sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A valiosa descoberta da cerâmica tapajoara por Curt Nimuendajú


Cerâmicas indígenas encontradas na cidade de Santarém e enviadas para o Museu de Goteborgs, na Suécia, são consideradas preciosas relíquias e confirmam as afinidades, até então não comprovadas, da cultura dos primitivos habitantes da América Central com a dos povoadores indígenas da Amazônia.
Uma cidade paraense, Santarém, acaba de fornecer um valiosíssimo contingente para as investigações cientificas sobre as relações de cultura dos primitivos povos da América Central com os indígenas da Amazônia. As pesquisas a este respeito datam de muito tempo, estando nelas empenhadas sábios europeus, entre os quais o maio etnólogo dos que se tem especializado sobre os primitivos habitantes da América do Sul, Esland Nordenchiald, diretor do Museu de Goteborgs, na Suécia. Sábios de vários países admitiam aquela hipótese, que passou a ser agora uma realidade pelos estudos feitos a respeito das cerâmicas encontradas na cidade tapajônica.

Devemos essa ilustre descoberta a um ilustre cientista, a personificação da modéstia, que passa quase despercebido entre nós, apesar dos relevantes serviços que tem prestado ao nosso país, notadamente à Amazônia, a quando do serviço de proteção aos índios brasileiros, onde o senhor Curt Nimuendajú serviu como auxiliar. Entre outros serviços de valor, o sr. Curt foi o primeiro mensageiro da civilização que logrou entrar em contato com a tribo Parintintin, conhecida pela sua resistência às solicitações civilizadoras. A sua permanência no seio daqueles selvagens é uma verdadeira odisseia. O sr. Curt publicou a respeito um trabalho interessante ilustrado com gravuras. O sr. Curt Nimuendajú, nas suas constantes peregrinações científicas pelo interior do Pará e do Amazonas, encontrou na cidade de Santarém, do Baixo Amazonas, no correr do ano passado (1924), variedades de cerâmicas, que julgou preciosas, pelo que resolveu enviá-las para a Suécia, a fim de submete-las ali, onde se estuda a cultura indígena americana com proficiência, a pesquisas e observações.
Não tardou o resultado: é assim que as autoridades no assunto consideram de grande valor científico aqueles objetos, o que se evidencia pela divulgação que esta descoberta teve nos círculos europeus.
O Jornal sueco “Gotborgs Handels Och Sjorarts-Tidining” estampou as fotos-gravuras das cerâmicas procedentes de Santarém debaixo de títulos e subtítulos, que bem revelam a sua preciosidade e o valor que o Museu de Goteborgs deu às cerâmicas que lá figuram como elementos para maiores explorações.
Incontestavelmente, de meras conjecturas que eram, até então, as relações com os indígenas da América Central com os da Amazônia, passaram a ser positivadas por esta descoberta que os sábios suecos consideram de muita importância para a conclusão de suas pesquisas.
Pena é que um homem do valor do sr. Curt Nimuendajú não seja aproveitado pelos nossos governos para enriquecer os museus nacionais com suas riquezas científicas. Ao passo que na velha Europa não medem sacrifícios para o enriquecimento dos seus museus, no Brasil nós ficamos indiferentes, não conservando mesmo o que possuímos, como se evidencia pelo descaso a que vem sendo relegado o Museu Goeldi. Se não fora a dedicação carinhosa de alguns funcionários do nosso Museu, talvez o que por lá existe já tivesse sido destruído.
O que acabamos de noticiar através das informações do jornal sueco que nos foi mostrado gentilmente, não deixa de ser um consolo para nós paraenses.


NOTA: Publicado no jornal A CIDADE de 21 de março de 1925.

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