terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Sobre as missões indígenas no Rio Tapajós – 1849


Missaõ do Tapajós ou Rio Preto. Está confiada esta missaõ ao Religiozo Capuchinho Fr. Egidio de Gavezio. Comprehende ella 3 Aldêas indios Mondurucús, a saber:
Aldêa de Santa Cruz. Situada a 4 dias de viagem da Cidade de Santarem. Contem 47 cazas cobertas de palha, e paredes de barro. O ultimo recenceamento feito pelo missionario dêo 262 homens, e 245 mulheres, ao todo 507. Havia uma igreja nova em construcçaõ, coberta de telha, a que faltava o arco cruzeiro, e parede da frente. No dia 28 de Janeiro deste anno um incendio cazual a reduzio completamente a cinzas, bem como a igreja velha, e mais 5 cazas. Era um dia de festividade, os indios achavaõ-se embriagados, e presenciáraõ impassiveis este desastre, sem acudirem ao incendio, e alguns escapando-se para o matto; o missionario com muito risco pôde apenas salvar as imagens. No dia seguinte voltaraõ os indios submissos e arrependidos, protestando ao missionario que estavaõ promptos para levantar nova Igreja.

Aldêa do Cory. A 6 dias de viagem de Santarem. No centro da povoaçaõ só existem 12 cazas de palha, e uma igreja muito arruinada tambem coberta de palha. O recenceamento feito dêo 151 homens, e 148 mulheres. Ao todo 299. Saõ mais obedientes, e mais amigos do trabalho do que os de Santa Çruz, e cultivaõ varias espécies de lavoura, especialmente o fumo e a mandióca,
Aldêa do Ixituba. A 8 dias de viagem de Santarem. Tem algumas cazas de palha, e a igreja coberta de telha. O recenceamento deo 181 homens, e 162 mulheres; ao todo 343. Saõ os índios desta aldêa ainda mais indolentes que os de Santa Cruz, e quasi nada se applicaõ á lavoura.
Em geral os indios destas 3 aldêas, em suas reuniões festivaes entregaõ-se a excessos de embriaguez, e neste estado tornaõ-se momentaneamente insubordinados. Tambem pessôas estranhas vaõ frequentemente ás aldêas plantar a desmoralisaçaõ, seduzir e lezar os indios. Grande parte delles de ambos os sexos se acha fóra, a titulo de aggregados em serviço de particulares, que com elles tem sempre abertas contas leoninas, dando-lhes retalhos de más fazendas pelo quadruplo do que valem, e ao mesmo tempo taxando-lhes os serviços em diminutos valores, de modo que é sempre o indio quem deve; e por este titulo de credores perpetuos pertendem desconhecer a competência do missionario sobre os indios, e recusaõ entrega-los, o que saõ outras tantas cauzas de contrariedade para o augmento, tranquillidade, e bôa ordem dos aldeamentos.
Cumpre advertir, que esta mesma desmoralisaçaõ, seducçoes e traficancias se praticaõ naõ só nestas aldêas, mas em todos os pontos da Provincia, onde há indios ou aldêados, ou em suas malocas, e os principaes corruptôres dos indígenas saõ essas esquadrilhas de canôas de regatoës, mascates, ou quitandeiros dos rios, que os cruzaõ, e penetraõ por todas as partes, incutindo falsas idéas no animo dos indios, illudindo-os com embustes, suscitando-lhes terrores infundados, e dando-lhes máos conselhos para os afastar da obediencia, e aldeamento regular, appresentando-se como seus amigos, porém com ardiloso e perverso disignio de conservarem o exclusivo monopolio de suas relações commerciaes, á fim de os poderem lezar á vontade e impunemente, visto que os indios naõ tem claro conhecimento dos valores dos generos, que permutaõ.

NOTA: Texto extraído da Fala do Presidente da Província do Pará de 01 de outubro de 1849.

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