O original faz parte do acervo da
Biblioteca Nacional.
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