Por Dr. Couto de
Magalhães
Em tempos idos
apareceu grávida a filha de um chefe selvagem, que residia nas imediações do
lugar em que está hoje a cidade de Santarém. O chefe quis punir no autor da
desonra de sua filha a ofensa que sofrera seu orgulho, e, para saber quem ele
era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante
dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que
nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la,
quando lhe apareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a
moça, porque ela efetivamente era inocente e não tinha tido relação com homem.
Passados os nove meses ela deu à luz uma menina lindíssima, e branca, causando
este último fato a surpresa, não só da tribo como das nações vizinhas, que
vieram visitar a criança para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança,
que teve o nome de Mani, e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de
um ano, sem ter adoecido, e sem dar mostras de dor.
Foi ela
enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se-a e regando-a a sepultura,
segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo brotou da cova uma planta
que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu,
floresceu e deu frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e
este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta.
A terra, afinal, fendeu-se; cavaram-na e julgaram reconhecer no fruto que
encontraram o corpo de Mani. Comeram-no e assim aprenderam a usar da mandioca.
NOTA: Publicado
na Revista da Exposição Antropológica Brasileira, edição 01, de 1882.
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