quarta-feira, 24 de junho de 2020

CENTENÁRIO DE RUY BARATA: Vinte e sete anos quase vinte e oito


A silenciosa espera, a valsa, o ramalhete,
O jeito de sofrer, a fronte larga,
O coração fiel e inviolável.

Forte sou ainda que seja fraco
Entre as espécies reino soberano,
O drama situou-me entre vigílias
E o poema devasta mais que o aniversário.

Se dou é para tirania da beleza,
A poesia em mim cortou-me as pernas,
Asas não tenho e bem queria tê-las.
O Fauno adormecido vive ainda
E o corvo segreda: nunca mais.

Poemas e orações tenho segredo,
Palavras de doer guardo também,
Uma delas Ruy,
Outra Guilherme,
Maninha, céu, outrora, devaneio,
Heloisa já foi e não é mais.

O amigo fiel chama-se Chico,
O amigo infiel onde andará?
Mais ce que veux voir dans ce matin
C’est le marin sans bateau,
Le pauvre Lelian,
O poeta que amei e ainda amo,
O tendre voiux du Quartier Latin.

Geograficamente, o azul é a minha pátria
Politicamente, o amor é o meu governo.
E o sobrenatural a grande vocação.
E este jeito de amar que é quase escudo
(a timidez de amar embora ame)
E este riso feroz que é o meu demônio.

Porém forte sou ainda que seja fraco
(não passei junto a ti sem lágrimas na face?)
(não tomei tua mão sem comoção alguma?)
Mas nunca sou tão forte como agora
Quando digo ao poema: vai-te embora.

NOTA: Poesia do santareno Ruy Guilherme Paranatinga Barata, publicada no “Jornal de Letras”, edição de fevereiro e março de 1957.

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