Com a devida
vênia, transcrevemos do “Correio do Pará”, o belíssimo artigo que, sob o título
“Dorme, amigo!”... publicou o ilustrado desembargador Manoel Buarque:
Causou profunda
consternação a todos que se interessam pela preponderância do Pará, no norte do
país do Cruzeiro, a morte do dr. Rodrigues dos Santos, ultimamente ocorrida em
Paris, onde foi buscar alívio à enfermidade terrível que lhe minava a
existência.
O paraense
ilustre, que ora desaparece do cenário do mundo, era estimado de todos que o
conheciam, pela simplicidade fidalga de seus tratos; respeitado, pela
inquebrantabilidade de suas ideias políticas; digno de veneração pública, pela
honestidade com que desempenhava os cargos que lhe eram confiados; e querido do
povo, pelo desinteresse com que exercia a nobre profissão de médico, que
transformava em balsamo consolador para suavizar as dores do pobre.
Quando a onda
revolucionária rugiu, impetuosamente, na planície amazônica, contra os poderes
legalmente constituídos, Rodrigues dos Santos foi deposto da Intendência de
Santarém, cujos altos destinos dirigia e, preso, ameaçado de morte, tratado
cruelmente como prisioneiro de guerra, não mentiu à República!
Ao assumir o dr.
Dionísio Bentes o governo do Estado, querendo se cercar de pessoas
respeitáveis, para cumprir, à risca, o patriótico programa político
administrativo que traçara, com a alta competência e respeitável honradez que
todos reconhecem no preclaro Governador do Pará, foi Rodrigues dos Santos
nomeado Intendente de Belém. Não cabe, nos estreitos limites desta crônica de
saudades, dizer o que foi o ilustre paraense, no exercício de tão alto cargo
que lhe fora confiado; limito-me a repetir o que todos dizem: Deixou rico o
município que encontrou mendigo! E fê-lo sem espalhafato, sem acusações
acintosas e irritantes contra seus antecessores, querendo que na balança da
justiça da história, fosse tão somente pesada a sua responsabilidade de
governador da Metrópole da Amazônia.
Via-se, nas suas
faces, impresso e cunho do caráter do homem trabalhador, a quem o cansaço, a
fadiga, tirava-lhe a expansão das alegrias d’alma, sem diminuir-lhe a exatidão
completa do cumprimento dos deveres que lhe impunham a posição eminente em que
se achava. Somente uma ideia lhe preocupava o espírito: Ser útil ao grande
Estado que lhe viu nascer! E conseguiu, afinal, o que desejava – entregando, ao
seu digno sucessor, Belém palpitando de vida e de prosperidade, deixando ao
glorioso Partido Republicano Federal, em cujas fileiras militava, uma larga
série de assinalados serviços; ao Pará, um ensinamento público – do quanto pode
um homem de boa vontade fazer em prol da felicidade dos seus concidadãos: e ao
Brasil inteiro, a declaração solene feita aos poderosos Estados do Sul de que
na Amazônia não há somente majestade e opulência na natureza, possui filhos
capazes de exercer os mais elevados da República!
Dorme, amigo, o
sono dos justos! O Cristo que te assistiu nos últimos instantes da tua vida, e
a quem recebestes com Viático, te levará, glorioso, a Jerusalém Celeste, onde a
virtude brilha; e resplandecem, como astros luminosos, aqueles que se
sacrificaram pelo amor da Pátria e morreram à sombra divinal da Cruz!
NOTA: Publicado
no jornal A Cidade de 11 de dezembro de 1926.
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