Óbidos 10 de
fevereiro de 1867.
Escusamos
indicar a razão de ser desta missiva, a primeira que enviamos daqui, durante o ano
que se desliza.
Ela tem por fim,
reatando o fio de nossa correspondência, esculturar com lealdade os fatos mais
notáveis e próximos a esta quinzena.
A eleição, que
por via de regra, é geralmente o assunto forçado de todas as conversações, nos ocupará
de preferência a qualquer outro acontecimento.
Nesta cidade,
como em Faro e Juruty, obtivemos o mais completo triunfo no pleito eleitoral e o
governo pôde contar com a votação de todo este colégio.
O partido
conservador aqui tem o primeiro elemento poderoso de força ─ a opinião pública – que em todos os
tempos, lhe há dado o conceito de que goza, o prestigio e a veneração de que se
faz credor.
Esse elemento de
força invencível, tem o seu sólido e indestrutível fundamento na santidade dos
princípios, no comedimento e moderação de seus atos, no respeito e acatamento
aos direitos de seus adversários. E com tais condições de ser, de existência e
vigor poder-se-á mais nunca vencê-lo, destrui-lo, aniquila-lo na esfera da lei,
nos limites da honestidade pública? Não é possível.
A oposição
fraccionada pelos seus desconchavos, pelo torpe e reprovado sistema de
governar, procurou o povo e apelou para o seu auxilio, mas o povo virou-lhe as
costas e veio ostentar sua liberdade ao lado do partido conservador.
Foi assim, que ela
no seu último e desesperado recurso, não podendo frustrar se ao anátema geral,
quis pôr em prática as doutrinas anárquicas ensinadas na célebre circular da comissão
central do partido nazareno dessa capital.
Pois bem, um
pequeno grupo de amarelos, capitaneados por uma desgraçada piranha, bicho sem
nome e sem valor algum de estimação, tentou profanar a urna e para este fim concitou
os fragmentos do partido, procurando também invadir parte da guarda que velava
sobre ela. Denunciado logo este plano por um dos seus papo rotos, mediante seis
vinténs de misturada, o dr. Raymundo Antonio d’ Almeida acautelou tudo,
zelando com tino e energia a inviolabilidade do santo depósito.
Correndo a
noticia desta tentativa, uma multidão compacta e cheia de nobre entusiasmo,
voou ao lugar do perigo e ali esteve espontaneamente, até amanhecer do dia 6.
Nas noites
antecedentes de 2, 3 e 4 o tenente Manoel Nogueira Borges da Fonseca a frente da
música do batalhão percorreu as ruas desta cidade, acompanhado de amigos e curiosos
em número maior de 500 pessoas. O entusiasmo do povo crescia
extraordinariamente, máxime quando o tenente Nogueira repetia vivas ao exmo.
Presidente da Província, porque à este grande vulto, rendemos a mais sincera
gratidão, pela imparcialidade e justiça com que tem decidido os negócios de Óbidos.
A musica excedeu-se
no toque de belas peças, ensaiadas de propósito para distrair as massas e ao
Maestro da terra, o apreciável João Hypolito agradecemos os esforços que fez
com seus companheiros para nos agradar.
Enquanto nós conquistávamos
a benevolência popular, no seio de nossos arraiais, onde, encontravam a abundância
e o carinho, a oposição frenética e despeitada por ver-se irremediavelmente
derrotada, partia com seus próprios votantes, cujo número cada vez mais se limitara.
Durante o processo
eleitoral agitaram-se em torno da mesa algumas discussões, mais ou menos calorosas,
mas não queremos dizer, que a ordem pública fosse alterada, como fazia espalhar
a oposição e graças a polícia sob a direção hábil, inteligente e ativa do nosso
prestimoso amigo o predito delegado dr. Almeida, nenhum caxação [sic] se deu,
nenhum canelão se fez sentir nesses dias de verdadeira festa popular.
A escolha
eleitoral recaiu sobre os seguintes senhores: Major José da Gama Bentes, dr. Raymundo
Antonio de Almeida, Firmino Antonio Figueira, capitão Francisco Rodrigues da
Gama Bentes, capitão Joaquim Manoel Bentes, capitão Joaquim Rodrigues Bentes,
tenente coronel Matheus Felix Marinho, tenente Manoel Nogueira Borges da
Fonseca, Francisco José Machado Angico, Manoel Olímpio Trigoso de Almeida, Olympio
da Gama Bentes, Matheus de Pina Printes, Leonel da Silva Fernandes, Vicente
José de Almeida, João Antônio Nunes, alferes Vicente Emiliano de Almeida, Carlos
Ferreira Fleury e Felippe Joaquim da Costa Guimarães.
Os eleitores de
Faro são os senhores: major Manoel Joaquim Bentes, José Mariano da Costa,
capitão Henrique de Souza Guimarães, negociante Camillo de Lélis Pereira de
Barros, capitão Thomaz de Oliveira Pantoja e José Vicente de Almeida. E por
Juruty foi eleito o Sr. Raymundo Thomé de Almeida. ─ Continua recluso na gaiola do forte
desta cidade o Sr. Raymundo Ausier, o qual breve subirá ao tribunal do Júri
para responder pelo crime de estelionato porque foi preso. Nos aguardamos para
esse dia e de coração desejamos, que este moço se desembarace e se reabilite
para a sociedade.
Se esta missiva for
aceita e publicada, voltaremos ainda ao seu muito conceituado Jornal para
entretermos correspondência regular.
Au revoir.
O espectador.
NOTA: Publicado
no Jornal do Pará, edição 043, de 1867.
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