quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A recepção da Comissão dos trabalhos da Estrada de Alenquer – 1892

Da Gazeta de Alenquer”, de sete do corrente, extraímos o seguinte:
A bordo dos paquetes “Lábrea” e “Conde d’Eu”, chegaram à 30 de julho e à 1º de agosto corrente, os membros da Comissão encarregada da abertura da grande estrada, que, partindo desta cidade, deve ir terminar nos Campos Gerais, pondo o nosso litoral em comunicação com essa zona privilegiada.
A hora adiantada da noite em que chegaram esses paquetes não permitiu que, no ato do desembarque do ilustre Sr. Dr. Couto e seus dignos companheiros, lhes fosse feita a demonstração de público apreço, que estava planejada, e que, como fora determinado no programa, ficara adiada para a tarde do dia da chegada do “Conde d’Eu” à 1º.

Desde a antevéspera da entrada dos paquetes, em que se esperava a Comissão, foram embandeiradas a rua Primeiro de Maio à começar no Paço Municipal, toda a Rua da República,  até o porto de desembarque, em frente a Travessa da Alegria.
Apesar de noite, quando chegaram os paquetes, afluiu a eles grande número de cidadãos de todas as classes sociais.
Durante o dia 1º, sentia-se na cidade um bem estar, um sintoma de  festa e de alegria em que se engolfa a alma da população diante dos grandes e momentosos acontecimentos.
À tarde, fecharam quase todos os estabelecimentos comerciais, sendo muito notados os que se conservaram abertos, e começou a afluir cidadão ao Paço Municipal, em cuja porta tocava a banda do Atheneu Alenquerense. Às 7 horas da noite, reunidos ali senhoras e cavalheiros, muito povo,  saiu uma comissão que foi buscar à casa os ilustres srs. drs. Couto e seus companheiros, que fizeram sua entrada no Paço às 7 e um quarto.
O sr. capitão Intendente Municipal convidou para presidir a reunião o nosso chefe senador dr. Fulgêncio Simões, que, acedendo ao convite sentou se à cabeceira da mesa tendo a seu lado o mesmo Sr. Intendente e o Sr. dr. Eloy Simões, delegado pelo Conselho Municipal para, em nome do município, saudar a Comissão das Guianas, o que fez com eloquência e patriotismo. Falou em seguida o Sr. dr. Accioly Lins, juiz de direito da comarca, que, com entusiasmo e em nome dos seus jurisdicionados, também saudou a Comissão, hipotecando-lhe seu concurso.
A esses oradores seguiu-se o nosso ilustre amigo Sr. dr. Couto, digno chefe da Comissão, que em frases eloquentes agradeceu aquela demonstração de apreço e apoio que a mesma Comissão recebia, prova inconcussa de que a sociedade alenquerense se achava identificada para laborar pelo progresso e compreendia perfeitamente o alcance social e econômico do serviço que se vai realizar.
Após estes discursos o nosso chefe senador dr. Fulgêncio encerrou a reunião, declarando que aquela modesta festa tinha cunho especial era sincera; que agradecendo as referências  que os dois últimos oradores fizeram de seus esforços em prol da ideia que ia realizar-se, tinha a dizer que não havia senão cumprido o seu dever de alenquerense  e de brasileiro, porque a estrada para os Campos Gerais, nos nossos limites com as Guianas, não era uma simples aspiração local, era uma providência reclamada pelo interesse público era uma questão de interesse nacional.
Os oradores, que foram sempre aplaudidos no correr dos discursos, terminavam erguendo vivas, calorosamente correspondidos, ao Município de Alenquer, ao patriótico Governador do Estado, à Comissão das Guianas.
Servido que foi modesto copo d’agua, saiu-se em passeata pelas ruas da cidade. Em frente à escola regida pela professora normalista d. Domingas Martins, falou o Sr. professor Raymundo Vianna, que em nome do professorado saudou a Comissão, erguendo lhe entusiásticos vivas. Respondeu-lhe o digno chefe da Comissão dr. Couto, saudando à mocidade alenquerense nas pessoas dos seus inteligentes e dedicados preceptores.
Ao chegar em frente à nossa oficina, falou de uma das janelas o artista Manoel Amancio, saudando e erguendo vivas à Comissão. Agradeceu-lhe o dr. Couto, que entusiasticamente saudou a imprensa, particularmente esta modesta folha, que levantou o primeiro brado e tem se mantido no campo da luta pelo grande melhoramento que se vae realizar. Respondeu-lhe o nosso chefe de redação senador dr. Fulgêncio, que relembrou os dez anos de luta incessante, em que esta “Gazeta” tendo por bandeira o “cogita et labora”, pelejou pela ideia hoje vencedora e terminou saudando vivamente a Comissão e concitando a população a unir-se para secundar o grande empreendimento que há de levar esta terra ao mais esplendoroso destino.
Continuando a passeata, percorreu mais algumas ruas e dissolveu se no Paço Municipal, onde em alegre convívio dançou-se até a meia noite.
Essa manifestação de que foi alvo a escolhida Comissão, de nota que a sociedade alenquerense, compreendendo o alto alcance do serviço, muito confia no ilustre dr. Couto e seus dignos companheiros.
Hurrhah!

NOTA: Publicado no Jornal Correio Paraense em sua edição 115 de 1892.

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