sábado, 14 de dezembro de 2019

Sobre a Estrada do Tapajós – 1863


Estrada do Tapajoz. No intuito de remover os obstáculos que muito concorreraõ para o enfraquecimento do interessante commercio que outr'ora se fazia entre Santarém e Cuiabá pelo rio Tapajoz, tive o pensamento de tentar uma communicaçaõ por terra, que evitando os tropeços, que offerecem as invenciveis cachoeiras daquelle rio a contar da denominada – Maranhaõsinho – em diante pozesse em contacto comnosco as fronteiras d'aquella provincia.
Tradições antigas davaõ noticia da vinda de habitantes d'aquella provincia em busca d'ouro em pontos que saõ hoje conhecidos.
Os indigenas pacificos que habitaõ no valle d'aquelle rio indicaõ tambem que acompanhando-se o rio Paraná-tinga que é um dos maiores affluentes do Tapajoz chega-se a campos onde existem habitações e bastante gado.

D'entre elles alguns ha que por mais de uma vez tem feito, segundo affirmaõ, aquelle trajecto para elles conhecido.
Colligindo, pois, e combinando as velhas tradições com as informações novamente obtidas, entendi, que deviamos tentar uma communicaçaõ desta ordem, que além de outras muitas vantagens, tem a de aproximar pontos distantes do mesmo paiz sem a dependencia do estrangeiro.
Neste proposito incumbi ao cidadaõ Antonio Gentil Augusto e Silva, de ir pessoalmente organisar os preparativos necessarios para esta empreza, procurando o concurso dos indios Mondurucús, que habitaõ terras por onde deverá passar o traçado das primeiras explorações.
Desempenhando aquella commissão com louvavel zelo e actividade, aquelle cidadaõ acaba de chegar trasendo a agradavel noticia de ter obtido a importante coadjuvação de dous Tuchauas Mondurucús de nomes Sauba-Caruato, e Dutiba-Boiben, das malocas do Apetury e Cabruá, os quaes ainda por sua vez indicarão outros Tuchauas da mesma Tribu como habeis práticos desse trajecto.
Vou, pois, mandar partir os exploradores convenientemente preparados, do Igarapé Pucú, braço da cachoeira Maranhãosinho que fica fronteiro á habitação de Silverio de Albuquerque, naõ só porque já d'ahi perto começaõ vastos campos, como porque o rio até ali é navegavel e ahi se encontra bom ancoradouro.
E d'ahi seguindo iraõ alcançar as cabeceiras do rio Jauaxim d'onde naõ fica longe a situaçaõ das malocas dos referidos Mondurucús que habitaõ campos, que, segundo eles mesmos affirmaõ, communicaõ pelo rio Paranátinga com terras, onde elles tem visto homens e gados, e que naõ podem ser outras terras senaõ as de Cuiabá.
O rio Paranátinga é o mesmo que vem lançar-se no Tapajoz.
Aguardemos o resultado desta nova empresa; e oxalá que se realisem os meus votos.

NOTA: Texto extraído do Relatório do Presidente da Província do Pará, dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque, em 01 de novembro de 1863.

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