Cerâmicas
indígenas encontradas na cidade de Santarém e enviadas para o Museu de
Goteborgs, na Suécia, são consideradas preciosas relíquias e confirmam as
afinidades, até então não comprovadas, da cultura dos primitivos habitantes da
América Central com a dos povoadores indígenas da Amazônia.
Uma cidade
paraense, Santarém, acaba de fornecer um valiosíssimo contingente para as
investigações cientificas sobre as relações de cultura dos primitivos povos da
América Central com os indígenas da Amazônia. As pesquisas a este respeito
datam de muito tempo, estando nelas empenhadas sábios europeus, entre os quais
o maio etnólogo dos que se tem especializado sobre os primitivos habitantes da
América do Sul, Esland Nordenchiald, diretor do Museu de Goteborgs, na Suécia.
Sábios de vários países admitiam aquela hipótese, que passou a ser agora uma
realidade pelos estudos feitos a respeito das cerâmicas encontradas na cidade
tapajônica.
Devemos essa
ilustre descoberta a um ilustre cientista, a personificação da modéstia, que
passa quase despercebido entre nós, apesar dos relevantes serviços que tem
prestado ao nosso país, notadamente à Amazônia, a quando do serviço de proteção
aos índios brasileiros, onde o senhor Curt Nimuendajú serviu como auxiliar.
Entre outros serviços de valor, o sr. Curt foi o primeiro mensageiro da
civilização que logrou entrar em contato com a tribo Parintintin, conhecida
pela sua resistência às solicitações civilizadoras. A sua permanência no seio
daqueles selvagens é uma verdadeira odisseia. O sr. Curt publicou a respeito um
trabalho interessante ilustrado com gravuras. O sr. Curt Nimuendajú, nas suas
constantes peregrinações científicas pelo interior do Pará e do Amazonas,
encontrou na cidade de Santarém, do Baixo Amazonas, no correr do ano passado
(1924), variedades de cerâmicas, que julgou preciosas, pelo que resolveu
enviá-las para a Suécia, a fim de submete-las ali, onde se estuda a cultura
indígena americana com proficiência, a pesquisas e observações.
Não tardou o
resultado: é assim que as autoridades no assunto consideram de grande valor
científico aqueles objetos, o que se evidencia pela divulgação que esta
descoberta teve nos círculos europeus.
O Jornal sueco
“Gotborgs Handels Och Sjorarts-Tidining” estampou as fotos-gravuras das
cerâmicas procedentes de Santarém debaixo de títulos e subtítulos, que bem
revelam a sua preciosidade e o valor que o Museu de Goteborgs deu às cerâmicas
que lá figuram como elementos para maiores explorações.
Incontestavelmente,
de meras conjecturas que eram, até então, as relações com os indígenas da
América Central com os da Amazônia, passaram a ser positivadas por esta
descoberta que os sábios suecos consideram de muita importância para a
conclusão de suas pesquisas.
Pena é que um
homem do valor do sr. Curt Nimuendajú não seja aproveitado pelos nossos
governos para enriquecer os museus nacionais com suas riquezas científicas. Ao
passo que na velha Europa não medem sacrifícios para o enriquecimento dos seus
museus, no Brasil nós ficamos indiferentes, não conservando mesmo o que
possuímos, como se evidencia pelo descaso a que vem sendo relegado o Museu
Goeldi. Se não fora a dedicação carinhosa de alguns funcionários do nosso
Museu, talvez o que por lá existe já tivesse sido destruído.
O que acabamos
de noticiar através das informações do jornal sueco que nos foi mostrado
gentilmente, não deixa de ser um consolo para nós paraenses.
NOTA: Publicado
no jornal A CIDADE de 21 de março de 1925.
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