Santarém
Viveu Dias de Intranquilidade e Expectativas
“Nos primeiros dias da última semana, as
estações difusoras do Rio, transmitiram notícias de que dois oficiais da FAB
haviam fugido do Campo dos Afonsos num avião de treinamento avançado,
refugiando-se no aeroporto de Cachimbo, situado no seio da Selva, entre as
cabeceiras dos rios Xingu e Tapajós. Posteriormente outras notícias diziam que
os referidos oficiais fugitivos haviam ocupado também o aeroporto de
Jacareacanga no vizinho Município de Itaituba. Esses oficiais sediciosos eram o
Major Haroldo Veloso e o capitão Lameirão, ambos da FAB sendo o primeiro muito
conhecido em Santarém.
O comando da 1ª
Zona Aérea sediado em Belém fez seguir então para Jacareacanga um aparelho da
FAB conduzindo um destacamento sob o comando do Major Paulo Vitor e assistido
pelo Tte. Carlos Peti, com a missão de prender os oficiais rebeldes, levando-os
para Belém. Entretanto o Major Paulo Vitor e as praças do destacamento
aliaram-se aos sediciosos, com exceção do Tenente Carlos Petit que ficou então
como prisioneiro. Com essa adesão ficou o Major Haroldo de posse de mais uma
avião, mais armas e mais pessoal, e planejaram o assalto ao aeroporto de
Santarém, o que levaram a efeito na madrugada do dia 16 do corrente.
Nesse mesmo dia
os oficiais revoltosos desceram para a cidade de gip (sic) com metralhadoras em
punho e com pistolas à cinta indo ao edifício dos Correios e Telégrafos
retirando os cristais da aparelhagem radiotelegráfica o mesmo fazendo nas
estações da Panair e Loide Aéreo Nacional, impedindo que Santarém se
comunicasse com o exterior. Sempre empunhando suas armas o major Haroldo Veloso
e o capitão Lameirão visitaram a Capitania dos Portos, a Rádio Ypiranga e
outros locais. A população entrou em pânico, os boatos fervilharam e cerca de
um terço dos moradores da cidade retiraram-se para sítios e fazendas do
interior.
Corria pela
cidade o boato de que os oficiais rebeldes contavam com o apoio da Marinha e
que este era apenas o começo de uma revolução em grandes proporções que estaria
para rebentar no seio da Aeronáutica. Com o Correio e os Bancos fechados, o
nosso aeroporto interditado, a vida da cidade ficou reduzida a pequenos grupos
que pelos cantos comentavam cada qual dando palpites a seu modo quanto o
desfecho que teria o movimento rebelde cujo foco estava no aeroporto, já
aumentando com a participação de voluntários e com a aquisição de maior número
de armas, de vez que o major Veloso arrombando a sede do Tiro de Guerra,
carregou com o armamento e munição dali existentes. Indo a Belterra os oficiais
revolucionários apoderaram-se da estação transmissora da IAN obstruindo também
a pista de aterrissagem.
Aviões da FAB
sobrevoavam a cidade diariamente em reconhecimento, sem poderem pousar a pista
obstruída com tambores de gasolina. Nesse interim, as estações transmissoras
começaram a noticiar que uma poderosa expedição armada se aprestava para vir
expulsar os sediciosos de Santarém. Já a expedição se aproximava da cidade
quando na tarde de 22 um avião Catalina em voo rasante, metralhou o reduto dos
revoltosos no aeroporto, abalando profundamente o moral dos mesmos.
A FUGA:
Logo após a
façanha do Catalina desceu no aeroporto o Douglas dos sediosos que se achava em
reconhecimento trazendo a alarmante notícia que a expedição das forças legais
se aproximava. Estabelecido o pânico no seio dos rebeldes, empreenderam
imediatamente a fuga para o campo de Jacareacanga, levando os seus soldados e
todo o armamento inclusive armas e munições que haviam carregado da sede do
nosso Tiro de Guerra. E então os elementos aliciados que os auxiliaram azularam
para Belterra, caindo na mata.
A situação
modificou-se imediatamente porque o tenente Carlos Pety de Araújo que estava
preso por não ter querido aderir ao movimento assumiu o comando da guarnição da
FAB no aeroporto local. A tranquilidade e a confiança voltaram então ao seio da
população, enchendo-se as ruas de transeuntes, a alegria dominando todos os
espíritos antes tão sobressaltados pela incerteza dos trágicos acontecimentos
que poderiam acontecer.
E para a maior
satisfação da população atribulada, amanheceram no dia 24 fundeados em nosso
porto o vapor Presidente Vargas conduzindo 500 soldados e oficiais do Exército
e da Aeronáutica com copioso armamento pesado e os navios de guerra Cananéia e
Carioca que vieram escoltando o navio de transporte. Desembarcada parte da
tropa, foi eficientemente guarnecido o aeroporto, os bancos e outros pontos da
cidade, com soldados fortemente armados e municiados. Biplanos de caça da FAB
sobrevoaram a cidade em lindas evoluções.
A expedição
militar veio sob o comando do Brigadeiro Alves Cabral comandante da 1ª Zona
Aérea padrão de bravura e fidelidade aos princípios democráticos.
E como os chefes
revoltosos não mais se encontravam em Santarém, a expedição seguirá para
Jacareacanga a fim de captura-los, sendo este o escapo da força expedicionária:
Perseguir os rebeldes até sua prisão.
VÁRIAS:
Nos dias em que
os rebeldes dominaram Santarém, diversas patrulhas foram espalhadas por pontos
estrangeiros da cidade, como o Trapiche, a Serraria I. B. Sabá, etc. de onde
faziam disparos contra embarcações que demandavam nosso porto.
Felizmente não se
registraram desatinos nem desrespeito as famílias nem assaltos ao comércio por
parte dos sediosos. Tudo que compravam pagavam.
- X -
Sabe-se que vai
ser apurada em inquérito policial militar a participação do destacamento de
polícia sediada em Santarém, direta ou indiretamente, no movimento sedioso. O
talhador de carne Joacy Cota faz abertamente fortes acusações ao Delegado de
Polícia e seus soldados, de arbitrariedades sofridas por ele.
Do Deputado
Santino Sirotheau recebeu o Dr. Armando Nadler o seguinte telegrama: Belém –
Prefeito Armando Nadler – Santarém – Na pessoa prezado amigo qualidade chefe
município parabenizo povo nossa terra pela sua libertação domínio insurretos
maus brasileiros quando mais se faz necessário calma compreensão poder
presidente Juscelino executar patriótica ação seu governo pt Falta absoluta
comunicação impediu-me minha manifestação solidariedade contorto nossos
conterrâneos logo seja reestabelecida comunicação aérea viajarei para minha
querida Santarém pt abraços – SANTINO SIROTHEAU CORRÊA”.
NOTA:
Publicado originalmente no Jornal de Santarém, de 25 de fevereiro de 1956.
Acervo ICBS.
Eu fui um, que com minha família, saímos da cidade e fomos para o outro lado do rio Amazonas(Urucurituba) onde permanecemos até o fim da situação
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