O Sr. dr.
Washinton Luiz, Presidente da República, recebeu o seguinte radiograma
precedente de Óbidos:
Cabeceira do rio Caminá [sic], 15 de Novembro.
Tenho a honra de congratular-me com v. Exa. pela
comemoração da gloriosa data de 15 de Novembro. Viajamos a 350 quilômetros ao
norte de Óbidos, próximo à faixa da fronteira, a qual devemos atingir dentro de
uma semana.
Temos encontrado sérias dificuldades no transpor as
cachoeiras, uma das quais, a de Paciência, consumiu-nos oito dias de insanos
trabalhos.
Alcançamos ontem a boca do Rio São João, o ponto
mais alto atingido pela sra. Condreau, viajante que mais próximo chegou da
fronteira da Guiana Holandesa, dentro do Brasil.
Viajamos hoje por partes desconhecidas, nunca
atingidas pelos portugueses. Gozamos saúde.
Descobrimos um grande balatal, desconhecido até hoje
pelo governo do Pará, o que facilitará o povoamento de Cumura, acima e ao lado
de Salgado. Além do balatal, descobrimos grande castanhal próximo ao Rio das
Contas. A riqueza de seus grandes campos
encerra economia aproveitável, tão logo se abra a estrada de rodagem que ligará
a Guiana a Óbidos e à fronteira, e que merece a atenção do governo pelo seu
excelente clima, pois, apesar de estar situado próximo ao equador, a temperatura máxima observada à
sombra é de 30 graus e a mínima de 19
graus. Os campos são semelhantes aos do planalto, cuja flora e fauna muito se
assemelham, o que nos causa admiração.
Os índios panocotos, que encontramos, são robustos e
nenhum apresenta sintoma de moléstia e indicam que mantêm relações comerciais
com a gente da Guiana Holandesa, a julgar pelos objetos que encontrámos em sua
maloca. Os índios são negros e alegres.
Marchamos para frente, animados pela grandeza de
nossa pátria.
Saudações (a) general Rondon.
NOTA: Publicado
no jornal O Estado de 14 de dezembro de 1928
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