Em dramática e
desesperadora situação estão vivendo milhares de pessoas residentes às margens
dos inúmeros cursos d’água que cortam toda a área do Baixo Amazonas, já agora
transformada, muito embora faltando ainda cerca de um mês para o término da
estação das chuvas, num gigantesco lago natural.
Sobrevivendo a
esse verdadeiro martírio estão as populações ribeirinhas de Santarém, Alenquer,
Óbidos, Oriximiná, Monte Alegre, Prainha, Juruti e outros, onde a violência das
águas do Amazonas e seus afluentes, subindo de maneira fora do normal,
neutraliza todas as ações preventivas colocadas em prática pelos organismos
oficiais e surpreendendo os próprios caboclos, profundos conhecedores dos
mistérios que influem no comportamento das águas, elemento marcante da própria
natureza amazônica e, particularmente, desta região.
Em Óbidos, por
exemplo, a situação é, a esta altura, desesperadora sob todos os aspectos. É
opinião corrente, expressada inclusive por muita gente que ali nasceu e viveu
até hoje, e tendo, portanto, experiências acumuladas há 70 ou 80 anos, que a
enchente deste ano é, sem sombra de dúvida, a maior deste século.
Simples igarapés,
em toda a região, estão transformados em verdadeiros rios. Pequenas áreas
alagáveis transformaram-se em imensas lagoas, permitindo a navegação em toda a
sua extensão, inclusive de embarcações de médio porte.
Filas de casas,
ou do que restam delas, anteriormente situadas às margens dos rios e igarapés,
em perfeita segurança, podem ser vistas hoje apenas com parte de seus telhados
a apontar na superfície das águas. O mesmo acontece com os currais marombados
para a guarda do gado, muitos dos quais utilizados com absoluta normalidade no
ano passado, e que já estão quase totalmente submersos.
NA CIDADE
Nas cidades da
região, como Santarém, Alenquer, Óbidos, Oriximiná, Monte Alegre e outras, a
situação, embora menos grave pelos seus efeitos imediatos, traz uma crescente
preocupação pelos distúrbios que acarretam e acarretarão, no contexto
socioeconômico e mesmo para a estrutura administrativa.
NOTA: Publicado
no jornal Alto Madeira de 22 de maio de 1976.
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