segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Uma interessante carta sobre a situação política em Óbidos – 1867

Óbidos 10 de fevereiro de 1867.
Escusamos indicar a razão de ser desta missiva, a primeira que enviamos daqui, durante o ano que se desliza.
Ela tem por fim, reatando o fio de nossa correspondência, esculturar com lealdade os fatos mais notáveis e próximos a esta quinzena.
A eleição, que por via de regra, é geralmente o assunto forçado de todas as conversações, nos ocupará de preferência a qualquer outro acontecimento.
Nesta cidade, como em Faro e Juruty, obtivemos o mais completo triunfo no pleito eleitoral e o governo pôde contar com a votação de todo este colégio.

O partido conservador aqui tem o primeiro elemento poderoso de força a opinião pública – que em todos os tempos, lhe há dado o conceito de que goza, o prestigio e a veneração de que se faz credor.
Esse elemento de força invencível, tem o seu sólido e indestrutível fundamento na santidade dos princípios, no comedimento e moderação de seus atos, no respeito e acatamento aos direitos de seus adversários. E com tais condições de ser, de existência e vigor poder-se-á mais nunca vencê-lo, destrui-lo, aniquila-lo na esfera da lei, nos limites da honestidade pública? Não é possível.
A oposição fraccionada pelos seus desconchavos, pelo torpe e reprovado sistema de governar, procurou o povo e apelou para o seu auxilio, mas o povo virou-lhe as costas e veio ostentar sua liberdade ao lado do partido conservador.
Foi assim, que ela no seu último e desesperado recurso, não podendo frustrar se ao anátema geral, quis pôr em prática as doutrinas anárquicas ensinadas na célebre circular da comissão central do partido nazareno dessa capital.
Pois bem, um pequeno grupo de amarelos, capitaneados por uma desgraçada piranha, bicho sem nome e sem valor algum de estimação, tentou profanar a urna e para este fim concitou os fragmentos do partido, procurando também invadir parte da guarda que velava sobre ela. Denunciado logo este plano por um dos seus papo rotos, mediante seis vinténs de misturada, o dr. Raymundo Antonio d’ Almeida acautelou tudo, zelando com tino e energia a inviolabilidade do santo depósito.
Correndo a noticia desta tentativa, uma multidão compacta e cheia de nobre entusiasmo, voou ao lugar do perigo e ali esteve espontaneamente, até amanhecer do dia 6.
Nas noites antecedentes de 2, 3 e 4 o tenente Manoel Nogueira Borges da Fonseca a frente da música do batalhão percorreu as ruas desta cidade, acompanhado de amigos e curiosos em número maior de 500 pessoas. O entusiasmo do povo crescia extraordinariamente, máxime quando o tenente Nogueira repetia vivas ao exmo. Presidente da Província, porque à este grande vulto, rendemos a mais sincera gratidão, pela imparcialidade e justiça com que tem decidido os negócios de Óbidos.
A musica excedeu-se no toque de belas peças, ensaiadas de propósito para distrair as massas e ao Maestro da terra, o apreciável João Hypolito agradecemos os esforços que fez com seus companheiros para nos agradar.
Enquanto nós conquistávamos a benevolência popular, no seio de nossos arraiais, onde, encontravam a abundância e o carinho, a oposição frenética e despeitada por ver-se irremediavelmente derrotada, partia com seus próprios votantes, cujo número cada vez mais se limitara.
Durante o processo eleitoral agitaram-se em torno da mesa algumas discussões, mais ou menos calorosas, mas não queremos dizer, que a ordem pública fosse alterada, como fazia espalhar a oposição e graças a polícia sob a direção hábil, inteligente e ativa do nosso prestimoso amigo o predito delegado dr. Almeida, nenhum caxação [sic] se deu, nenhum canelão se fez sentir nesses dias de verdadeira festa popular.
A escolha eleitoral recaiu sobre os seguintes senhores: Major José da Gama Bentes, dr. Raymundo Antonio de Almeida, Firmino Antonio Figueira, capitão Francisco Rodrigues da Gama Bentes, capitão Joaquim Manoel Bentes, capitão Joaquim Rodrigues Bentes, tenente coronel Matheus Felix Marinho, tenente Manoel Nogueira Borges da Fonseca, Francisco José Machado Angico, Manoel Olímpio Trigoso de Almeida, Olympio da Gama Bentes, Matheus de Pina Printes, Leonel da Silva Fernandes, Vicente José de Almeida, João Antônio Nunes, alferes Vicente Emiliano de Almeida, Carlos Ferreira Fleury e Felippe Joaquim da Costa Guimarães.
Os eleitores de Faro são os senhores: major Manoel Joaquim Bentes, José Mariano da Costa, capitão Henrique de Souza Guimarães, negociante Camillo de Lélis Pereira de Barros, capitão Thomaz de Oliveira Pantoja e José Vicente de Almeida. E por Juruty foi eleito o Sr. Raymundo Thomé de Almeida. ­­­­­­­ Continua recluso na gaiola do forte desta cidade o Sr. Raymundo Ausier, o qual breve subirá ao tribunal do Júri para responder pelo crime de estelionato porque foi preso. Nos aguardamos para esse dia e de coração desejamos, que este moço se desembarace e se reabilite para a sociedade.
Se esta missiva for aceita e publicada, voltaremos ainda ao seu muito conceituado Jornal para entretermos correspondência regular.
Au revoir.
O espectador.  

NOTA: Publicado no Jornal do Pará, edição 043, de 1867.


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