A silenciosa
espera, a valsa, o ramalhete,
O jeito de
sofrer, a fronte larga,
O coração fiel e
inviolável.
Forte sou ainda
que seja fraco
Entre as espécies
reino soberano,
O drama
situou-me entre vigílias
E o poema
devasta mais que o aniversário.
Se dou é para
tirania da beleza,
A poesia em mim
cortou-me as pernas,
Asas não tenho e
bem queria tê-las.
O Fauno
adormecido vive ainda
E o corvo
segreda: nunca mais.
Poemas e orações
tenho segredo,
Palavras de doer
guardo também,
Uma delas Ruy,
Outra Guilherme,
Maninha, céu,
outrora, devaneio,
Heloisa já foi e
não é mais.
O amigo fiel
chama-se Chico,
O amigo infiel
onde andará?
Mais ce que veux
voir dans ce matin
C’est le marin
sans bateau,
Le pauvre
Lelian,
O poeta que amei
e ainda amo,
O tendre voiux
du Quartier Latin.
Geograficamente,
o azul é a minha pátria
Politicamente, o
amor é o meu governo.
E o sobrenatural
a grande vocação.
E este jeito de
amar que é quase escudo
(a timidez de
amar embora ame)
E este riso
feroz que é o meu demônio.
Porém forte sou ainda
que seja fraco
(não passei
junto a ti sem lágrimas na face?)
(não tomei tua
mão sem comoção alguma?)
Mas nunca sou
tão forte como agora
Quando digo ao
poema: vai-te embora.
NOTA: Poesia do santareno Ruy Guilherme Paranatinga Barata, publicada
no “Jornal de Letras”, edição de fevereiro e março de 1957.
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