Por Anysio de
Vasconcelos Chaves
Sinto que vou
falar ao que Santarém tem de mais notável, de mais nobre e de mais útil em sua
população, tendo, portanto, a impressão de que me dirijo a um povo generoso e
bom, que me recebeu aqui a 43 anos, e com o qual diz-me a consciência que tenho
vivido fraternalmente.
No constante
propósito de dizer a verdade, quero ferir um ponto capital de nossas
convicções, um assunto que nos deve orientar na vida, para que não sejamos
loucos, nem fátuos, nem imprudentes.
Quero falar do
que chamamos Pátria, deste Grande Brasil, legado heroico da descoberta
portuguesa, do trabalho e da bravura dos nossos maiores, para chegar ao ponto
em que nos encontramos, cheios de fé e de esperança no seu atual Governo, no
Governo da Nação Imensa, que não nos é dado conhecer nos seus detalhes, mas que
deve de ser objeto do nosso orgulho, do nosso amor e do nosso sacrifício.
Quero referir-me
à Pátria Grande, que hoje nos governa como Estado Autoritário, a exemplo de
outros povos e de outras raças, e quero também referir-me a esta pátria
pequenina, que é Santarém, que nós conhecemos desde a infância, nos achando
perfeitamente identificados com o seu clima, com a sua natureza, com o seu
território, e irmanados no seu progresso e civilização.
Este é o lugar
onde vivemos, onde nascemos, onde dormem os despojos preciosos de nossas
famílias, e onde, sobretudo, nos deixamos ficar por nos sentirmos felizes como
pessoas humanas, amantes da paz, da liberdade e do progresso.
Pois bem, a esta
pátria de nascimento ou de adoção, a essas pátrias ordinariamente pequeninas,
sem nenhuma espécie de ambição ou de orgulho de raça, vivendo da colaboração
direta e efetiva de todos os seus elementos, para solução dos seus problemas
sociais, é que se refere o eloquente provérbio latino: “Ubi bene ibi patria”.
Onde a gente sente-se bem, aí é a pátria.
A verdade deste
postulado se impõe, principalmente no momento atual dos grandes massacres políticos,
criados pela competição e pelo orgulho dos povos, que não creem em Deus,
imbuídos da sua grandeza e poderio, da sua ação violenta, vitoriosa,
inexpugnável!... Que o nosso querido Brasil possa ser, de fato, a palavra
dessas pátrias pequeninas, verdadeiros ninhos de brasileiros, espalhados pelo
território nacional, imenso e riquíssimo.
NOTA: Artigo
escrito e datado de 14 de julho de 1941.
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