terça-feira, 23 de junho de 2020

CENTENÁRIO DE RUY BARATA: Pensamentos do poeta!


Sobre o cristianismo:
“O cristianismo nas suas origens é uma espécie de socialismo utópico. A figura do Cristo aparece, na realidade, na aplicação aos pobres, aos deserdados, e não quando a Igreja se organiza e se torna uma instituição. Aí ela se torna o lado dos poderosos”.

Sobre sua passagem pelo Colégio Marista em Belém:
“Foi uma época difícil para a minha fé. Rezava-se compulsoriamente a maquinalmente, até para tomar banho”.

Amizades cristãs e materialistas:
“Foi Chico (Francisco Paulo Mendes) que me fez conhecer Jacques Maritain, Andre Mauriac, George Bernanos e, sobretudo, Leon Bloy, nomes da maior importância, na evolução do pensamento cristão. Com Dalcídio (Dalcídio Jurandir) li, pela primeira vez, o Manifesto Comunista”.


Sobre os intelectuais na “Guerra Fria”:
“Na União Soviética sofriam os intelectuais, esmagados pelo stalinismo; nos Estados Unidos, esmagados pelo macarthismo”.

Sobre sua ligação com as “alas populares”:
“Essa ala passou a ser a mais fundamental para mim. Eu tive que me refugiar nessa área mais popular. Era uma época em que um passava pelo outro e fingia que não se conhecia. A roda do Café Central passou a ser uma etapa na minha vida, não mais o definitivo”.

Sobre o amor pela literatura:
“A primeira pessoa que leu ‘Grandes Sertões: Veredas’, em Belém, fui eu. A segunda foi a Maria Silvia (mulher do Benedito Nunes). É verdade que hoje, a leitura não é mais minha principal atividade. A ligação com a literatura devo ao velho Garcia, pai do meu querido amigo, o compositor Laury Garcia. Dele recebíamos, com regularidade, catálogos, livros e revistas, vindos das principais livrarias da América, Inglaterra, França, Alemanha, Portugal, Espanha, México, Argentina e Chile. Nesse particular, o velho Garcia desempenhou um papel que a nossa universidade não consegue desempenhar. De grande importância, também, foi a livraria do Haroldo Maranhão, a Dom Quixote”.

Sobre as universidades:
“Toda Universidade é perdulária. Talentos como os de Chico Mendes e Daniel Coelho de Souza, ainda aposentados, deveriam ser aproveitados em cursos de extensão universitária, como fazem as principais universidades da Europa e da América, com aqueles homens de notório saber, como é o caso dos dois e de Machado Coelho”.

Sobre a ecologia e os “salvadores da pátria”:
“Estou cansado dos salvadores da pátria, tipo Collor de Mello e Sassá Mutema. Por isso mesmo, começo a ter medo da palavra ecologia. Ela é o novo narcótico, oferecido às multidões despolitizadas, ansiosas por soluções eficientes e milagrosas. Por trás de um aparente gesto de amor e generosidade, instala-se a usura e a cobiça, que sempre foram os principais inimigos da natureza amazônica”.

Sobre poetas e poesias:
“Quem pensar que poesia é mera inspiração estará terrivelmente equivocado. ‘Sou poeta porque conheço meu ofício’, disse Federico Garcia Lorca. Um poeta não pode conhecer o seu ofício se não tiver devassado a intimidade, vocabular e estética, de outros poetas. Daí porque, li e reli muitos poetas. Por exemplo: O ‘Pauvre Lelian’, que aparece em ‘Vinte e Sete Anos...’, outro não é, senão o poeta Paul Verlaine, assim tratado por seu amigo, o poeta Arthur Rimbaud. Aliás, neste mesmo poema, encontram-se referências a ‘L’aprés midi d’un Faune’, de Claude Debussy, e ‘The Rayen’, de Edgar Allan Poe”.


NOTA:  Imagem ilustrativa e pensamentos extraído do jornal “O Liberal” de 25 de junho de 1989.

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